África do Sul: 1º líder religioso muçulmano abertamente gay é assassinado a tiros

Um homem considerado o primeiro imã (líder religioso) muçulmano abertamente gay foi fatalmente baleado enquanto estava em um carro na África do Sul. Muhsin Hendricks foi emboscado por dois homens em uma caminhonete enquanto visitava a cidade de Gqeberha no último sábado, 15. A polícia disse que os homens envolvidos no assassinato estavam com os rostos cobertos.Um vídeo de segurança do tiroteio mostra um deles saindo do veículo, correndo até o carro onde Hendricks estava e disparando várias vezes através de uma janela lateral. A polícia informou que Hendricks estava com um motorista, que sobreviveu.A polícia ainda não estabeleceu um motivo para o assassinato, mas partidos políticos e organizações LGBTQIA+ afirmam que Hendricks foi alvo porque fundou uma mesquita na Cidade do Cabo para muçulmanos gays e fez um apelo para que membros da comunidade LGBTQIA+ fossem acolhidos no Islã. A homossexualidade é proibida na religião islâmica.O Ministério da Justiça da África do Sul disse que está investigando as alegações de que Hendricks foi alvo de um assassinato. Hendricks era conhecido internacionalmente e fez uma palestra na conferência da Associação Internacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Trans e Intersexuais (ILGA) na África do Sul no ano passado.”A família ILGA está em choque profundo com a notícia do assassinato de Muhsin Hendricks e pede às autoridades que investiguem profundamente o que tememos ser um crime de ódio”, disse Julia Ehrt, diretora executiva da ILGA. “Ele apoiou e orientou muitas pessoas na África do Sul e em todo o mundo em sua jornada para se reconciliar com sua fé.”A ILGA afirmou que Hendricks havia falado sobre como algumas pessoas pediam o fechamento de sua mesquita e a haviam rotulado como “o templo gay”. O Partido Democrático, o segundo maior partido político da África do Sul, disse que “a natureza do assassinato sugere fortemente um ataque profissional”.Hendricks disse em uma entrevista a um jornal sul-africano em 2022 que sentia que era alvo de uma série de fatwas – decretos da lei islâmica – emitidas pelo Conselho Judicial Muçulmano da África do Sul naquele ano. Elas lembraram os muçulmanos do país de que relacionamentos homossexuais eram proibidos, embora o conselho tenha dito que muçulmanos gays que se abstivessem de “ações homossexuais” deveriam ser bem-vindos nas mesquitas.Hendricks foi o tema de um documentário lançado no mesmo ano, chamado “The Radical”, no qual disse que houve ameaças contra ele, mas “isso simplesmente não me incomodou. A necessidade de ser autêntico era maior do que o medo de morrer.” O filme também se concentrou em jovens muçulmanos gays que disseram que Hendricks forneceu um local onde podiam rezar e praticar o Islã enquanto ainda eram eles mesmos.O Conselho Judicial Muçulmano da África do Sul disse em um comunicado no domingo que, embora sempre tenha afirmado que a posição de Hendricks era incompatível com os ensinamentos islâmicos, “condenamos inequivocamente seu assassinato e quaisquer atos de violência direcionados a membros da comunidade LGBTQ ou qualquer outra comunidade”.Hendricks cresceu em uma família muçulmana conservadora e se casou com uma mulher. Ele terminou o casamento e se assumiu publicamente como um imã gay em meados dos anos 1990, fundando uma rede de apoio e mais tarde uma mesquita para muçulmanos gays. Ele defendia a inclusão deles por meio da sua Fundação Al-Ghurbaab e se referia a si mesmo como “o primeiro imã abertamente queer do mundo”.”Quando eu estava observando a maneira como os muçulmanos queer estavam lidando com esse dilema entre o Islã e sua orientação sexual e identidade, senti que precisava fazer algo a respeito”, disse ele, explicando suas crenças. “E pensei que, para ajudar, provavelmente seria eu ser autêntico comigo mesmo e me assumir. Acho que é possível ser queer e muçulmano ou queer e cristão.”Em uma mensagem em sua página oficial no Facebook, a Fundação Al-Ghurbaab disse que Hendricks foi “um grande pai e guardião de muitos. Continue descansando com os anjos.”
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