Mercado castiga ABC (ABCB4) por inadimplência, mas diretor pede: não olhe só o absoluto

Ricardo Moura, diretor de Relações com Investidores, M&A Proprietário e Estratégia do ABC Brasil.

“2025 tende a ser mais desafiador do que 2024, com taxas de juros mais altas”, diz diretor de RI, Ricardo Moura (Imagem: Divulgação)

O aumento do lucro de 14% e da rentabilidade não foram suficientes para animar investidores, que viraram a cara para o ABC Brasil (ABCB4) após a divulgação dos resultados do quarto trimestre de 2024. A ação fechou em queda de mais de 5%.

O problema foi o aumento das despesas com PDD (provisões que os bancos fazem contra calotes), que totalizaram R$ 97,6 milhões, alta de 26% no trimestre e 67,9% no ano, explicadas por maior expectativa de deterioração da qualidade de crédito, junto com a maior inadimplência observada no segmento middle (médias empresas), e ajustes no portfólio de títulos privados.

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Para Ricardo Moura, diretor de relações com investidores, estratégia & business development, é preciso olhar além desse número. Em entrevista ao Money Times, Moura destaca que a carteira de crédito também cresceu no período, a 15%.

“Se você observar, uma métrica relevante está na página 19 do earnings release. Ali, é possível ver a despesa de provisão ampliada, que inclui a carteira 2002, garantias e títulos privados, como percentual da carteira de crédito expandida. No quarto trimestre, essa relação foi de 0,7%. É maior do que no trimestre anterior? Sim. No entanto, está muito próxima da média histórica”, coloca.

Ainda de acordo com o executivo, o trimestre se mantém dentro da média, sem grandes sobressaltos na questão de despesa de PDD. Ele recorda que haverá trimestres pouco acima da média, mas este não é o caso, “pois está bem alinhado com o histórico”.

“Da mesma forma, alguns períodos podem apresentar números um pouco abaixo. O mais importante é analisar a relação entre a despesa de PDD e a carteira, e não apenas o número absoluto”, diz.

Mesmo assim, o pessimismo de analistas continuou. O BB Investimentos foi uma das casas que mudou o humor com o papel após ver os números. Após cinco anos com recomendação de compra, analistas rebaixaram a ação para neutra, com preço-alvo de R$ 25,6, potencial de alta de 21%.

Na visão do BB, o ABC encerra 2024 em uma posição sólida, com bom crescimento da carteira de crédito, maior diversificação de receitas, e custos sugerindo uma gradual expansão da alavancagem operacional, ainda que de forma marginal.

“No entanto, é possível identificar uma pressão sobre a margem financeira com clientes e uma crescente inadimplência no segmento middle, que mantém o banco persistentemente com o pé no freio na concessão para este público”.

O Itaú BBA também vê números fracos (9% abaixo das estimativas), impactado por receitas menores do que o esperado e maiores provisões.

No lado positivo, o BBA nota que o livro de empréstimos cresceu sólidos 6% no trimestre e 15% no ano. O ABC experimentou crescimento em todos os segmentos em um trimestre sazonalmente positivo, terminando o ano no topo das projeções.

Mesmo assim, o BBA diz que por mais que a ação esteja barata em relação à média histórica (5 vezes o preço sobre lucro), há riscos para queda nas estimativas de provisões.

“Portanto, classificamos o ABC Brasil como desempenho de mercado antes de um ano desafiador para o crédito corporativo, o que pode representar desafios de lucros para o banco”.

O que esperar para 2025?

Além dos resultados, o banco atingiu todas as expectativas (guidances) esperadas para o ano e publicou as de 2025:

  • carteira de crédito expandida: crescimento de 7% a 12%
  • despesas (pessoal, outras adm. e PLR): crescimento de 6% a 11%
  • indice de eficiência (despesas/receitas): 36% a 38%

Com isso, o banco espera entrar em 2025 com pé no freio, já que cresceu 15% no ano passado.

“2025 tende a ser mais desafiador do que 2024, com taxas de juros mais altas, inflação um pouco maior e crescimento do PIB menor. Em 2024, o PIB cresceu pouco acima de 3%, mas para 2025 a projeção está próxima de 1,5%”, diz  Moura.

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Já a inflação deve ultrapassar 5%, o câmbio pode se desvalorizar ainda mais e a taxa de juros deve permanecer acima de 15%. “Esse ambiente tornará mais desafiador para as empresas o serviço da dívida, o crescimento da receita e a capacidade de pagamento de juros e principal”,

“Tudo mais constante, deve-se observar um menor crescimento do crédito, alguma pressão no atraso e uma movimentação na percepção de risco. A linha chamada PLCDI, que representa o capital investido em títulos públicos, também deve captar a subida da taxa básica”, completa.

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