Alckmin rejeita guerra tarifária com os EUA, pede cautela e defende cotas como alternativa

O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (Mdic), Geraldo Alckmin, comentou, nesta quarta-feira (12), a decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor tarifas de 25% para todas as importações de aço e alumínio. Na avaliação de Alckmin, o governo brasileiro precisa adotar “cautela” e rechaçou a ideia de uma “guerra tributária”. Nesse sentido, admitiu que uma alternativa deve ser o sistema de cotas de importação.

“Primeiro: cautela. Precisamos ter cautela nisso, a outra coisa é diálogo. Comércio exterior é ganha-ganha”, disse ele, durante entrevista coletiva no Palácio do Planalto, após evento ligado ao programa Nova Indústria Brasil.

“Não tem guerra tributária, tem entendimento baseado no interesse público. Eu sou dos que defendem o comércio exterior. Nós estamos abertos ao diálogo, as cotas são um bom caminho. Foram estabelecidas cotas, que é um mecanismo inteligente. Se você aumenta o imposto de importação do aço, isso tem um efeito na cadeia. Então a cota é uma boa solução, o caminho é o diálogo”, acrescentou. As informações são do Valor Econômico.

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Alckmin confirmou também que já discutiu o assunto com a embaixadora do Brasil nos Estados Unidos, Maria Luiza Ribeiro Viotti, mas explicou que o governo brasileiro ainda aguarda a designação dos novos funcionários do chamado USTR (United States Trade Representative) – órgão americano responsável por propor tarifas sobre importações – para avançar nessas negociações.

“Conversei com a embaixadora Viotti. Vamos, sim, procurar o governo norte-americano por meio do USTR, que é o setor que cuida disso. Como o governo americano acabou de tomar posse, os nomes dessa área ainda estão em aprovação [no Congresso americano]. Mas vamos procurar, sim, os nomes e procurar a melhor solução. É sempre um bom caminho a gente buscar o ganha-ganha”, emendou.

Por fim, Alckmin lembrou que o saldo da balança comercial entre Brasil e Estados Unidos é “equilibrado”. “Quero destacar que a balança comercial de bens é equilibrada. São US$ 40,3 bilhões que exportamos. E eles também exportam isso pra gente, eles exportam US$ 40,5 bi”, detalhou.

“Para ser exato, os EUA têm até um pequeno superávit. Se a gente incluir serviços [na balança comercial], o superávit americano é de R$ 7,2 bilhões. É o sétimo maior superávit que os EUA têm no mundo. E a nossa taxa de importação final é de 2,7%, é baixíssima. Então o caminho é diálogo. Isso já aconteceu anteriormente e foi estabelecida cota, então vamos dialogar”, concluiu.

Postura de reciprocidade
Alckmin foi questionado sobre o assunto porque o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) prometeu, recentemente, adotar uma postura de reciprocidade em relação ao governo americano no caso de taxações de produtos brasileiros.

Apesar disso, segundo interlocutores do governo ouvidos pelo Valor, medidas retaliatórias não devem ser prioridade em um primeiro momento. Primeiro, porque, na visão de fontes em Brasília, essa não é uma medida que visa prejudicar especificamente o Brasil, embora afete o país. Segundo, porque está na memória do Itamaraty a bem-sucedida negociação no primeiro mandato de Trump.

Saída pragmática
A orientação é agir com cautela e pensar no setor, importante para a economia brasileira tanto na geração de divisas quanto de empregos. Essa postura pragmática vale não somente para negociações comerciais. É semelhante, por exemplo, à adotada pelo Brasil no caso das deportações de imigrantes ilegais.

Nesse caso, em vez de confrontar o presidente americano e sua política, o governo Lula buscou negociar com a Casa Branca para que os deportados chegassem ao país em voos em boas condições e com tratamento digno, após denúncias de maus-tratos em um voo que fez um pouso não programado em Manaus, em janeiro.

Diante da repercussão negativa, o Brasil montou, junto com a embaixada americana, um grupo de trabalho para monitorar as deportações. No último sábado, um novo voo com deportados brasileiros chegou a Fortaleza. Não houve relatos dos mesmos problemas do voo de janeiro, o que foi celebrado pelo Itamaraty.

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