Datafolha mostra que falta de marca no governo Lula prolonga efeitos adversos da crise do Pix

Por César Felício

Do Valor Econômico

As pesquisas Datafolha são presenciais por ponto fluxo, com cerca de 2 mil entrevistas em um campo muito curto, dois dias no caso do levantamento sobre avaliação de governo divulgado nesta sexta-feira (14). É, portanto, uma pesquisa que capta bem a fotografia do momento. A crise do Pix, maior dano reputacional do governo em 2025, já tem mais de um mês. Como então atribuir a esse evento o fato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva somar apenas 24% de bom e ótimo, ante 41% de ruim e péssimo?

A explicação está na natureza da perda que o presidente teve. É uma perda ancorada na decepção. No episódio da crise do Pix, Lula recuou com mais força entre seus eleitorados cativos, no Nordeste, na baixa renda, entre mulheres. Decepções são feridas de cicatrização muito mais difícil porque o desafio que se coloca é retomar a confiança perdida. A decepção, de certa forma, equivale a uma traição. Em casos assim, os efeitos subsistem mesmo depois de cessada a causa.

Este é um processo inédito no governo Lula III, mas não no Brasil. O cientista político do Ipespe Antonio Lavareda, com décadas de experiência em pesquisas de opinião, lembra que o ex-presidente Jair Bolsonaro também viveu a defecção de parte de seus eleitores, perdendo espaço de maneira generalizada em seus redutos do Sul e do Sudeste, até mesmo em Estados como Santa Catarina, entre a eleição de 2018 e 2022. “Fundamentalmente ele perdeu a eleição por isso. É o mesmo risco que Lula corre agora”, comentou.

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A defecção é mais difícil de reverter porque depende de uma sequência de fatos positivos para a anulação de um fato negativo. O presidente pode chamar o marqueteiro para assumir um ministério, mas não há narrativa que sobreviva à falta de marca. Há um problema, comentado de forma generalizada por analistas políticos e pelos próprios políticos, de falta de assunto ao governo. Não há uma compreensão sobre qual é o significado básico da volta de Lula ao poder, terminado o consenso momentâneo que seus adversários proporcionaram a ele com os atos de 8 de janeiro. Assim sendo, o governo fica vulnerável a qualquer vento de proa, de acordo com o diagnóstico de Lavareda.

Este é um momento delicado para o presidente porque deve crescer dentro da base petista a pressão por um cavalo de pau na economia, cortando os elos que ainda existem entre o governo e o mercado financeiro, assentados na manutenção de um enquadramento fiscal mínimo. Já é esta a tônica dentro de grupos de apoiadores do governo nas redes sociais.

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