Manutenção precária e falta de profissionalização impulsionam aumento de acidentes aéreos

A morte do advogado Márcio Louzada Carpena, de 49 anos, e do piloto Gustavo Carneiro Medeiros, após a queda de um avião em uma das avenidas mais movimentadas de São Paulo na última sexta-feira, 7, chamou atenção sobre acidentes envolvendo veículos aéreos – tidos como os mais seguros do mundo.

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Em 41 dias (entre 1º de janeiro e 10 de fevereiro) de 2025, o Brasil registrou 21 acidentes aeronáuticos, que resultaram em oito mortes. Dois dos acidentes ocorreram em Goiás, conforme dados do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa).

Foto: Divulgação/Cenipa

Em 2024, o país contabilizou 175 acidentes e 152 mortos – os maiores dados já registrados desde 2015. Os casos envolvem aeronaves das categorias de aviação experimental (ultraleves), privada, agrícola, operações (corporativas ou de lazer), táxis aéreos, especializadas (agrícola, paraquedismo, fotografia) e aviação regular.

O advogado, piloto e professor de direito aeronáutico, Georges Ferreira, explica que a incidência envolvendo o transporte aéreo está ligada ao preço do dólar – atualmente cotado a R$ 5,81 – que atinge diretamente a manutenção de aviões de grande, médio e pequeno porte.

“Isso impacta na aviação, a questão do dólar, a dificuldade de importação, o excesso de burocracia. Isso tudo acaba se refletindo com uma série de dificuldades. Enquanto só caia ‘aeronaves pequenas’, o problema não parecia tão representativo, mas ano passado caiu um avião da Voepass. Foi algo que não acontecia no Brasil há 15 anos”, afirma ao Jornal Opção.  

A empresa ganhou manchetes em agosto de 2024 depois que 62 pessoas – sendo 58 passageiros e quatro tripulantes  – morreram com a queda da aeronave, em São Paulo. Cinco meses depois, a Voepass veio a público anunciar que entrou na Justiça para viabilizar uma reestruturação financeira, a fim de redefinir dívidas de curto prazo e manter a sustentabilidade das atividades da companhia aérea. 

“O Brasil não fabrica peças para as aeronaves, não fabrica aeronaves pequenas e, mesmo assim, você não tem alívio para importar essas peças. Não tem uma correta aplicação tributária para que isso fique acessível, até o próprio combustível representa um custo. Nas operações privadas vai de 30%, táxi aéreo 37% e para as empresas aéreas é 40-42%, só o preço do combustível”, explica.

Falta de profissionais 

Georges diz ainda que, além do alto custo de manutenção, a falta profissionais qualificados no meio aéreo também é outro fator que pesa na segurança do transporte. De acordo com o especialista, o piloto deve ser um “gestor da aeronave”, o que, na prática, tem baixa adesão.

A implementação da cultura de segurança e a busca por conhecimento prático e técnico das aeronaves também são indispensáveis, conforme o advogado. Segundo ele, é preciso conhecer o equipamento, a manutenção e a legislação. Estudar as oficinas e se elas seguem as orientações da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) também é fundamental na prevenção de acidentes. 

A presença de um engenheiro, de um gerente de segurança operacional e um centro técnico de manutenção são diferenciais, de acordo com o especialista. O professor diz que também é necessário cursos por parte das agências reguladoras e de fiscalização, como o Cenipa, promovendo palestras e ciclos de reciclagem. 

“O piloto de um jatinho tem que ir a cada dois anos fazer um treinamento no exterior se for privado. Se for táxi aéreo, tem que fazer treinamento a cada ano. Até mesmo a própria manutenção que é aplicada na aeronave tem os períodos e não pode ser feita por qualquer um ou de qualquer jeito. Você não pode deixar buraco”.

Aviação em Goiás

Atualmente, o Brasil tenta se recuperar do baque provocado pela pandemia. Antes da Covid-19, o país possuía 21,8 mil aeronaves. Em 2024, esse número passou para 20,8 mil, segundo a Anac. 

Em Goiás, a frota chega a 1.621, a 7ª maior do Brasil. O estado fica atrás apenas de São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso, Paraná, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul – este último por apenas cinco unidades. Mesmo com a queda no ranking (Goiás ocupava a 5ª posição), o estado é considerado o segundo maior polo de manutenção de aeronaves do país. 

“Atendemos a manutenção de aeronaves e peças de toda a região centro-norte do Brasil, como Mato Grosso do Sul. O Pará, Tocantins e Amazonas desce praticamente todo para Goiás. Temos a maior empresa da América Lática aqui em Goiânia. Perdemos apenas para São Paulo, que a frota é gigantesca”, conclui Georges. 

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