“Se for provado, só tem uma saída: ser preso”, diz Lula sobre denúncias contra Bolsonaro

Mesmo reafirmando o legítimo direito à defesa, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse, nesta quinta-feira (20), que se forem provadas as graves acusações de tentativa de golpe por Jair Bolsonaro e seu primeiro escalão, bem como a trama para matar Lula, o vice Geraldo Alckmin e o ministro do STF, Alexandre de Moraes, os culpados devem ser condenados e cumprir suas respectivas penas.

“Se for provada a denúncia feita pelo procurador-geral da tentativa de golpe, da participação do ex-presidente e do primeiro escalão dele na tentativa de morte de um ministro da Suprema Corte, na tentativa de assassinato de um presidente da República e de um vice-presidente, é uma coisa extremamente grave”, salientou o presidente durante entrevista à rádio Tupi do Rio de Janeiro.

Lula completou dizendo: “Tenho certeza de que se for provado, só tem uma saída: ser preso, ele e quem participou dessa quadrilha que estava não tentando governar, mas tomar conta do país como se fosse uma propriedade privada. Obviamente, eles terão o direito de se defender”.

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Questionado sobre os movimentos que vêm sendo feitos por parlamentares bolsonaristas para aprovar uma anistia no Congresso para os crimes cometidos pelos golpistas, o presidente argumentou que quem pede anistia sem que tenha havido condenação está, na prática, condenando os acusados ou se auto-condenando, como no caso de Bolsonaro. “Quando o ex-presidente fica pedindo anistia, ele está provando que é culpado, que cometeu crime”, declarou.

Lula também afirmou que Bolsonaro age como se estivesse numa monarquia, ao empurrar a esposa e os filhos para a sua sucessão. “Ora, ele tem que se mancar, isso aqui é uma República democrática, tem eleição. Ele passou dois anos falando que a urna poderia ser falseada, que poderia enganar o povo, mas nunca questionou a eleição de um filho dele, nunca questionou a eleição que ele teve, só quando perde começa a colocar dúvida sobre os outros”.

Ao finalizar sua fala sobre o assunto, Lula enfatizou que “2025 tem de ser o ano em que a verdade tem de derrotar a mentira”.

Preço da comida, gastos do governo e Trump

Outro assunto tratado durante a entrevista foi o custo dos alimentos. “O preço vai baixar. Eu tenho certeza de que a gente vai conseguir fazer com que o preço volte aos padrões compatíveis ao poder aquisitivo do trabalhador”, disse Lula.

Ao mesmo tempo, ponderou que o Brasil vem atravessando momentos adversos do ponto de vista climático, especialmente no ano passado. “Tivemos muito sol, o maior calor da história deste país, muito fogo e em alguns lugares, muita chuva, como aconteceu no Rio Grande do Sul. Tudo isso interfere nos preços”.

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Lula reconheceu ainda o alto preço dos ovos, decorrente do aumento da compra do produto pelos Estados Unidos devido à crise causada naquele país pela gripe aviária. Mas, disse que a exportação dos alimentos produzidos em solo brasileiro não pode levar a aumentos para a população.

“Queremos conversar com os empresários porque queremos que eles exportem, mas não pode faltar para o povo brasileiro. Quando me disseram que o ovo estava custando R$ 40 a caixa com 30, achei um absurdo. Vamos ter de fazer uma reunião com os atacadistas para ver como trazer esses preços para baixo”, opinou.

Além disso, destacou que “estamos com a economia crescendo, com a inflação razoavelmente controlada, tivemos um déficit fiscal de 0,09%, quase zero, portanto, o nosso papel é fazer política para melhorar a vida do povo e para baratear o custo de vida para o povo. E podem ficar certos de que vamos atingir isso também”.

Ao ser falar a respeito das críticas do mercado sobre os gastos do governo, Lula foi enfático: “Quando eu vejo alguns setores, alguns especialistas, falarem de déficit fiscal, de gastos do governo, vejo que eles estão sendo irresponsáveis; possivelmente, queiram viver de especulação e não vamos permitir isso. Porque se tem alguém neste país que quer cuidar corretamente da economia, é o ministro Fernando Haddad; se tem alguém que quer cuidar do déficit fiscal zero, sou eu. Mas a gente não vai ser irresponsável de fazer o povo pobre se sacrificar, de prejudicar quem já é prejudicado historicamente”.

Lula também afirmou que em breve serão anunciadas três novas políticas de crédito voltadas aos pequenos e médios empreendedores e pequenos empresários que, segundo ele, “será a maior política de crédito já feita neste país. E vamos fazer porque queremos que este país cresça”.

O presidente também falou sobre a relação entre o Brasil e os Estados Unidos a partir das medidas de taxação recentemente tomadas por Donald Trump. “Os EUA são um parceiro importante para o Brasil; temos um déficit comercial de aproximadamente US$ 5 a 7 bilhões e temos uma relação de US$ 87 bilhões com os EUA, ou seja, é muito equilibrado o que a gente exporta e o que a gente compra. Então, não temos dependência dos EUA, como tivemos há 20, 30 anos”.

Lula voltou a afirmar que diante da taxação, o Brasil agirá com reciprocidade e salientou: “sinceramente, eu gostaria que o presidente Trump levasse em conta que é preciso respeitar a soberania de cada país porque isso significa fortalecer a democracia”.

Segurança pública

Durante a entrevista, o presidente também falou sobre políticas e investimentos que estão sendo feitos no Rio de Janeiro e tratou sobre a segurança pública, problema nacional, mas especialmente grave no território fluminense.

“Temos um problema não apenas com a segurança do Rio, mas do Brasil, porque em quase todos os estados há problemas de excesso de violência, muitas vezes por parte da própria polícia e, por outro lado, muitas vezes faltam instrumentos e dinheiro para a polícia trabalhar”, pontuou.

Por isso, afirmou que o governo tem agido para ampliar a participação da esfera federal na área da segurança pública, constitucionalmente atribuída aos estados. “Enviamos uma PEC para o Congresso Nacional, que foi discutida com todos os governadores. Queremos definir claramente o papel da União na segurança pública”.

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Ele lembrou, no entanto, que muitas vezes os governadores não querem maior participação da União “porque a polícia é um pedaço do poder do estado e muitas vezes os governadores não querem que o governo federal se intrometa na segurança dos estados”.

Nesse sentido, salientou: “Queremos ser parceiros dos estados no combate à violência, no aprimoramento da formação das polícias, com uma participação maior da Polícia Federal e, se for preciso criar outro mecanismo, vamos criar”.

Questionado sobre a ADPF (Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental) das Favelas — que busca reduzir a letalidade e a violência policial nas comunidades e está em análise no STF —, Lula disse que “qualquer medida que se tome demanda cuidado porque não se pode entrar nas favelas para matar as pessoas”. Ele também defendeu o uso de câmeras corporais e que a polícia participe do cotidiano da favela, além de enfatizar que a população do Rio não pode continuar em meio ao bang-bang que tem vivido.

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