Trump tem “combo” de más notícias: inflação sobe nos EUA, adia corte de juros e ameaça limitar tarifas

A inflação nos Estados Unidos aumentou 3% em janeiro, mais do que os 2,9% registrados em dezembro. Apesar da pequena elevação, o anúncio, feito na quarta-feira, 12 de fevereiro, pelo Departamento do Trabalho, deve impactar o novo governo do presidente Donald Trump em duas áreas.

Uma delas é na política monetária. A inflação em elevação reforça o argumento de que o Federal Reserve, o banco central dos EUA, deve ser mais cauteloso nos cortes das taxas de juros aguardados para este ano.

Outro efeito previsto é na política de imposição de tarifas de importação de Trump – a pressão inflacionária pode limitar, no médio prazo, a sobretaxação como arma política do presidente americano para arrancar concessões de parceiros comerciais dos EUA.

Após a publicação dos dados, as ações do mercado financeiro americano abriram em forte queda, com o S&P 500 caindo 1% e o Nasdaq Composite perdendo 1,1 %, enquanto um indicador do dólar em relação a seis outras moedas subiu 0,3%.  O rendimento de dois anos dos títulos do Tesouro dos EUA subiu 0,06 pontos percentuais para 4,35%.

“A inflação já está em torno dessas taxas há algum tempo e claramente não está mais caindo de forma decisiva”, disse Paul Ashworth, economista-chefe da Capital Economics, ao The Wall Street Journal.

No geral, os aumentos de preços em janeiro foram maiores do que os economistas esperavam – subiram 0,5% em relação ao mês anterior em uma base ajustada sazonalmente, o maior aumento mensal desde agosto de 2023.

O grande vilão do mês foram os ovos, impactados pela gripe aviária e responsáveis por cerca de dois terços do aumento mensal total dos preços de alimentos. Em janeiro, os preços dos ovos subiram mais de 15%, maior elevação desde junho de 2015. Em um ano, o aumento foi de 53%.

O anúncio da inflação em elevação ocorre em um momento de grande agitação nos EUA, após a posse de Trump, na semana passada.

Desde então, o presidente americano anunciou tarifas de 25% contra os vizinhos México e Canadá, e de 10% contra a China, além de sobretaxação das importações de alumínio e aço em 25%.

Ao mesmo tempo, o presidente americano vinha pressionando o Fed para cortar os juros. Mesmo com o anúncio desta quarta-feira da inflação, Trump reforçou suas exigências em sua plataforma Truth Social.

“As taxas de juros devem ser reduzidas, algo que andaria de mãos dadas com as próximas tarifas!!!”, postou o presidente dos EUA. “Mãos à obra, América!!!”

Agora, porém, o mercado está revisando a expectativa de redução de juros do Fed – já se fala que, dos dois cortes previstos até dezembro, apenas um deve ser anunciado.

Tarifas sob pressão

A pressão da inflação, por sua vez, já começa a respingar na política de tarifas de Trump. O aumento maior da inflação também refletiu em grande parte os preços mais altos de carros usados e, por tabela, dos seguros de automóveis.

Dados do índice de preços ao consumidor na quarta-feira mostraram que os custos do seguro de veículos automotores subiram 11,8% em relação ao ano anterior em janeiro, acima do aumento de 11,3% em dezembro.

O temor é que a soma de tarifas contra México e Canadá – grandes produtores de carros e autopeças – mais às de aço e alumínio impactem a indústria automobilística americana em geral.

“Até agora, o que estamos vendo é muito custo e muito caos”, reclamou o CEO da Ford, Jim Farley, em uma conferência automotiva na terça-feira, referindo-se ao aumento das tarifas de aço e alumínio – insumos usados na fabricação de carros.

A política de sobretaxa de Trump também começa a preocupar outros segmentos, da indústria de perfuração de petróleo e gás à do setor agrícola. As tarifas chinesas sobre máquinas agrícolas, medida retaliatória imposta pela China que entraram em vigor esta semana, podem prejudicar as vendas de empresas americanas, incluindo a Caterpillar.

O setor agrícola dos EUA também foi impactado por outra medida de Trump, aparentemente voltada para o exterior – o congelamento dos programas da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID, na sigla em inglês).

As compras de safras dos EUA pela USAID para ajuda externa — que totalizaram US$ 2 bilhões no ano passado — já foram interrompidas pela ordem executiva de Trump, prejudicando agricultores do país.

Entre economistas, cresce a percepção de que Trump avaliou mal o impacto da inflação na adoção de tarifas. A sobretaxação de importação durante o primeiro mandato, em 2018 e 2019, não teve maior repercussão porque a inflação na época era muito baixa.

Desta vez, além de mais amplas, as tarifas tendem a atingir mais bens de consumo, com potencial de ampliar o efeito no índice de preços.

O combo de más notícias para Trump inclui outra ameaça, desta vez à sua popularidade. Resultados preliminares de uma pesquisa de pequenas empresas feita pela Vistage Worldwide para o The Wall Street Journal mostram que um aumento na confiança pós-eleição no presidente americano foi revertido em fevereiro.

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