O aiqfome, do Magalu, “entrega” mais cidades para desafiar o iFood

Fundado em 2007, em Maringá (PR), por Steph Gomides e Igor Remigio, o aiqfome foi um dos pioneiros entre os aplicativos de food delivery no Brasil. E, sem investidores externos, por escolha própria do casal, encontrou um atalho para desbravar esse mercado: as cidades entre 30 mil e 200 mil habitantes.

Comendo pelas beiradas, a plataforma chegou longe e foi comprada, em 2020, pelo Magazine Luiza. Agora, o app prepara novos ingredientes para dar mais tempero na disputa com o iFood, líder do setor. Além de novas praças, essa receita inclui um programa de fidelidade, novas categorias e tecnologia.

“Nós escolhemos capinar o mato alto”, diz Remigio, cofundador e CEO do aiqfome. Ele ressalta o que acredita ser um diferencial da plataforma no menu de players à disposição do setor. “Nenhum concorrente consegue atender um dono de restaurante lá em Itapipoca (CE) presencialmente.”

Há diversos outros CEPs nesse mapa. Hoje, o aiqfome está presente em mais de 700 cidades. O aplicativo tem mais de 6 milhões de usuários, mais de 30 mil restaurantes em sua base e uma média superior a 2 milhões de pedidos mensais.

O impacto da compra pelo Magazine Luiza também pode ser ilustrado por outros números. Antes da aquisição, a plataforma registrava um GMV (o volume geral de vendas gerados pelos restaurantes) de R$ 600 milhões. E fechou 2024 com um montante de R$ 1,3 bilhão.

Batizado de d+ e lançado como um projeto-piloto no fim de 2024, o programa de fidelidade do aiqfome é um exemplo dos próximos frutos dessa interação com o Magazine Luiza. Primeiro, ao dialogar com a tese da varejista de ampliar a recorrência em seu ecossistema.

A partir de uma assinatura mensal de R$ 24,90, o aplicativo traz cupons diários de descontos e entregas grátis. E a possibilidade de usar essas mesmas ofertas nos canais do Magazine Luiza e nas demais marcas do grupo – Netshoes, KaBuM! e Época Cosméticos.

Com cerca de 5 mil assinantes e a projeção de chegar a 20 mil no fim de 2025, o aiqfome tem no forno uma nova opção do plano, com um preço mais acessível. E, segundo Remigio, há um estudo para que esse seja um teste para um programa de fidelidade que englobe, de fato, todas as marcas da varejista.

O aiqfome também quer usar esse vínculo com o Magazine Luiza quando começar a desembarcar nas capitais, um passo que deve ser dado daqui a dois anos, quando prevê chegar à marca de mil cidades.

Para 2025, a previsão é adicionar 70 municípios a essa base. E, nesse percurso, além de subir sua régua para praças de até 300 mil habitantes, a plataforma vai manter seu modelo de licenciamento, similar ao de uma franquia.

Hoje, 280 parceiros respondem pela operação em uma ou mais cidades. Ao longo de 18 meses, eles investem entre R$ 70 mil e R$ 120 mil, dependendo do tamanho do município. As receitas vêm de uma comissão de 10% do GMV, que é dividida igualmente entre o licenciado e o aiqfome.

“Temos sócios locais, que conhecem e falam o mesmo sotaque dos donos dos restaurantes”, diz. Para ele, esse foi um contraponto a outros players, que investiram pesado em M&As para abrir novas cidades e adotaram o mesmo padrão para essas operações, sem respeitar as nuances de cada região.

Três tentativas

A escolha desse modelo – do licenciamento e das cidades menores – foi motivada justamente por uma proposta de M&A. Em 2014, o iFood, que já mostrava bastante apetite para dominar esse mercado, fez sua primeira oferta para comprar o aiqfome. Outras duas tentativas foram feitas nos anos seguintes.

“Nunca foi nossa ideia vender para o iFood, pois já achávamos que alguém teria que fazer esse papel de antagonista a eles”, diz Remigio. A tese foi acompanhada da constatação de que era preciso ir além de Maringá para não ficar vulnerável também a investidas de outros nomes, como a Rappi.

O fato é que, com o passar do tempo, a competição tem se mostrado inglória. E não apenas para o aiqfome. Com R$ 2,1 bilhões captados junto a fundos como o holandês Prosus e o sul-africano Naspers, o iFood ocupou essa trincheira com um market share estimado em cerca de 85%.

Segundo dados do iFood, sua plataforma registra mais de 110 milhões de pedidos por mês, supera 55 milhões de clientes, tem mais de 380 mil restaurantes e está presente em mais de 1,5 mil cidades.

Com esse poder de fogo, em 2022, o iFood entrou na mira de denúncias de rivais como a Rappi no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). E, em 2023, assinou um termo de compromisso com o órgão, que restringiu acordos de exclusividade com restaurantes, entre outras medidas.

Em um dos efeitos do seu domínio, também em 2022, o Uber Eats, braço de delivery da americana – e ainda mais gigante – Uber, deixou o Brasil por não conseguir fazer frente à plataforma. O aiqfome enxerga, porém, a possibilidade de um final mais feliz na associação com o Magazine Luiza.

“Meus concorrentes operam no Brasil, mas os donos são fundos estrangeiros. O Magalu é 100% brasileiro e tem uma cabeça como a nossa, de não torrar dinheiro para comprar mercado”, diz. “Além de nos dar dá relevância nacional e mais escala.”

Igor Remigio, cofundador e CEO do aiqfome

O aiqfome também busca se diferenciar em outro ponto – de bastante discórdia – nesse segmento: as taxas que os restaurantes pagam às plataformas. Conforme apurou o NeoFeed, esses patamares, no caso do iFood, costumam partir de 12% a 14% e chegam, em alguns casos, a índices próximos de 30%.

“Nós colocamos um restaurante para rodar com uma média de comissão de 9% a 10%”, afirma Remigio. “E quando esse estabelecimento começa a ter escala, podemos chegar a uma faixa de 5,5% a 6,5%.”

Em outra fronteira de expansão, as ofertas em outras categorias são mais um foco para 2025. A estratégia inclui supermercados, farmácias, pet shops e conveniência, e responde por 5% do GMV. A projeção é chegar a 10% nesse ano.

No seu negócio tradicional, o app tem parceiros como Subway, Bob’s e Burger King, além de restaurantes locais. E, nessas novas frentes, conta com redes regionais como Molicenter, Compre Mais, Drogão Popular e Supermercados e Drogarias Coocerqui.

Em 2025, a empresa também quer avançar além do balcão dos clientes, com ofertas de tecnologia. Isso inclui uma plataforma white label para que os restaurantes operem seus próprios sistemas de delivery. Com mensalidades entre R$ 180 e R$ 220, essa ponta gerou um GMV de R$ 200 milhões em 2024.

Fôlego e respeito

Para Cristina Souza, CEO da consultoria Gouvêa Food Service, a estratégia do aiqfome é válida por criar uma fidelidade com regiões que muitas vezes se sentem preteridas por grandes players. E dá tempo para que o app se fortaleça.

“Eles podem amadurecer sua tecnologia, já que o iFood tem uma robustez tech e é um espanta foodtechs, por tudo que já construiu”, diz. “E isso traz fôlego para um crescimento que não é fácil. Mas que é silencioso e respeita o risco que correriam se fossem peitar o iFood sem estarem prontos.”

Ela cita a própria história da Magazine Luiza como um exemplo de uma empresa que nasceu no interior e hoje figura entre os principais varejistas. E que pode turbinar a operação com seu ecossistema, base de clientes e cobertura nacional.

“Ainda há espaço para novos players. Hoje, o delivery responde por 20% a 23% das vendas das grandes redes de restaurantes e, nos estabelecimentos menores, por 10%”, diz. “Mas é preciso reconhecer tudo o que o iFood fez até aqui. Eles não são os vilões.”

Remigio reconhece esses méritos, mas ressalta que esse nível de concentração é prejudicial para toda a cadeia. Das plataformas que queimam caixa para crescer até os restaurantes que, submetidos a taxas elevadas, repassam esse preço cobrado aos consumidores.

“Eu sei que é ousado, mas nossa posição é tentar ajudar a equilibrar esse mercado”, diz Remigio. “E eu sou muito teimoso. Vou insistir até o final. Se for para cair, vou cair atirando. Mas o melhor de tudo é que não estamos caindo. Estamos crescendo.”

++ Notícias

  • LG lugar de gente e iFood Benefícios se unem para transformar a experiência dos clientes

  • Luiza Trajano planeja novo grupo de mulheres empreendedoras para replicar ‘DNA Magalu’

  • Haddad entrega hoje lista com 25 medidas prioritárias para novos presidentes da Câmara e Senado

  • Hamas entrega três reféns israelenses à Cruz Vermelha em Gaza

  • Beyoncé no Brasil? Cantora anuncia as cidades da turnê ‘Cowboy Carter’; veja os destinos

O post O aiqfome, do Magalu, “entrega” mais cidades para desafiar o iFood apareceu primeiro em Market Insider.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.
 
 

[email protected]