O apetite da Frimesa para dobrar de tamanho e avançar rumo aos R$ 15 bi

A fórmula bem sucedida do cooperativismo paranaense fica ainda mais evidente em períodos de “ajuste” do agronegócio.

Enquanto algumas agroindústrias no País contabilizam dívidas em alta e dificuldades para lidar com a oscilação das commodities, as cooperativas do Paraná seguem anunciando investimentos e divulgando projeções otimistas para 2025.

A Frimesa, cooperativa central criada no final da década de 1970, em Medianeira-PR, é mais um exemplo deste cenário. Surgiu no modelo de “intercooperação”, quando grandes cooperativas se juntaram – no caso, C.Vale, Copacol, Lar, Primato e Copagril.

“Ela foi criada com o objetivo de agregar valor em duas cadeias produtivas, a suinocultura e o leite, porque a viabilidade delas depende muito da escala de produção, de transformação e de participação no mercado”, afirmou o presidente da Frimesa, Elias Zydek, em entrevista ao AgFeed.

Ele explica que, se cada uma fizesse seus projetos individuais, nenhuma seria grande o suficiente para ser competitiva nos mercados nacional e internacional. “Por isso que surgiu a ideia de fazer uma intercooperação entre as cinco. Investir juntas, criar uma marca única e com isso poder acessar e ter força no mercado”.

O modelo tem dado certo. A Frimesa já aparece em quarto lugar no ranking das grandes empresas produtoras e exportadoras de suínos e derivados do Brasil, perdendo apenas para potências como Seara, Aurora e BRF.

A produção de lácteos responde por 30% do faturamento e o restante, 70%, está ligado a suinocultura. Em 2024, a receita da Frimesa chegou a R$ 6,58 bilhões, alta de 7,5% em relação ao ano anterior.

Para 2025, o presidente da cooperativa disse ao AgFeed que projeta mais crescimento, de 8,5%, alcançando R$ 7,16 bilhões.

O crescimento não ocorre só porque nos últimos meses a carne suína vem aumentando de preço. O avanço da Frimesa ocorre também em números de produção.

A cooperativa inaugurou em 2023 a maior unidade frigorífica de suínos da América Latina, também no Paraná, na cidade de Assis Chateubriand. Foi resultado de um planejamento feito em 2015, quando se percebeu a necessidade “de uma planta moderna, grande, que pudesse receber toda a intenção dos produtores de ampliar a produção de suínos”, disse Zydek.

A nova planta terá capacidade para abater 15 mil cabeças de suínos por dia. “Até 2026, nós concluiremos a primeira fase, que é 7,5 mil suínos por dia. Depois, até 2032, implementaremos a segunda fase”.

Considerando as três plantas industriais que possui, a Frimesa já abate atualmente 12 mil cabeças por dia. O plano é chegar em 2032 com 23 mil cabeças ao todo.

Se o planejamento for cumprido, Elias Zydek espera que o market share da Frimesa no processamento de suínos do Brasil suba dos atuais 7,5% para 14%. E assim, disse ele ao AgFeed, o planejamento indica que o faturamento chegará a R$ 15 bilhões em 2032.

Momento favorável

Além da disciplina e cultura tradicionais das cooperativas paranaenses, conta a favor da Frimesa atualmente as condições de mercado para o setor de suínos.

Em volume, a produção da cooperativa central está crescendo em torno de 8% a 10% no caso de suínos e derivados, percentual que deve se repetir em 2025.

A estrutura física da maior planta da América Latina já está pronta, segundo Zydek, por isso a maior parte do investimento já foi feito. “A gente só vai agregando a cada ano mais máquinas e equipamentos”.

De 2021 até o final do ano passado foram investidos R$ 1,3 bilhão. A partir de agora, devem ser feitos aportes de aproximadamente R$ 100 milhões a cada ano.

O entusiasmo se justifica pela expectativa de que os momentos ruins ficaram para trás no setor de suínos.

“No segmento de suinocultura, 2022 e 2023 foram dois anos muito difíceis. O custo de produção estava alto pelo valor dos grãos e o preço internacional da carne estava reduzido”, lembrou Elias.

A partir de junho de 2024, no entanto, o dirigente conta que começou a reverter a situação. “Houve recuperação do preço internacional da carne suína, que subiu em torno de 400 dólares a tonelada. E houve redução do custo de produção, muito significativo, em torno de 20%”, explica.

Neste cenário, ele diz que ficou no zero a zero no primeiro trimestre, mas recuperou no segundo, o que garantiu fechar 2024 “dentro da expectativa”.

A expectativa de crescimento para 2025, na visão do dirigente, se deve a preços melhores e maiores volumes. “Exportação está melhor, houve recuperação do preço internacional de carnes e também do mercado interno. Isso é muito puxado pela carne de boi também, tem uma influência. Na proteína animal, o boi subindo acaba puxando carne suína, carne de frango, tem uma correlação ali direta”, explica.

Na Frimesa, 23% do faturamento vem da exportação e o restante é mercado interno. Pelo planejamento estratégico, a cooperativa espera chegar em 2032 com 70% vindo do mercado externo.

Mais um ponto que indica o momento mais favorável, segundo Zydek, é a redução da dependência da China, que deixava o mercado muito instável. “De 2022 para cá entraram outros mercados. No ano passado o grande diferencial foi Filipinas, que entrou comprando muito, aumentou a demanda e melhorou os preços”.

O ciclo positivo, na avaliação do presidente da Frimesa, deve seguir pelo menos até o primeiro trimestre de 2026. O motivo é a sensação de maior equilíbrio entre oferta e demanda mundial.

“O grande mercado de carne suína é a Ásia. E os Estados Unidos e Canadá têm muito problema com sanidade, os asiáticos também. Quem vai ter condições de competir é o Brasil, por causa do seu custo de produção”

Elias Zydek diz que o custo de produção do quilo de suíno vivo no Brasil está em torno de U$ 1, quanto nos EUA é US$ 1,25 e na China chega a US$ 1,40, já que precisam comprar soja brasileira.

“Por isso que a nossa previsão é de anos bons. Se o Brasil mantiver somente o controle da oferta, ou seja, não crescer muito a oferta que agora está tendo resultado – isso é muito importante, administrar essa situação, para ter aumentos controlados de produção -, aí eu acho que vai se firmar por alguns anos esse ciclo positivo da suinocultura”.

Quanto ao desafio de concorrer com empresas gigantes como as listadas na bolsa, Zydek diz que a Frimesa tem conseguido avançar bem, com alguns diferenciais.

“Nós temos hoje a originação de toda a matéria-prima dentro de casa. Milho, soja, tudo, a nutrição”, explica. “E a genética é universal, o que a genética tem, a genética que vem da Europa, dos Estados Unidos, é a mesma”.

Ao todo são 1.150 produtores e todos precisam ser certificados, obedecendo critérios específicos.

“Nas indústrias, a nossa planta é mais moderna do que a última deles, não temos problema em produtividade industrial”, avalia. “O que a gente sente alguma coisa é quem tem produção em outros países, como a JBS, que produz suíno nos EUA”.

A queixa de Zydek é o atual cenário da economia brasileira e as dificuldades em relação a temas como carga tributária e infraestrutura.

“Se eu tivesse que começar a investir para a segunda fase (de expansão) agora, eu não investiria. Você vai pegar dinheiro e pagar juro de 15% ao ano numa inflação de 6%, não reverte, não paga”, afirmou.

Em função disso, ele admite ter desacelerado um pouco o ritmo de crescimento. Em 2024 foram investidos R$ 130 milhões, já este ano serão R$ 73 milhões. “Mas produção vai aumentar porque tem espaço. Agora é ocupar as capacidades. A gente só investe em tecnologias, linhas que produzam produtos de valor agregado, olhando praticidade”.

A expectativa para atingir o plano estratégico é vender produtos premium e cortes especiais de carne suína. Zydek diz que o consumo no Brasil está aumentando, chegou a 20kg por habitante, enquanto há 5 anos estava em torno de 16kg, muito baseado nessa busca de produtos diferenciados.

O fato de ser uma cooperativa, conhecida por maior foco na melhoria de vida das pessoas, segundo ele, também ajuda na hora de conversar com os compradores internacionais. “Tem sido uma boa propaganda lá fora”.

Para enfrentar o momento desafiador da economia brasileira, o presidente da Frimesa também contou ao AgFeed que está atento ao movimento do mercado de capitais.

A cooperativa fez um FIDC no ano passado de R$ 200 milhões para obter recursos para capital de giro, com apoio do Itaú BBA. A operação foi feita num prazo de 5 anos. “Os fundos passaram a ser uma opção boa, o custo desse dinheiro está sendo menor do que se fosse acessar um crédito comercial”.

Crescimento nos lácteos

No setor leiteiro, a Frimesa diz que também deve priorizar, cada vez mais, a “linha premium”, com produtos de maior valor agregado.

A cooperativa está processando atualmente 800 mil litros por dia, mas nos próximos três anos espera usar toda a capacidade de suas unidades, para chegar a 1 bilhão de litros. São 2,2 mil produtores que fornecem o leite para a Frimesa.

“Leite longa-vida, queijo mussarela, são produtos que têm uma oscilação de mercado muito forte. E eles sofrem muito com os processos de importação, principalmente do Mercosul. Por isso é que o nosso foco em leite é ser diferenciado e ir em uma velocidade um pouco mais lenta”.

Este produto “diferenciado” seria, por exemplo, o queijo parmesão da Frimesa, que já teria alcançado premiações. A cooperativa está também investindo em queijos finos como camembert e gorgonzola, além de iogurtes funcionais e um “doce de leite premium”.

Três fábricas já estão construídas e ainda contam com capacidade ociosa para expansão. “A cada ano a gente vem agregando novas linhas de equipamentos que consigam produzir esses produtos diferenciados”.

Para 2025, a previsão é aumentar em 6,5% o volume de lácteos comercializados. Neste segmento, estão previstos investimentos de R$ 80 milhões nos próximos três anos.

Investimento em biometano

Outra política forte na Frimesa são os projetos ESG. Um dos destaques é a produção de biometano, na chamada economia circular, onde são aproveitados os resíduos e dejetos industriais da produção de suínos.

“Já fizemos investimento em duas plantas, as maiores. Na situada em Medianeira, já estamos produzindo o biometano. Ele está substituindo o GLP, que é derivado de petróleo, já dá 100% a substituição pelo gás metano. Ele é usado dentro do processo industrial”.

O presidente da Frimesa conta que na planta de Assis Chateaubriand, em uma segunda etapa, será produzido também o gás liquefeito, para biocombustível, que vai abastecer os veículos que fazem o recolhimento dos suínos.

Nesta e em outras tecnologias, como a produção de CO2, já foram investidos R$ 50 milhões nos últimos 3 anos. Tudo é aproveitado e um resíduo pastoso que sobra vai para a adubação orgânica nas propriedades.

Desde 2023, a Frimesa tem metas de descarbonização. O plano é neutralizar todo o carbono gerado dentro do escopo 1 até 2040.

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