E-agro, o Bradesco “com cara de agtech”, atinge R$ 2,4 bi em crédito. E tem plano para dobrar

Pela importância que o agronegócio tem para a economia brasileira, é natural que um dos maiores bancos do País seja também destaque em crédito destinado ao setor.

O Bradesco, por exemplo, diz só perder para o Banco do Brasil em crédito voltado ao agro, quando se considera a “carteira expandida”, que inclui diferentes operações feitas com o setor, não apenas o crédito rural tradicional.

Em 2024, a carteira agro expandida do Bradesco ficou próxima de R$ 130 bilhões, alta de 13% em relação ao ano anterior.

No meio desse gigantismo, há uma crença de que no futuro – ou melhor, no presente – o produtor rural vai precisar de meios cada vez mais ágeis, descomplicados e, claro, digitais para seguir acessando o crédito.

É aí que se destaca o E-agro, plataforma digital do banco com cara de “agtech” que completará dois anos no próximo mês de maio.

A proposta é não apenas “digitalizar” o crédito ao agronegócio mas, principalmente, criar novos negócios para o Bradesco, inclusive com outros parceiros financeiros, num futuro próximo.

Os resultados começam a aparecer. O balanço de 2024 demonstra que o marketplace do Bradesco originou um total de R$ 2,4 bilhões em financiamentos ao agronegócio. No ano anterior ,o volume estava em R$ 500 milhões – portanto, um aumento de 380%.

“A participação do E-agro dentro do agro (total) do banco ainda é pequena. Só que no conceito do que é o E-agro, ele nasceu para desenvolver e trazer novos negócios para o banco, é uma plataforma que apesar de ser do Bradesco, é, entre aspas, agnóstica”, explicou Nadege Saad, head da plataforma digital, em entrevista exclusiva ao AgFeed.

“E por quê? Porque a gente tem a intenção de trazer outros parceiros para originar crédito aqui dentro. Outros bancos, outras fintechs, até cooperativas de crédito”.

Para chegar ao valor recorde de originação, a plataforma contou com 100 parceiros que comercializaram seus produtos por lá e uma base de 52 mil clientes ativos.

As parcerias incluem, por exemplo, vendedores de máquinas e insumos agrícolas, além de cooperativas. A crença é que, baseando-se em pesquisas recentes, um percentual cada vez maior de produtores rurais estaria dando preferência aos negócios fechados através de canais digitais.

O carro-chefe das operações do E-agro é a CPR (Cédula de Produto Rural), que representou 90% do que foi originado. O crescimento no crédito concedido por meio da emissão destes títulos foi de 400% na comparação com 2023.

Nadege Saad explicou os motivos do forte interesse pelas CPRs. “O Bradesco tem uma precificação bem competitiva de CPR. Quando a gente vai para o mercado e compara, acha bastante vantajosa”.

“E a jornada digital dela é bem mais fácil. Em sete passos ele (produtor) pega uma CPR aqui dentro e a gente tem uma parte de inteligência artificial que super facilita isso para o agricultor, puxando documentação de fora”, explica.

Em outra frente, o E-agro buscou fazer mais operações de crédito rural tradicional. As linhas do Plano Safra, que envolvem recursos obrigatórios, com juros livres ou controlados, representaram 10% dos negócios da plataforma.

Para 2025, segundo Nadege, o plano é dobrar a originação de linhas do Plano Safra e também duplicar o volume total concedido o que, se confirmado, seria transacionar R$ 4,8 bilhões.

Ainda assim, as CPRs devem continuar em destaque, já que, ao contrário dos recursos obrigatórios, não é necessário apresentar projeto, sem qualquer necessidade de ir à agência para tomar o crédito. “É um produto muito mais versátil”, diz ela.

Além disso, Saad lembra que as linhas do Plano Safra têm uma janela mais apertada. “Você abre ali em julho, geralmente as principais linhas já acabam em 15, 20 dias e depois ficam as outras linhas que são para finalidades mais específicas. Então, a CPR ela roda o ano inteiro”.

Outro destaque de 2024 foram as operações para financiar a compra de máquinas agrícolas usadas. Com as margens mais apertadas, produtores deixaram de comprar equipamentos novos e mais caros e apostaram mais nessa modalidade, contou a executiva. Do total do financiamento de máquinas, segundo ela, os usados representaram 40%.

No plano de expansão, o E-agro deve seguir usando a seu favor o perfil de “startup”, mesmo crescendo em bom ritmo.

“A gente vem em dois anos bem agtech mesmo, desenvolve o produto, faz melhoria continua, monta os squads de desenvolvimento e o time vai crescendo”, ressaltou Nadege.

Ela conversou com o AgFeed em meio a uma visita ao Show Rural Coopavel, que ocorre esta semana, em Cascavel, no Paraná. Foi na edição de 2023 da feira – a primeira do calendário agrícola no Brasil – que o marketplace fez seus primeiros testes, originando clientes.

O modelo também conta com os assessores técnicos, equipes terceirizadas que fazem os projetos para o produtor rural, quando necessário.

Plano de expansão

Entre os diferenciais para seguir crescendo e dobrar de tamanho em 2025, o E-agro destaca a possibilidade de oferecer, via plataforma digital, uma taxa de juros mais baixa, o que em tempos de Selic elevada, pode realmente pesar a favor do negócio.

Nadege diz que, em alguns casos, é possível ter 1 ponto percentual a menos nos juros. “A gente tem (taxa mais baixa) porque o nosso custo de servir é menor. Então, eu acabo tendo uma vantagem aqui dentro do E-agro”.

Outro ponto importante esse ano será o início do atendimento de pessoas jurídicas na plataforma, previsto para 2025, mas ainda sem data certa para o lançamento.

“A maioria dots agricultores do Brasil opera na pessoa física, mas a gente tem agricultores de médio para grande, especialmente no Cerrado, que operam na PJ, até grandes grupos. Esses agricultores também tomam CPR e usam outros produtos que a gente precisa ter no portfólio e hoje a gente não consegue fazer”, pontua.

Segundo Saad, o projeto está quase pronto e, com isso, o E-agro poderá acessar tickets maiores, para CPRs e operações de maior porte, inclusive na estrutura de holding, que muitos estão usando, o que deve alavancar o crescimento da plataforma.

“Vai ser um salto para uma plataforma digital fazer isso, tem uma complexidade de desenvolvimento gigante. Não tem nenhum outro marketplace que trabalhe com PJ, nem no crédito e nem na venda, e a gente vai fazer isso”, ressaltou.

“E a gente quer focar muito no marketplace, especialmente com máquinas, que é onde a gente tem os principais parceiros, chegar no agricultor com taxas mais vantajosas para ele comprar dentro do E-agro, que é a proposta final de um marketplace, e trazer novidades como barter, programa de pontos, realmente poder servir o agricultor de uma forma como o varejo serve hoje”.

Cenário de cautela

Das operações feitas pelo E-agro em 2024, 80% foram de investimento e 20% de custeio. Saad diz que apesar das dificuldades do setor de máquinas, ainda foi possível crescer nesse segmento em função dos usados.

Para este ano, ela admite que o efeito do maior número de RJs verificado em 2024 ainda deve refletir no custo do dinheiro, por isso conta com uma maior demanda pelas linhas de recursos obrigatórios, do Plano Safra.

Ela acredita que as CPRs originadas por revendas podem trazer mais insegurança, mas confia na demanda pelos títulos via instituições financeiras.

“O que a gente vai ver, mas isso tem muito mais a ver com o custo do dinheiro, é uma diferença de precificação em relação ao ano passado. Mas isso é mercado de forma geral, você é obrigado a precificar o risco se você tem um agro mais inseguro, com maior incidência de inadimplência”, avaliou.

De qualquer forma, Nadege garante que nada disso interfere nos planos de crescimento do marketplace. A ordem, apenas, é seguir sendo “conservador” na análise de crédito.

O modelo de risco compartilhado com revendas, chamado de E-agro Finance, tem sido bastante utilizado, segundo ela, especialmente com sete empresas, que fazem operações recorrentes.

Ela diz que quer continuar expandindo esse produto, mas admite que a insegurança com as RJs tem deixado os revendedores “bem mais cautelosos” sobre a forma de conceder crédito, por isso pode influenciar “na velocidade em que o produto vai tracionar”.

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