O que o mercado espera da São Martinho? Nem os analistas têm uma resposta única

Os resultados do grupo sucroenergético São Martinho, que apresentou seus dados referentes ao terceiro trimestre do ano safra 2024/2025, foram recebidos de diferentes formas pelos analistas do mercado financeiro.

Em linhas gerais, consenso apenas na espera: os relatórios distribuídos pelos principais bancos brasileiros aos seus clientes foram unânimes em apontar que aguardam mais informações sobre a perspectiva da São Martinho em relação aos preços do açúcar, que apresentou quedas no período.

A companhia registrou um lucro líquido de R$ 157,9 milhões no período, montante 25% menor que o resultado obtido no terceiro trimestre do ciclo 2023/2024.

Já o faturamento líquido da companhia foi de R$ 1,845 bilhão, tendo crescido 14,6% no período, com impulso vindo principalmente do etanol. cuja receita foi de R$ 927,4 milhões, subindo 49,2% no período, refletindo preços e volumes maiores de comercialização.

O resultado com o etanol compensou a queda de 8,3% no faturamento do açúcar no período, somando R$ 760 milhões, sob efeito de quedas de 3,4% nos preços e de 6,4% nos volumes de comercialização.

O ebtida (lucro antes de impostos, juros, tributos e amortizações) ajustado da companhia foi de R$ 1,058 bilhão, crescendo 50,4% na comparação com o mesmo período de 2024, sob impulso do melhor desempenho do etanol e o reconhecimento de créditos tributário no período, que renderam aproximadamente R$ 190 milhões à companhia.

Os números da São Martinho no trimestre foram recebidos de forma “mista” pela XP Investimentos, que projetava números um pouco maiores do que os reportados pela companhia.

A expectativa da XP era de que a receita fosse de R$ 2,035 bilhões, o ebtida ajustado, de R$ 936 milhões, e o lucro líquido, de R$ 142 milhões.

“Os resultados ficaram ligeiramente abaixo de nossas estimativas, principalmente devido aos volumes menores de etanol [que a expectativa da XP] devido à estratégia da empresa de adiar as vendas, o que acreditamos ser a abordagem correta”, afirmaram os analistas Leonardo Alencar, Pedro Fonseca e Samuel Isaak em relatório a clientes.

Eles também atentaram para o avanço limitado na posição de hedge da companhia. A XP pontuou para o fato de que a São Martinho fez hedge de cerca de 30% do açúcar disponível para a próxima safra, com um preço implícito sugerindo um aumento de cerca de 7% na comparação anual.

“No entanto, após incorporar as curvas futuras atuais para taxas de câmbio e açúcar, estimamos que o aumento real de preço para o açúcar será de ~4,4% A/A”, disseram os analistas.

Por isso, a XP avalia que será “crucial” entender a perspectiva da São Martinho sobre os preços do açúcar e a estratégia de hedge da companhia para estimar os lucros da próxima safra, considerando que existem pressões de custo, especialmente de mão-de-obra.

“Acreditamos que o desempenho das ações dependerá do discurso da administração sobre a próxima safra, especialmente porque a empresa não fez progressos materiais em sua posição de hedge”, disse a XP.

“Além disso, buscaremos mais insights da administração sobre como as chuvas recentes podem impactar a produtividade da safra, dada a posição de referência de São Martinho”, concluíram os analistas.

Em relatório distribuído a clientes, o Itaú BBA também disse que aguarda sinais mais claros sobre o preço do açúcar no curto prazo.

A instituição considerou que os resultados vieram de uma forma geral “em linha” com o esperado, manteve posição neutra para a ação e preço-alvo de R$ 37 – uma valorização de cerca de 60% em relação aos valores atuais, oscilando próximos de R$ 23..

“Embora os investidores possam estar menos otimistas em relação a gatilhos de curto prazo, especialmente porque as estimativas de consenso carecem de clareza sobre a moagem de cana-de-açúcar na região Centro-Sul, acreditamos que há uma assimetria positiva em nossos números neste momento”, diz o Itaú BBA em relatório assinado por Gustavo Troyano e Bruno Tomazetto.

O banco disse ainda que, se revisões marginais na expectativa de moagem de cana-de-açúcar na região Centro-Sul não atingirem a casa de cerca de 620 milhões de toneladas, os preços do açúcar podem oferecer “algum potencial de alta” para as estratégias de hedge da companhia, que o Itaú BBA vê como “indicador-chave” para resultados “mais fortes”.

“As expectativas sobre a moagem da cana-de-açúcar definirão a assertividade da estratégia da São Martinho, atualmente alinhada com o cenário do setor”, afirmou a instituição.

“Embora as projeções atuais de consultorias para a moagem de cana-de-açúcar no Centro-Sul do Brasil em 2025/26 estejam em torno de 600 milhões de toneladas, acreditamos que os preços spot do açúcar já refletem algum risco de curto prazo de uma revisão marginal para um volume de moagem de até 620 milhões de toneladas”, disse o Itaú BBA.

“No entanto, a empresa aguarda para capturar preços mais altos no futuro, alinhada às expectativas de seus pares, com a visão estrutural de um déficit de longo prazo sustentando os preços adiante”, concluiu.

O relatório do Citi, por sua vez, destacou os dados do negócio do etanol de milho ao comentar os resultados da companhia, que foram bem recebidos pela instituição.

No negócio de etanol de milho, a São Martinho obteve um ebtida de R$ 74 milhões e receita líquida de R$ 198 milhões, considerando etanol, DDGs (subproduto) e óleo de milho.

No acumulado da safra, foram processadas aproximadamente 402,4 mil toneladas de milho, produzindo 167,6 mil metros cúbicos de etanol e 107,6 mil toneladas de DDGS. A operação de milho contribuiu com cerca de 292,3 mil toneladas de produto (em ATR produzido) e R$ 129,2 milhões de Ebtida aos resultados da companhia em geral.

“Consideramos o resultado positivo, principalmente pela recuperação dos preços e da demanda por etanol, com destaque para as operações com milho, que alcançaram R$74 milhões de Ebtida, impulsionadas pela manutenção da boa eficiência e pelos melhores preços do etanol, marcando um recorde”, afirmou o analista Gabriel Barra em relatório distribuído a clientes.

Já a XP apresentou opinião diferente sobre os dados do etanol de milho. A casa esperava um Ebtida 30% maior nessa linha e disse que tem “questões sobre a viabilidade da estimativa de consenso anual de Ebtida ajustado de R$ 300-350 milhões.”

No lado negativo, o Citi destacou o fato de que a São Martinho apresentou custos unitários mais altos, impactados por menor eficiência operacional e pelas queimadas dos últimos meses.

Ainda assim, o banco manteve uma perspectiva positiva para a companhia e tem posição de compra, com preço-alvo de R$ 33.

“[Estamos] considerando o potencial de aumento nos preços de açúcar e etanol no futuro, ao mesmo tempo em que esperamos uma maior moagem de cana na próxima safra, o que deve sustentar um rendimento atrativo de fluxo de caixa livre”, disse o Citi.

Em relação aos resultados do terceiro trimestre, dois pontos chamaram a atenção do BTG Pactual em relatório distribuído a clientes e assinado por Thiago Duarte, Guilherme Guttilla, Gustavo Fabris e Pedro Soares.

O banco apontou que a operação de etanol de milho “finalmente atingiu sua capacidade máxima”, contribuindo com custo de produção “altamente competitivo”.

Além disso, o BTG considerou que os resultados “relativamente suaves” deste ano podem ser atribuídos às queimadas, “que afetaram negativamente tanto a mistura de produção quanto o custo unitário geral do negócio de cana-de-açúcar.”

A companhia espera que a São Martinho encerre o ano-safra com um ebtida ajustado de R$ 3,3 bilhões e que a moagem volte ao patamar de 23 milhões de toneladas. A expectativa do banco é também de que a operação de etanol de milho contribua com quase R$ 290 milhões ao Ebtida da companhia.

O BTG também está otimista em relação ao desempenho da companhia na safra 2025/2026, tendo em vista as chuvas durante o período entressafra e a não ocorrência de queimadas no período.

“A São Martinho parece pronta para entregar uma melhoria significativa em suas perspectivas de custo unitário em 2025/26, com margens operacionais em expansão também graças a melhores preços de açúcar e etanol”, disse o BTG.

O BTG continua com posição de compra e preço-alvo de R$ 40 para a ação da São Martinho. O banco lembra que a ação está sendo negociada hoje abaixo dos níveis do fim do governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), quando o setor de combustíveis enfrentou dificuldades.

“Acreditamos que a situação atual está longe de ser comparável, tornando o preço atual da ação um ponto de entrada atraente. Além disso, com o Ebtida esperado para crescer 21% no próximo ano, nosso preço-alvo de R$ 40 é menos otimista do que pode parecer à primeira vista”, afirmou o BTG.

“A São Martinho continua sendo uma das nossas principais escolhas no setor agropecuário para o ano”, concluiu o banco.

Ao todo, a São Martinho já processou 21,8 milhões de toneladas de cana-de-açúcar nos nove primeiros meses da safra, queda de 5,5% em relação ao mesmo período do ciclo 2023/2024.

O recuo está relacionado principalmente à questões climáticas. As queimadas da metade de 2024 refletiram em uma menor disponibilidade de cana própria da companhia, que viu essa linha recuar 8,1% nos nove primeiros meses do ano.

Além disso, a moagem também foi comprometida por chuvas que caíram entre outubro e dezembro de 2024, com menos dias disponíveis para o processamento da cana.

Na safra, as operações de cana-de-açúcar produziram cerca de 1,3 milhões de toneladas de açúcar, queda de 9,5% em relação ao mesmo período do ciclo anterior, e 1,0 milhão de metros cúbicos de etanol, alta de 6,4%.

O ATR, indicador que mede a quantidade de açúcar que pode ser extraída da cana-de-açúcar, ficou na média de 142,6 quilos por tonelada, e o volume total foi de 3,3 milhões de toneladas em nove meses. O mix consolidado ficou de 59% para etanol e 41% para açúcar.

A dívida líquida da empresa atingiu R$ 5,1 bilhões, um aumento de 54,9% em relação a março de 2024, refletindo uma maior necessidade de capital de giro. O índice de alavancagem, que é a relação entre dívida líquida e ebtida ajustado, ficou em 1,34x.

Em entrevista ao jornal Valor Econômico, a companhia afirmou que vai investir menos na safra 2024/2025, sob efeito das condições monetárias mais apertadas com a alta dos juros.

A ideia é investir apenas capex recorrente, no valor de cerca de R$ 2 bilhões, para renovação de canaviais.

Dessa forma, ainda segundo o Valor, projetos como a ampliação da planta de etanol de milho da Usina Boa Vista, podem ter alterações. A planta está localizada em Quirinópolis (GO) e tem capacidade de processamento de 500 mil toneladas de milho ao ano.

Nesta segunda-feira, dia 10 de janeiro, as ações da São Martinho começaram o dia com uma boa perfomance, registrando alta de 2,54% por volta de 11h, com os papéis negociados a R$ 22,98 cada.

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