Ponte Metálica: de cartão-postal tombado à necessidade urgente de manutenção; 85 anos da obra que ligou PI e MA


O patrimônio, inaugurado em dezembro de 1939, foi a primeira via construída sobre o Rio Parnaíba e uma inspeção do Conselho Regional de Engenharia do Piauí atestou a necessidade urgente de manutenção. Ponte Metálica: de cartão-postal tombado à necessidade urgente de manutenção; 85 anos da obra que ligou PI e MA
Divulgação
A Ponte Metálica João Luís Ferreira, um cartão-postal tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e que liga Teresina e Timon, está em situação que exige cuidados urgentes, segundo revelou inspeção do Conselho Regional de Agronomia e Engenharia do Piauí (Crea-PI) divulgada este mês.
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O monumento foi inaugurado em dezembro de 1939, após levar 17 anos para ser construído. Foi a primeira ponte construída sobre o Rio Parnaíba e se tornou reconhecida como um dos símbolos de Teresina, além de ter “possibilitado” a composição de uma música cantada por Luís Gonzaga.
A construção possui o mesmo tipo estético da ponte de Blumenau (SC), porém com uma estrutura diferente. Conforme o Iphan, sua construção foi feita com uma técnica utilizada no principal período da história do transporte ferroviário no Brasil (início do século XX).
Ponte Metálica João Luís Ferreira, que liga Teresina e Timon sobre o Rio Parnaíba
Divulgação/IBGE
Atualmente, a Ponte Metálica é uma das três pontes que ligam as cidades de Teresina e Timon. Segundo a Superintendência Municipal de Trânsito e Transportes do município maranhense, que controla o tráfego na ponte, cerca de 60 a 70 mil veículos passam pelo local diariamente.
Tombada como patrimônio cultural brasileiro em 2008, a ponte foi incluída no Livro do Tombo Histórico do Iphan, formado por bens móveis e imóveis existentes no Brasil e cuja conservação seja de interesse público por sua vinculação a fatos memoráveis da história do país.
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Conservação do monumento
Segundo o site do Iphan, o livro serve para melhorar a condução das ações do órgão. Por isso, o g1 procurou o instituto e o questionou sobre a atual situação da ponte. Em resposta, o Iphan afirmou que há um convênio de órgãos responsáveis pela conservação estrutural do monumento.
Segundo o órgão, esse convênio é formado pela Prefeitura de Timon (MA), pelo Departamento Nacional de Infraestrutura e Transporte (Dnit) e pela empresa Ferrovia Transnordestina Logística (FTL), que também foram procurados pelo g1.
Ponte Metálica: de cartão-postal tombado à necessidade urgente de manutenção; 85 anos da obra que ligou PI e MA
Divulgação
O Dnit negou que tenha responsabilidade sobre o monumento. A Prefeitura de Timon afirmou não ter conhecimento sobre o convênio celebrado no sentido de fazer a manutenção da ponte e que o que é feito há anos é a manutenção da parte viária de forma acordada entre o município e a FTL.
A administração municipal disse ainda que a manutenção estrutural não compete ao município. A FTL afirmou que a ponte permanece íntegra, segura e também não apresenta riscos.
A empresa informou ainda que, em 2021, a estrutura passou por reformas para recuperação do pavimento (veja a nota da FTL na íntegra ao final da reportagem).
Ministério Público Federal acompanha situação
Em reunião no início deste mês, o Ministério Público Federal (MPF) tratou sobre a necessidade de conservação, preservação e melhorias na estrutura da ponte.
Na ocasião, a superintendente do Iphan, Teresinha de Jesus Ferreira, relatou que desde 2018 o órgão realiza fiscalizações anuais no monumento e, por isso, há histórico extenso sobre a situação da ponte, com destaque para os problemas estruturais e a falta de manutenção adequada.
Entre os entraves e desafios em relação aos cuidados, a superintendente afirmou que a dificuldade está em identificar os responsáveis pela manutenção. Ela mencionou o convênio que reúne o Dnit, a FTL e a Prefeitura de Timon.
Contudo, segundo Teresinha, apenas a prefeitura tem tido interesse em manter a estrutura funcionando. A superintendente destacou ainda a necessidade de se renovar o convênio para definir as responsabilidades de cada instituição.
Teresinha citou os reparos nos trilhos, feitos pela FTL em 2020-2021, mas ressaltou que alguns problemas persistem, como buracos, corrosão e instalação elétrica precária.
A superintendente apontou também a capacidade da ponte para suportar o tráfego atual, informando que há risco nos aparelhos de apoio e lembrando que as passarelas laterais também estão em estado crítico.
Ao fim da reunião, o MPF ficou responsável por instaurar procedimento de acompanhamento específico sobre a ponte; analisar a possibilidade de ajuizar uma ação civil pública com obrigação de fazer em relação à manutenção da estrutura e, conjuntamente com o Iphan, trabalhar para atualizar o convênio de responsabilidades sobre a manutenção da ponte.
O Iphan comprometeu-se em enviar a documentação relacionada à ponte para o MPF e estabelecer uma rotina de comunicação com o órgão sobre as autuações e as fiscalizações realizadas. Não há, até o momento, nenhuma informação sobre quando serão feitos reparos e melhorias na ponte.
Na última quarta-feira (26), o monumento foi interditado pela Prefeitura de Timon para reparos na malha viária que, conforme imagens do vídeo divulgado pela prefeitura, estava desgastada, com risco de acidentes para os motoristas.
Ponte Metálica será interditada para reparos nesta quarta-feira (26)
Montagem g1
Ponte “possibilitou” canção cantada por Luiz Gonzaga
Em 1962, após a construção da ponte com a linha ferroviária em operação, o cantor Luiz Gonzaga, conhecido como Rei do Baião, lançou a música “De Teresina a São Luís”, de composição do maranhense João do Vale e da esposa de Luiz Gonzaga, Helena Gonzaga.
A música descreve a jornada física, através dos trilhos da transnordestina, da capital do Piauí à capital do Maranhão. Essa composição só foi possível após a construção da Ponte Metálica.
Luiz Gonzaga em fotos de arquivo
Reprodução/TV Globo
A música traz referências às cidades como Caxias e Codó, destacando elementos culturais locais como o folclore e o catimbó (uma religião afro-indígena), e menciona personalidades como Gonçalves Dias.
Essas menções localizam geograficamente a viagem, celebram a diversidade cultural do Nordeste brasileiro e fazendo da música um documento importante da identidade regional.
Nota da FTL
A Ferrovia Transnordestina Logística (FTL) esclarece que a ponte João Luís Ferreira, que liga os municípios de Teresina (PI) e Timon (MA), permanece íntegra e segura e não apresenta riscos. É importante destacar que, em 2021, a estrutura passou por reformas para recuperação do pavimento. Já há ações em curso para 2025 para reforma do tabuleiro (pista rodoferroviária) além da previsão de outras intervenções de manutenção. Por fim, a FTL reforça que a segurança é um compromisso inegociável para a empresa.
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