“Não pretendo ser um bispo de escrivaninha”, diz novo arcebispo de Vitória

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kadidja fernandes

Nomeado pelo papa Francisco para ficar à frente da Arquidiocese de Vitória, dom Ângelo Ademir Mezzari, de 67 anos, é empossado neste sábado (22), e a cerimônia conta a presença do cardeal de São Paulo, Dom Odilo Scherer. Na manhã desta sexta-feira (21), ele recebeu a imprensa na Residência Episcopal, na Praia do Canto, em Vitória.Sempre com um sorriso, dom Ângelo contou um pouco da sua trajetória e da sua nova missão. Serenidade, paz interior, equilíbrio, fé, união e diálogo foram algumas expressões citadas várias vezes por ele.Dom Ângelo também falou sobre a cerimônia de posse. O início está agendado para as 8h15, para os cumprimentos às autoridades civis locais na Praça da Catedral. Na sequência tem início a acolhida, a cerimônia de posse e a missa.Oficializada a posse, ele começa a dialogar com o clero (padres e diáconos), a visitar as paróquias e a conhecer a estrutura da Arquidiocese de Vitória. -A Tribuna Qual a expectativa para a cerimônia de posse? – Dom Ângelo Ademir Mezzari Vai ser um momento muito bonito. É um momento muito especial. Vamos viver isso com muita graça de Deus. É uma caminhada longa, a nossa vocação, a nossa missão, e como a gente diz: ‘onde a igreja nos envia a gente vai lá, pois a graça de Deus não vai faltar’.-A Tribuna O que os católicos podem esperar do senhor como arcebispo? – Dom Ângelo Ademir Mezzari A minha formação, a minha vida religiosa consagrada, as funções que eu exerci me permitiram ter uma experiência longa e bastante aberta, abriram meus horizontes. Morar no Brasil, morar fora, conhecer o mundo, me permitiu não só o conhecimento teológico, mas a ter uma visão bastante ampla daquela que é a missão da Igreja hoje no mundo, as realidades sociais, a formação e toda essa questão cultural, os desafios que a igreja tem. Também como característica pessoal sempre fui muito ligado ao trabalho pastoral. A minha experiência de formação foi nas favelas, na periferia de São Paulo. Eu tive uma fase da minha vida, além da formação teológica pastoral, em que trabalhei muito na área social da cidade de São Paulo. Então, eu venho com o coração muito aberto e acho que eu vim no lugar certo. O meu modo pessoal é muito de proximidade, de diálogo e de presença. Eu não sei ser nem padre, nem bispo sem contato. Eu espero aqui poder continuar sendo muito próximo do povo, das pessoas, das comunidades, como sempre fui. Eu acho que como pessoa eu venho como um discípulo missionário de Jesus Cristo. Eu cheguei aqui na quarta-feira e já estou instalado. Fui muito bem acolhido aqui. Já me sinto verdadeiramente em casa.-A Tribuna Como fica o coração de um missionário tendo que ter um trabalho mais burocrático que prende atrás de uma mesa também? – Dom Ângelo Ademir Mezzari É, mas eu lido bem com isso (risos), a gente sabe a história. Aqui, hoje, a Arquidiocese é muito bem organizada, ela é descentralizada. Hoje a gente tem que valorizar bem esses leigos e leigas profissionais que estão nas várias funções. Haverá dias de atendimento também da população, dos padres, das instituições, das autoridades. Eu pretendo não ser um bispo burocrático, nem um bispo de escrivaninha, não é o meu jeito, nunca foi e não vai ser. Eu vou trabalhar bem, vou lutar, trabalhar muito aqui também em casa. Eu vou me guiar para não perder o contato com o povo, com as comunidades, com os padres, com as instituições, estarei presente nos momentos que a gente é solicitado. Que Deus me dê saúde, que até agora está boa. Mas será muito tranquilo. A nossa congregação Rogacionista tem presença do Iraque. Nós temos padres originários do Iraque e quando eu era superior geral (Roma) e o território estava dominado pelo exercito islâmico os nossos padres foram perseguidos e expulsos. Eu fui lá no Iraque e tentei três vezes.-A Tribuna Como foi essa experiência? – Dom Ângelo Ademir Mezzari Na segunda vez eu fui expulso, fui preso no aeroporto de Erbil (Iraque). Na terceira vez, na Semana Santa, eu consegui entrar através da Turquia. Foi a Semana Santa mais importante que eu vivi. Eu vivi aqueles 10 dias no campo de refugiados cristãos. E uma das coisas mais belas que eu acho que é um exemplo para sociedade hoje é de como no sofrimento, na morte, na luta se mantêm a unidade e a comunhão. Lá, estavam várias igrejas, não só a católica, lá estavam outras pessoas e naquele campo de refugiados se vivia a vida naquela pobreza miserável, naquele calor de 50ºC, vivendo dentro daqueles contêineres e celebrando a Páscoa, celebrando a vida, celebrando o Domingo de Ramos, a Quinta-Feira. Eu participei do lava-pés de crianças, de refugiados. Na Sexta-Feira Santa, sábado e na Páscoa todos reunidos. Naquele sofrimento não faltou o cordeiro pascal nas casas para mais de 200 mil pessoas. Então, naquela experiência e outras, eu digo: nada é impossível na sociedade. Se houver fé, unidade, comunhão, é claro, a força da família, a força da cultura, a força do povo, é possível viver, celebrar. Eu dei só esse exemplo. Em todo lugar nós temos que unir forças dentro e fora da igreja e aquilo que é o mais importante em todas as igrejas, arquidioceses, que é dialogar. Então, vamos viver, vamos continuar o caminho tão bonito na Igreja da arquidiocese.-A Tribuna O senhor falou de serenidade e paz espiritual. De que forma é possível ser assim? – Dom Ângelo Ademir Mezzari Na fé e na presença da Igreja, que é mãe, nas boas amizades, boas relações, fraternidade. Vale a pena ter bons amigos, vale a pena ter uma família, bons pais, valorizar as coisas que a gente tem e buscar também, através da oração, de uma espiritualidade forte, essa segurança para que nos momentos de tribulações a gente tenha paz e serenidade. Não é fácil, mas é possível. Eu trago sempre uma imagem de Nossa Senhora do Equilíbrio que tem as mãos simbolizando a paz, os olhos fechados, que é a tua identidade e os pés descalços no chão. Maria foi assim, mesmo aos pés da cruz ela estava serena.Saiba maisOrigemNascido em 2 de abril de 1957, na localidade de Sanga do Engenho, município de Nova Veneza, atualmente Forquilhinha, Santa Catarina, dom Ângelo Ademir Mezzari é filho de Antônio Mezzari (já falecido) e Maria Etelvina Ronchi Mezzari, sendo o mais velho de sete irmãos.TrajetóriaEm 1969 ingressou no Seminário Rogacionista em Criciúma (SC). Em São Paulo, fez noviciado e a primeira profissão religiosa. Cursou Filosofia e Teologia na capital paulista e foi ordenado sacerdote no dia 22 de dezembro de 1984, em Forquilhinha. Após a ordenação, completou seus estudos fazendo o curso de Comunicação Social/Jornalismo no Paraná e Mestrado em Teologia Dogmática, em São Paulo.AtuaçõesNa Congregação Rogacionista foi formador, atuou no campo da pastoral vocacional, da assistência social, da educação e da comunicação. Foi conselheiro da Província Rogacionista São Lucas (Brasil, Argentina e Paraguai) por três mandatos, superior provincial por oito anos e superior geral, por seis anos, em Roma.Foi membro do Grupo de Assessoria Vocacional da CNBB e contribuiu na realização dos Congressos Vocacionais.Nomeação Foi nomeado pelo papa Francisco como bispo titular de Fiorentino e auxiliar da Arquidiocese de São Paulo em 2020. Atuou até o mês passado na Região Episcopal do Ipiranga.Foi nomeado arcebispo de Vitória em 30 de dezembro de 2024, pelo Papa. Atualmente é presidente da Comissão Episcopal para os Ministérios Ordenados e a Vida Consagrada.

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