Cornélio Brennand, um legado inestimável

Folha de Pernambuco

O céu cinzento e a chuva que caía desde as primeiras horas do dia refletiam o sentimento de despedida. Em um ambiente de profunda reverência, familiares e amigos se reuniram no Cemitério Morada da Paz, em Paulista, no Grande Recife, para dar o último adeus ao empresário Cornélio Coimbra de Almeida Brennand, que faleceu na madrugada, de causas naturais. A cerimônia, marcada pela discrição e pelo respeito, contou com uma missa celebrada pelo Monsenhor Luciano Brito, da Paróquia Nossa Senhora das Graças.

Lideranças empresariais e políticas pernambucanas, e colaboradores que trabalham no Grupo da família, se misturavam à imensa quantidade de coroas de flores que chegavam durante todo o tempo que durou o velório. Cornélio foi um grande empresário, um visionário dos negócios em todos os segmentos em que investiu, sempre obtendo êxitos.

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Fez com que o Grupo que comandou se expandisse, ganhando novos mercados. Esse era o homem de negócios que todos conheciam, aquele que desenvolveu com sucesso um conglomerado diversificado em setores estratégicos para a economia. Por outro lado, sempre se recusou a usar o sucesso empresarial para promover a imagem pessoal. Era um homem reservado, discreto.

Introspectivo

Mesmo introspectivo, gostava de conversar. Caracterizado por uma personalidade low profile, evitava aparecer, era desprovido de vaidades. Sempre foi assim. Mas isso nunca o impediu de, ao longo de 96 anos, fazer muitos  amigos, de verdade.

Cornélio foi um marido dedicado, pai amoroso e avô atencioso. A família era o centro de sua vida, estava à frente de tudo para ele, que faria qualquer coisa para protegê-la e garantir seu bem-estar. Há um fato ilustrativo a esse respeito. Em 1917, a família convidou o premiado escritor Ignácio de Loyola Brandão para registrar a história de 100 anos do Grupo Cornélio Brennand em livro.

O encontro foi no célebre sobrado da Várzea do Capibaribe. Loyola lembrou que Cornélio Brennand, homem que pouco aparecia em público, o advertiu sobre a questão da exposição da família na obra: “Você deve contar a história de um grupo, de negócios, das empresas. Não das pessoas, da família”, pediu.

Um dos momentos mais interessantes da trajetória da família Brennand, para Ignácio de Loyola Brandão, foi o olhar de Ricardo Lacerda de Almeida Brennand, pai de Cornélio, sobre a Praia do Paiva. Segundo ele, no intuito de extrair matéria-prima para suas indústrias, o empresário soube que lá havia argila e, em setembro de 1953, conseguiu comprar 8 km do litoral. Os filhos o criticaram, mas o instinto de empreendedor garantia um bom negócio.

Visão

“O senhor Ricardo tinha uma visão extraordinária, e comprou o sítio, mesmo a um preço exorbitante. A argila acabou rapidamente, mas ele sabia, desde aquela época, que o Recife iria crescer para aquele lado. E cresceu! Onde hoje é a Reserva do Paiva. Aí eu me pergunto: de que material é feito um empreendedor?”, indagou o escritor.

Alicerce

Cornélio foi o alicerce de uma família que herda seus valores e princípios. Casou-se com Helena, com quem teve os filhos Luiz Felipe (falecido), Helena, Cornélio, Mariana, Carlos Eugênio, Tereza e Maria Eduarda. Sua história é um testemunho da força do empreendedorismo, da importância da visão e da determinação.

Deixa um legado, que recebeu do pai, para inspirar gerações futuras. Outra fala de Loyola também comprova-o: “A característica de inovar existe desde quando Francisco do Rego Barros de Lacerda, há 100 anos, foi buscar maquinário para os engenhos nos EUA e voltou com a casa de ferro, pois não queria as casas coloniais, queria algo diferente. Até hoje essa modernidade continua na família, eles sempre foram modernos”, comentou ele, na época.

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