Putin negocia com Trump e isola Zelensky e europeus pelo fim da guerra na Ucrânia

A recente negociação direta entre Estados Unidos e Rússia sobre a guerra na Ucrânia evidencia o colapso da tentativa ocidental de isolar o governo de Vladimir Putin, segundo análise dos cientistas políticos José Victor Ferro, pesquisador do Observatório de Regionalismo (ODR), e Augusto Leal Rinaldi, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Em entrevista ao Portal Vermelho, ambos destacaram que a mudança na política externa americana sob Donald Trump, a fragilidade europeia e a astúcia russa redefiniram o equilíbrio geopolítico global.

Para Rinaldi, o primeiro sinal dessa transformação “é o do interesse por parte de Washington e Moscou de encerrar o conflito o quanto antes”. Segundo ele, para viabilizar um acordo, os Estados Unidos têm cedido em questões cruciais, como os territórios ocupados pela Rússia na Ucrânia, a exclusão de Kiev da OTAN e a falta de disposição norte-americana para continuar financiando a guerra.

A negociação direta, sem a participação dos principais aliados europeus, reflete uma mudança significativa no panorama geopolítico. Segundo o cientista político José Victor Ferro, pesquisador do Observatório de Regionalismo (ODR), essa nova configuração “seria impensável há dez anos atrás”.

A fragilidade europeia na nova ordem unipolar de Trump

O cientista político José Victor Ferro

O pesquisador destaca que, historicamente, os Estados Unidos sempre privilegiaram negociações conjuntas com seus aliados europeus, especialmente Alemanha, França e Reino Unido. Entretanto, esse padrão foi rompido, evidenciando a mudança na política externa americana. Ferro compara o cenário atual com as negociações de 2014, quando a Rússia interveio na Crimeia e as tratativas envolveram não apenas os EUA, mas também a Alemanha, sob Angela Merkel, e a França, liderada por François Hollande. Hoje, esse cenário é totalmente distinto, refletindo o novo pragmatismo geopolítico da administração Trump.

A Europa, que já vinha enfrentando dificuldades para manter uma resposta unificada à invasão russa, encontra-se ainda mais fragilizada sem o apoio total dos Estados Unidos. “A União Europeia está desunida e não tem condições de apoiar a resistência ucraniana sem a participação dos Estados Unidos, o que acaba por enfraquecer uma resposta contundente às pretensões russas no Leste europeu”, destaca Rinaldi.

Outro aspecto crucial é a postura unilateral do governo Trump, que age exclusivamente de acordo com os interesses nacionais norte-americanos, independentemente de alianças históricas. “As implicações disso para a correlação de força global é que a Europa se enfraquece sem seu maior aliado, criando brechas para que outras potências explorem os espaços abertos para avançar com seus interesses, em particular a Rússia e a China”, avalia Rinaldi.

Ferro explica que a estratégia americana sempre combinou “hard power” e “soft power” em um conceito de “smart power”. Contudo, Trump tem priorizado uma abordagem realista, que dá maior peso à força militar. “A Europa não é potência militar, então ele decidiu negociar de igual para igual com quem é potência militar, nesse caso a Rússia”, observa o cientista político.

A volta triunfal da Rússia

Essa mudança de perspectiva também reflete uma visão diferente das relações internacionais. Para Ferro, antes da gestão Trump, o Ocidente enxergava a Rússia como um “parceiro não tão confiável” e seu regime como “autocrático e completamente anti-ocidental”. No entanto, Trump tem buscado aproximar Moscou do Ocidente como forma de contrabalançar o poder chinês. Ele lembra que o ex-presidente americano tentou reintegrar a Rússia ao G8, do qual foi expulsa em 2014. Além disso, há uma relação pessoal entre Trump e Putin: “O Trump pensa que está tratando de igual com o Putin, mas o Putin consegue manejar muito bem o ego do Trump e justamente fazer que o Trump faça o que ele quer”.

Augusto Leal Rinaldi

Além disso, as negociações diretas entre Washington e Moscou evidenciam o fracasso da tentativa ocidental de isolar e enfraquecer a Rússia. “Até onde podemos ver os atuais termos da negociação, os russos estão prestes a realizar seu desejo de ver Kiev fora da OTAN e ainda continuar a ocupar quase 20% do território ucraniano”, ressalta Rinaldi.

Ferro é categórico: “A OTAN e a Europa fracassaram na tentativa de isolar a Rússia”. Segundo ele, a aliança transatlântica foi fragilizada, pois sua principal garantia sempre foi o apoio dos Estados Unidos. “A Europa já não é mais o aliado preferencial dos Estados Unidos do outro lado do Atlântico”, enfatiza. Essa mudança enfraquece a posição europeia, que “por anos evitou ganhar poder militar para se focar na sua política de integração econômica e de promoção dos valores democráticos”. Agora, sem a garantia militar americana, o continente se encontra vulnerável.

Zelensky e as promessas vazias

Enquanto isso, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky enfrenta um cenário cada vez mais adverso. “Já Zelensky vai se enfraquecendo cada vez mais, contando mais com apoio diplomático do que militar, o que me parece ser insuficiente num cenário de guerra”, conclui Rinaldi.

Ferro também chama atenção para o impacto dessa nova realidade na Ucrânia. O presidente Volodymyr Zelensky se torna um dos maiores perdedores dessa mudança estratégica. Durante o governo Biden, Kiev contava com armamentos a preços reduzidos e um forte financiamento militar americano. Agora, além de perder esse suporte, enfrenta ataques retóricos do próprio Trump, que recentemente o chamou de “ditador”, ao questionar sua permanência no poder após o término de seu mandato.

Diante desse novo contexto, a União Europeia se vê diante do desafio de redefinir sua estratégia de segurança e defesa sem a garantia incondicional de apoio dos Estados Unidos. O fracasso do isolamento da Rússia não apenas reposiciona Moscou no tabuleiro geopolítico, mas também evidencia a nova realidade de um mundo multipolar, onde os interesses das potências regionais desafiam as antigas alianças globais.

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