A culpa não é da chuva: Especialista explica impacto dos temporais na RMR

Por Maria Letícia Menezes
Do JC

As chuvas intensas e os alagamentos têm causado transtornos cada vez mais frequentes na cidade do Recife e em toda a Região Metropolitana. Não é novidade, se chover, a população sabe que vai alagar e, inclusive, já conhece os pontos principais de alagamento. Na última semana, 7 pessoas morreram vítimas de afogamento, choque elétrico e deslizamento de barreira, além de 200 que ficaram desalojadas após chuvas intensas no Grande Recife.

Em entrevista ao programa Passando a Limpo, da Rádio Jornal, o biólogo e especialista em gestão ambiental Mauro Buarque detalha as causas, consequências e possíveis soluções para o problema.

A culpa não é da chuva
De acordo com Mauro Buarque, os alagamentos recorrentes no Recife não podem ser atribuídos apenas ao volume de chuvas. O biólogo destaca que, apesar de a cidade ter implantado sistemas de drenagem nas últimas décadas, a ocupação desordenada de áreas de risco, como os fundos de vale, e a impermeabilização do solo são fatores que agravam a situação.

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“As enchentes que temos experimentado no Recife são alagamentos decorrentes de ocupações irregulares e de uma cidade eminentemente plana”, garante.

Ele ressalta que, embora o sistema de drenagem tenha mostrado resultados positivos em relação às chuvas mais antigas.

Para ele, as gestões dos municípios precisam continuar investindo em medidas de adaptação e mitigação.

Isso porque, é possível ter as informações sobre o que vai acontecer antecipadamente.

“Se soubermos com antecedência que uma área será atingida por chuvas intensas, podemos planejar a evacuação, o fechamento de vias e outras ações de emergência”, diz.

Segundo Mauro, a informação de qualidade deve ser usada não apenas por autoridades, mas também pela própria população, que precisa estar consciente dos riscos e disposta a adotar medidas de prevenção.

“Não é um problema para ficar restrito apenas aos gabinetes dos prefeitos. A sociedade precisa compreender que a solução passa pela participação dela também”, salienta.

Planejamento urbano
Buarque afirma que a verdadeira solução para os problemas climáticos da cidade está no planejamento urbano.

Contudo, o processo de crescimento da cidade, especialmente nas últimas décadas, resultou na ocupação de áreas que, teoricamente, não deveriam ser urbanizadas.

Essas áreas acabaram se tornando moradia para populações vulneráveis, que, como o especialista aponta, “não ocupam essas áreas porque querem, são as áreas que sobraram para elas”.

O biólogo enfatiza que, para resolver o problema, é necessário investir em um planejamento urbano focado na “renaturalização” dessas áreas, mas reconhece que esse é um desafio, especialmente em uma cidade com um grande déficit habitacional, como Recife.

O especialista aponta que a solução não pode ser restrita aos limites da cidade, mas deve envolver um planejamento metropolitano.

Segundo ele, Recife e os municípios da Região Metropolitana precisa incorporar nos seus planos diretores informações sobre o impacto das mudanças climáticas e adotar práticas de renaturalização de rios e áreas de preservação.

Áreas mais afetadas
Buarque lembra que, apesar dos avanços em infraestrutura, há regiões do Recife ainda muito vulneráveis às chuvas.

“Recife está praticamente no nível do mar. Quando tem o excesso de chuva com uma maré alta, a água não tem para onde ir”, ressalta.

O especialita detsca que há algumas áreas mais sensíveis que outras, como por exemplo o bairro de Afogados e da Imbiribeira. “São essas áreas em que, de fato, estão em uma cota zero do nível do mar”, reforça.

Além disso, as supermarés, que ocorrem pelo menos duas vezes ao ano, agravam ainda mais os alagamentos, como foi observado em 2024, quando houve inundações mesmo sem chuvas.

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