Cargill surpreende, faz lance bilionário e anuncia compra de 100% da SJC Bioenergia

A gigante norte-americana Cargill virou o jogo na reta final e vai adquirir os 50% da SJC Bioenergia que faltavam para que se tornasse a única dona do negócio, que tem como ativos duas usinas com capacidade para processar 9 milhões de toneladas de cana e um adicional de 2 milhões de toneladas equivalentes de milho.

A aquisição foi oficializada pela companhia com um comunicado distribuído nas primeiras horas desta quinta-feira.

O valor do negócio não foi divulgado, mas fontes que acompanharam de perto a negociação – que finalizou um longo embroglio corporativo e envolveu credores da antiga Usina São João, com quem a Cargill formou a joint venture que originou a SJC em 2011 – apontam que ela deve ter superado os R$ 2,6 bilhões, incluindo dívidas, segundo apurou o AgFeed.

O anúncio da Cargill foi, de certa forma, um desfecho inesperado para o caso. Como mostrou o AgFeed em outubro passado, a participação negociada estava nas mãos de bondholders, detentores de títulos emitidos pela Usina São João que, em troca de sua dívida, receberam títulos conversíveis em participação na companhia.

Representados pela firma de investimento americana CarVal, eles contrataram o banco Morgan Stanley para encontrar um comprador para sua fatia no negócio e têm a expectativa de que ele se concretize até o fim deste ano.

Na ocasião, a Cargill não havia manifestado interesse em arrematar o restante do capital da SJC. E havia quem apostasse que a própria parte da companhia americana pudesse ser colocada à venda.

De lá para cá, entretanto, novos movimentos mudaram o jogo. Segundo as mesmas fontes, a CarVal teria até concordado com uma das propostas apresentadas, na faixa dos R$ 2,6 bilhões, feita pelo fundo Mubadala Capital, controlador do grupo sucroenergético Atvos.

Então, a Cargill voltou à mesa e sacou o direito de preferência, mas teve de pelo menos empatar o valor proposto pelo grupo de Abu Dhabi. As duas usinas da SJC são avaliadas em cerca de R$ 4,5 bilhões.

Assim, a companhia, que já possui os outros 50% da operação, passará a ter o controle total da SJC Bioenergia, que ainda será submetido à aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

“Ao celebrar 60 anos de operações no Brasil, a Cargill continua acreditando e investindo no País e na agricultura brasileira”, afirmou Paulo Sousa, presidente da Cargill no Brasil, no comunicado.

“Nos últimos anos investimos mais de R$ 6.8 bilhões em nossas operações e, se concretizada após a devida aprovação dos órgãos reguladores, ter a SJC como uma empresa 100% controlada pela Cargill é um reforço importante em nossa estratégia de crescimento em energias renováveis”, afirma.

O anúncio acontece em um momento de retomada do mercado sucroenergético brasileiro, depois de um período ruim para o setor, que desacelerou devido aos preços baixos e à falta de estímulo.

Nos últimos anos, no entanto, a melhora dos preços, seguido pelo aumento da demanda e o anúncio de projetos com o Combustível do Futuro, deram novo fôlego à produção de etanol tanto de cana quanto de milho.

Outro motivo que torna o movimento da Cargill surpreendente é o fato de a empresa, globalmente, ter se retirado do negócio de trading de açúcar e ter mantido, como único negócio no setor, a própria SJC Bioenergia.

Recentemente, outra transação, envolvendo a concorrente Bunge, reforçava a tese de que as tradings de grãos estavam deixando o setor sucroenergético. A companhia americana vendeu, em junho do ano passado, sua parte na BP Bunge para a agora ex-sócia BP Bioenergy por US$ 1,4 bilhão (cerca de R$ 8,4 bilhões).

A perspectiva de valorização dos ativos da SJC parece ter pesado na decisão da Cargill. Com a consolidação nas mãos de um único dono e sem a disputa com os credores, a empresa teria melhores condições de surfar na onda dos biocombustíveis que ganha corpo no País.

No ano passado, um estudo divulgado pelo Ministério de Minas e Energia (MME) e pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), estimou que até 2034, a oferta de etanol no Brasil produzido a partir da cana e do milho deve crescer 3,8% ao ano em relação a 2022 e chegar a 48 bilhões de litros. Nesse mesmo período, a estimativa é de que a demanda atinja 45 bilhões de litros.

Altos e baixos

A SJC surgiu como um fruto do desejo da família de José Ometto, controladora da Usina São João de Araras (USJ), de expandir os negócios para a região Centro-Oeste do país, nos anos 2000.

Em setembro de 2011, a SJC passa a ter a multinacional norte-americana como sócia.

O negócio marcou também a entrada do grupo no mercado internacional, utilizando toda a expertise da Cargill nesse segmento.

Juntas na joint venture, as duas empresas investiram nas unidades agroindustriais localizadas em Goiás, nos municípios de Cachoeira Dourada (Usina Rio Dourado) e Quirinópolis (Usina São Francisco), colocando-as entre as mais modernas do Brasil na ocasião.

A Cachoeira Dourada, então em construção, foi finalizada, resultando na expansão da capacidade produtiva que passou de 5 milhões de toneladas para 7,5 milhões de toneladas na safra 13/14.

À época, o investimento total na unidade foi de R$ 500 milhões e a usina foi considerada a mais moderna do país.

Em 2015, o grupo iniciou a construção de uma unidade de processamento de grãos na Usina São Francisco, marcando a entrada da SJC Bioenergia na produção de etanol de milho.

No ano seguinte, como consequência dos investimentos no esmagamento de milho, o grupo anunciou a criação de uma linha de produtos voltados para a nutrição animal.

Hoje, a produção engloba cana de açúcar e milho, produzindo açúcar bruto, etanol hidratado e anidro, óleo de milho e grãos secos de destilaria (DDGs) com alto teor de proteína

No entanto, 2016 também foi um ano de más notícias para a USJ que enfrentou dificuldades financeiras, passando inclusive por um processo de recuperação judicial, em 2021.

O cenário econômico, com crise nos preços do etanol, foi fator decisivo para comprometer o bom andamento das operações do grupo.

No plano de recuperação apresentado aos credores, a USJ concordou em abrir mão de sua participação (estimada na época em R$ 1,5 bilhão) em favor dos bondholders, além de se desfazer de três fazendas e de três precatórios provenientes de ações ganhas contra o Instituto do Açúcar e do Álcool.

Desde então, os donos dos bonds buscaram atuar em conjunto para encontrar um comprador para sua participação. Chegaram a negociar, em 2022, uma solução conjunta com a Cargill, mas diante da falta de um acordo, decidiram seguir sozinhos e entregaram um mandato ao Morgan Stanley.

Agora, o acordo saiu, abrindo um novo capítulo na história da SJC.

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