Dona Francisca, aos 83 anos, não merece ser decepcionada

Por Maurílio Júnior

Do Blog do Maurílio Júnior

Hugo Motta (Republicanos) encerrou sua primeira semana como presidente da Câmara dos Deputados acumulando polêmicas – algo incomum para o jovem parlamentar paraibano de 35 anos, que até então mantinha um perfil discreto.

Ele começou a semana questionando a amplitude da Lei da Ficha Limpa, uma conquista da sociedade contra a corrupção, e terminou relativizando os ataques golpistas de 8 de janeiro, alegando que não houve tentativa de golpe.

Entre um episódio e outro, levou sua avó, a deputada estadual Francisca Motta (Republicanos), para uma reunião com o presidente Lula (PT), no Palácio do Planalto.

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Lá, de forma carinhosa, Lula beijou a mão de dona Francisca, que agradeceu ao petista pelo apoio ao neto na eleição da Câmara. Em entrevista à imprensa, Hugo Motta destacou a trajetória da avó e fez questão de lembrar que ela sempre foi eleitora de Lula.

Apesar da pouca idade, Hugo Motta é um veterano na política. Cresceu em um ambiente tradicional do Sertão paraibano e chegou à Câmara Federal aos 21 anos, em 2010. Sua proximidade com Eduardo Cunha, o ex-presidente da Câmara que liderou o impeachment de Dilma Rousseff, já dizia muito sobre seu trânsito nos bastidores do poder.

Mas ser experiente não significa estar acima da lei. E Hugo Motta sabe disso. A Lei de Defesa do Estado Democrático de Direito, em seu artigo 359, define como golpe de Estado a tentativa de depor, por meio de violência ou grave ameaça, um governo legitimamente constituído.

Ainda assim, ele insiste: “Mas não teve golpe”. O problema é que a lei não exige que o golpe se concretize; a tentativa já caracteriza o crime.

No jogo político, Hugo Motta pode escolher a conveniência das narrativas. Mas há algo maior que o pragmatismo: a responsabilidade com a democracia. E, acima de tudo, com aqueles que confiaram nele. Dona Francisca, aos 83 anos, não merece ser decepcionada.

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