Por anistia ao 8 de janeiro, Bolsonaro deixa ataques a Kassab de lado e busca apoio do PSD

Do jornal O Globo

Em busca de apoio ao projeto de anistia para os condenados do 8 de Janeiro, o ex-presidente Jair Bolsonaro deixou de lado os ataques a Gilberto Kassab e teve uma conversa reservada com o presidente do PSD. Bolsonaro tem procurado dirigentes de siglas com ampla representatividade no Congresso para tentar viabilizar a aprovação da proposta no Congresso.

A conversa entre o ex-presidente e seu antigo desafeto aconteceu na semana passada, no Palácio dos Bandeirantes, em São Paulo, enquanto ambos aguardavam o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) para um evento. Segundo pessoas próximas dos dois políticos, o principal tema da conversa foi o projeto que pode reduzir a pena para os condenados pelos ataques às sedes dos três Poderes em 2023.

Em março do ano passado, Bolsonaro atacou Kassab em mensagem a aliados em uma lista de transmissão do WhatsApp. “O Kassab, pelos seus três ministérios, apoia as políticas do PT, como a ideologia de gênero, maconha, aborto, censura, defesa do MST, destruição da família, defesa do Hamas, desarmamento, fim da propriedade privada, etc.”, escreveu Bolsonaro sobre o ex-prefeito de São Paulo e presidente nacional do PSD.

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Na mesma mensagem, o ex-presidente destacava que “o senhor Kassab” orientou seus parlamentares a votarem pela “incriminação de inocentes” do 8 de Janeiro e que o dirigente estava interessado na cassação do senador bolsonarista Jorge Seif (PL-SC). “As mulheres do Brasil não cairão nessa conversa mole do Kassab. Não se conquista ninguém com mentiras”, termina a mensagem, em referência a uma publicação do PSD convidando mulheres a se filiarem ao partido.

No mês anterior, Bolsonaro havia gravado um áudio afirmando que não apoiaria nenhum candidato do PSD na eleição municipal. “Deixo claro: PSD do Kassab eu não apoio ninguém, tá ok?”, disse o ex-presidente, criando arestas para alianças já firmadas entre o partido de Kassab e o PL, partido de Bolsonaro.

O ex-titular do Palácio do Planalto se incomoda com a influência de Kassab no governo Tarcísio, no qual é secretário de Governo. Segundo correligionários, Bolsonaro teme que Kassab possa concorrer como vice de Tarcísio em uma eventual tentativa de reeleição ao governo de São Paulo em 2026. Nesse cenário, Kassab poderia assumir o Palácio dos Bandeirantes caso o ex-ministro da Infraestrutura de Bolsonaro renuncie ao cargo para disputar a Presidência da República mais à frente.

Peregrinação

Nesta semana, Bolsonaro repetiu o pedido feito a Kassab para o presidente do União Brasil, Antônio Rueda. O encontro aconteceu na sede do PL, em Brasília. O escritório do partido de Bolsonaro fica no mesmo andar, em frente à sede do União. Rueda foi à sigla vizinha para encontrar o governador de Rondônia, Marcos Rocha (União), que estava lá com o ex-presidente.

Bolsonaro vem buscando apoio para o projeto desde o ano passado e, inclusive, levou essa demanda para os novos presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), e da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB). Segundo aliados, o ex-presidente deve seguir buscando o apoio de dirigentes partidários que sinalizem positivamente ao projeto da anistia.

Na quarta-feira, Bolsonaro afirmou, em um vídeo postado nas redes sociais, que não busca anistia para si por “não estar condenado”. Ele disse que Motta se comprometeu a pautar a iniciativa.

— Não é a minha anistia. Eu não estou condenado em absolutamente nada. É a anistia dessas pessoas, dezenas e dezenas de pessoas, condenadas a penas absurdas — afirmou Bolsonaro ao tratar sobre os condenados pelos atos golpistas de 8 de janeiro.

Motta afirmou que tratará de maneira “imparcial” o projeto de lei. Ele foi eleito com apoio do PT de Luiz Inácio Lula da Silva, do PL de Bolsonaro e outras 16 siglas.

— Esse tema é o que mais divide a Casa hoje. Temos um PL que defende a votação da anistia para os presos do 8 de Janeiro, enquanto o PT defende que o assunto não seja votado. A pauta é decidida pelo presidente, com participação dos líderes. Com certeza, esse será um tema levado para essas reuniões nos próximos dias, e vamos conduzir com a maior imparcialidade possível — disse o presidente da Câmara logo após ser eleito para o cargo.

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