Cid diz em delação que Bolsonaro interferiu na conclusão das Forças Armadas sobre urnas

Essa passagem da delação está na denúncia divulgada hoje pela Procuradoria-Geral da República, que acusa Bolsonaro de liderar uma organização criminosa para tentar anular a eleição de 2022 e se manter no poder. A delação do ex-ajudante de ordens Mauro Cid revelou que o ex-presidente Jair Bolsonaro interferiu diretamente na conclusão do relatório das Forças Armadas sobre as urnas eletrônicas. Segundo Cid, a mudança na redação do documento foi uma ordem expressa de Bolsonaro para alimentar dúvidas sobre o sistema eleitoral.
Essa passagem da delação está na denúncia divulgada hoje pela Procuradoria-Geral da República (PGR), que acusa Bolsonaro de liderar uma organização criminosa para tentar anular a eleição de 2022 e se manter no poder.
“O relatório final, segundo o próprio colaborador, ficou no meio termo dessas posições, uma vez que o Ministério da Defesa alterou sua conclusão para afirmar que não era possível dizer que jamais poderia ocorrer uma fraude. A alteração dessa conclusão se deu exclusivamente pela determinação e insistência do então Presidente da República Jair Messias Bolsonaro”, diz o trecho da denúncia.
A interferência no relatório e a estratégia do golpe
A PGR aponta que a mudança na conclusão do relatório das Forças Armadas foi parte de uma estratégia maior para desacreditar o processo eleitoral e justificar uma possível intervenção militar.
Segundo a PGR, desde 2021, Bolsonaro insistia na tese de que as urnas eletrônicas não eram confiáveis, mesmo sem apresentar qualquer prova. Com sua derrota para Luiz Inácio Lula da Silva, ele buscou usar as Forças Armadas para gerar desconfiança sobre a eleição.
A versão inicial do relatório não apontava fraudes, o que desmontava a narrativa bolsonarista. Com a interferência de Bolsonaro, a redação foi ajustada para deixar aberta a possibilidade de que fraudes pudessem acontecer, embora não houvesse nenhuma evidência concreta.
Esse relatório manipulado foi explorado por aliados do ex-presidente para manter a militância mobilizada, incentivando protestos e acampamentos golpistas em frente aos quartéis.
A relação com o decreto golpista e a pressão sobre os militares
A tentativa de mudar o relatório das Forças Armadas não foi um ato isolado. De acordo com a denúncia da PGR, Bolsonaro pressionou o alto comando militar para apoiar um golpe de Estado.
Em 14 de dezembro de 2022, o então comandante do Exército, Paulo Sérgio Nogueira, apresentou a líderes militares uma versão do decreto golpista, que previa:
Decretação do Estado de Defesa para reverter a eleição
Criação da “Comissão de Regularidade Eleitoral”, que revisaria o resultado das urnas
A narrativa de que as eleições estavam sob suspeita era fundamental para convencer os militares a aderirem ao golpe. O relatório alterado das Forças Armadas ajudaria a justificar a ruptura institucional.
Apesar das pressões, os militares não aderiram à proposta golpista, e o plano de Bolsonaro fracassou.
Delação de Cid fortalece denúncia da PGR
A interferência de Bolsonaro no relatório militar é mais uma das provas citadas na denúncia divulgada hoje pela PGR, que acusa o ex-presidente de crimes como:
Organização criminosa armada
Golpe de Estado
Tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito
Com a formalização da denúncia, Bolsonaro pode se tornar réu no Supremo Tribunal Federal (STF) e, se condenado, enfrentar penas que ultrapassam 30 anos de prisão.
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