Polícia israelense invade livraria palestina em Jerusalém e prende donos

A polícia israelense invadiu no domingo (9) a Educational Bookshop, uma das mais conhecidas livrarias palestinas de Jerusalém Oriental, acusando seus proprietários de vender livros que incitam o terrorismo. Dois dos donos, Mahmoud e Ahmad Muna, foram presos, e centenas de títulos foram confiscados. A operação também atingiu outra filial da livraria, localizada na Cidade Velha.

Imagens de câmeras de segurança mostram policiais vasculhando as prateleiras, enquanto fotos compartilhadas nas redes sociais revelam livros espalhados pelo chão. A filha de 11 anos de Mahmoud, Layla, estava presente durante a invasão, segundo sua mãe, May Muna. “Eles escolheram livros com títulos ou bandeiras palestinas, sem saber o que qualquer um deles significava”, relatou May a jornalistas. “Usaram o Google Translate para entender alguns títulos em árabe antes de levá-los.”

Um marco cultural sob ataque

A Educational Bookshop, próxima à Cidade Antiga, é um ponto de referência em Jerusalém há décadas. Com uma ampla seleção de livros em árabe e inglês, a livraria atrai diplomatas, trabalhadores humanitários, turistas e intelectuais palestinos. Sua importância cultural e simbólica fez com que a ação policial fosse vista como um golpe contra a vida intelectual palestina na cidade.

“Eu, como muitos diplomatas, gosto de procurar livros na Educational Bookshop”, escreveu o embaixador alemão Steffen Seibert no X. “Sei que seus proprietários, a família Muna, são palestinos orgulhosos de Jerusalém e amantes da paz.”

O livro no centro da polêmica

A polícia israelense citou o livro infantil para colorir “Do Jordão ao Mar” como exemplo de material que incitaria ao terrorismo. A expressão “do rio ao mar” refere-se ao território entre o rio Jordão e o mar Mediterrâneo, que abrange Israel, a Cisjordânia ocupada e a Faixa de Gaza. Enquanto Israel interpreta a frase como um apelo à sua destruição, muitos palestinos a veem como um chamado à libertação e à autodeterminação.

A frase ganhou destaque em manifestações globais de apoio aos palestinos durante a guerra em Gaza, mas sua inclusão em um livro infantil gerou controvérsia. A polícia afirmou que os livros confiscados continham “incitação e apoio ao terrorismo”, mas não forneceu detalhes adicionais.

Protestos e reações

Nesta segunda-feira (10), a filial principal da livraria permaneceu fechada, com as persianas abaixadas. Manifestantes se reuniram do lado de fora do tribunal onde foi realizada uma audiência para prorrogar a detenção dos irmãos Muna por oito dias. “Acreditamos que isso é parte da acusação política e da política israelense de calar as vozes dos palestinos”, disse o advogado da família, Nasser Odeh.

A invasão à Educational Bookshop não é um caso isolado. Na semana passada, outra livraria palestina na Cidade Velha foi alvo de operação semelhante, com a polícia alegando motivos parecidos.

Um clima de censura e repressão

A ação contra a livraria ocorre em um contexto de crescente tensão em Jerusalém Oriental, onde autoridades israelenses têm sido acusadas de reprimir expressões culturais e políticas palestinas. A confiscação de livros e a detenção dos proprietários foram interpretadas como uma tentativa de silenciar vozes críticas e limitar o acesso à informação.

“É parte dos ataques contra o povo palestino há décadas”, afirmou Odeh. “Eles querem impedir os palestinos de aprender e se expressar.”

Liberdade sob ameaça

A invasão à Educational Bookshop e a prisão de seus proprietários destacam os desafios enfrentados pela comunidade palestina em Jerusalém Oriental para manter sua identidade cultural e intelectual. Enquanto Israel justifica a ação como uma medida de segurança, críticos veem nela um ataque à liberdade de expressão e um esforço para apagar narrativas palestinas.

Em um momento de intensificação do conflito e da repressão, a livraria e seus donos simbolizam a resistência de uma comunidade que luta para preservar sua voz e sua história.

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