Brasileiro consome mais café, mesmo pagando caro. E os preços vão subir ainda mais, diz Abic

Enquanto os representantes da Associação Brasileira das Indústrias de Café (Abic) apresentavam os números do setor, nesta quarta-feira, na capital paulista, as cotações dos contratos futuros de café arábica em Nova York alcançavam nova alta recorde.

Os preços atingiram pela primeira vez a marca de US$ 4 por libra-peso, ao longo da tarde, mas fecharam com ganho de 1.440 pontos no valor de 397,75 centavos de dólar por libra-peso, no vencimento de março/25.

“Estamos vivendo um dia histórico”, sintetizou Pavel Cardoso, presidente da Abic,, segurando nas mãos um celular mostrando a cotação da bolsa ICE, referência para os preços.

A declaração foi durante um encontro com jornalistas, na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), para mostrar, entre os outros dados, os números do consumo de café.

Não apenas o dia de hoje, mas o ano de 2024 como um todo foi marcante para a indústria do café, que viu as cotações da matéria-prima dispararem ao longo do período, atingindo patamares não vistos há décadas, ao mesmo tempo em que seu faturamento subiu significativamente.

Apesar dos preços em alta, os brasileiros continuaram tomando (muito) cafezinho – cada pessoa consome, em média, 1.430 xícaras de café. Dessa forma, a indústria registrou um aumento de 1,1% no consumo de café no Brasil entre novembro de 2023 e outubro de 2024.

Ao todo, o público o consumo atingiu um volume equivalente a 21,9 milhões de sacas de café no ano passado, ante 21,68 milhões no mesmo período de 2023 e próximo do valor mais alto da série histórica, de 22 milhões de sacas, registrado em 2017.

A região Sudeste é a que mais consome café no País, responsável por 41,7% do total, seguido por Nordeste (26,9%), Sul (14,6%), Norte (8,8%) e Centro-Oeste (8,0%).

No mundo, em termos de consumo, o Brasil fica atrás apenas dos Estados Unidos, que consome 26 milhões de sacas por ano.

O consumo per capita no Brasil entre novembro de 2023 a outubro de 2024, no entanto, foi mais alto, chegando a 6,26 kg de café cru contra 4,9 kg dos Estados Unidos.

Com os preços mais elevados em geral, o faturamento do mercado interno também cresceu bastante, passando de R$ 22,89 bilhões em 2023 para R$ 36,82 bilhões em 2024, alta de 60,85% em apenas um ano – mesmo com volumes de consumo muito semelhantes entre si.

O motivo para a alta dos preços é uma soma de dois fatores, segundo o presidente da Abic: problemas climáticos ao longo dos últimos cinco anos e choques de oferta e demanda global.

“Tivemos geada em 2021, El Niño em 2023, com estiagem severa e, em 2024, o La Niña, que trouxe chuvas tardias e com tempestades, não foi bom para a lavoura, tanto é que vamos colher menos agora em 2025”, afirma Cardoso.

Em 2024, condições climáticas adversas, com seca afetando o período da colheita da safra de 2024 e as condições dos cafezais para a safra de 2025, acabaram atrapalhando o desenvolvimento do café no Brasil, especialmente o arábica. A mesma situação foi enfrentada pelo Vietnã, outro grande produtor de café no mundo, mas do tipo conilon.

Segundo a Abic, nem toda a alta no custo da matéria-prima foi repassada ao consumidor final. Os valores da matéria-prima para a indústria subiram 116,7% no ano passado, enquanto que o preço do quilo de café tradicional no varejo teve uma alta de 37,4%.

Todas as categorias tiveram aumento de preço no varejo e atacado, de acordo com o levantamento da Abic.

A maior alta veio do café mais consumido pelos brasileiros, do tipo tradicional/extraforte, que sofreu uma alta de 39,36% entre janeiro e dezembro de 2024, passando de R$ 35,09 para R$ 48,90.

Na sequência, veio a categoria de cafés superiores, com uma alta de 34,38%, passando de R$ 55,44 para R$ 74,50, a de cafés gourmets, com alta de 16,17%, de R$ 76,74 para R$ 89,15.

Fechando a lista, os cafés especiais, com acréscimo de 9,80%, de R$ 108,20 para R$ 118,80 o quilo.

Os cafés em cápsula também tiveram uma alta, ainda que mais contida, de 2,07%, passando de R$ 454,73 o quilo para R$ 464,15.

A Abic evitou fazer comentários sobre as estratégias comerciais de grandes indústrias do setor que, nas últimas semanas, anunciaram aumentos em seus preços.

A Melitta aumentou seus preços em 25% no mês de dezembro, movimento semelhante ao da 3Corações, que subiu os preços em 10% em dezembro e em mais 11% a partir dia 1º de janeiro

A JDE Peet’s, por sua vez, afirmou à agência de notícias Reuters que iria aumentar seus preços em 30% em média neste ano.

A Abic confirmou, no entanto, que os preços do café devem continuar subindo no curto prazo, segundo Cardoso, uma vez que a indústria registrou aumento dos valores da matéria-prima em percentuais entre 160% e 180% no ano passado.

“A saca de arábica e robusta do ano passado era de R$ 800 e 810, respectivamente, e terminamos 2024 com o valor da saca superior a R$ 2 mil. A indústria não repassou tudo isso”, afirmou Cardoso.

“Imaginamos uma alta em torno de 20% a 25% nos próximos dois meses, e aí naturalmente depende de como essas cotações vão se comportar daqui até maio, para eventualmente ser mais necessário algum repasse adicional ou não.”

Cardoso lembrou também que os números apurados vão até outubro de 2024 e que houve uma alta adicional dos preços que não foi capturada pela pesquisa da Abic.

“Houve uma escalada exponencial dos preços em novembro e dezembro que ainda não foram transferidos para o varejo e esse por sua vez, vai transferir para o consumidor, resultando potencialmente entre 20% e 30% de aumentos na ponta.”

A expectativa da associação das indústrias de café é que a safra seja positiva em 2026 e, com isso, os preços cedam mais adiante.

“Isso resulta numa boa e vigorosa expectativa que nós temos para a safra de 2026. Mas, novamente, nós vamos ter esse olhar a partir da finalização da colheita desse ano, que é no fim de setembro, quando teremos o início da florada da safra de 2026.”

“Se essas cotações começarem a ter retornos, quando esse cenário estiver se avizinhando e formando toda essa composição que vão trazer as cotações para baixo, é natural que as indústrias comecem a reposicionar os seus preços para baixo, assim como fizeram quando subiram.”

Enquanto a safra não vem, as indústrias vão ter de conviver com as dificuldades que as mudanças repentinas das cotações trazem para o seu cotidiano.

Esse é um problema importante dado que 82% das indústrias associadas à Abic – que concentra 90% do setor no Brasil – são de nano, micro ou pequeno porte, ou seja, produzem entre 5 a 1000 sacas por mês.

“Imaginemos uma indústria de pequeno porte que industrialize 100 sacas de café. Essa indústria estava pagando R$ 1,3 mil na saca de conilon em novembro e R$ 1,2 mil ou R$ 1,25 mil por uma saca de arábica”, disse Cardoso.

“Hoje, apenas 90 dias depois, ela está pagando R$ 2.450 na saca de arábica e R$ 2.150 na saca de conilon, ou seja, o dobro em 90 dias.”

Com isso, indústrias atravessam dificuldades com a falta de capital de giro. Cardoso explica que a Abic faz parte do Conselho Deliberativo da Política do Café (CDPC), que reúne governo federal e representantes do setor privado e que também coordena o Fundo de Defesa da Economica Cafeeira (Funcafé).

“É um fundo de amparo a todo o ecossistema do café, com diversas linhas para o produtor, para o comerciante de café, para a indústria de solúvel, para a indústria de torrado moído”, explicou Cardoso.

No ano passado, o Funcafé disponibilizou R$ 5,016 bilhões em recursos a serem operacionalizados a instituições financeiras que atuam como agentes financeiros desse mecanismo.

Ao AgFeed, Celírio Inácio da Silva, diretor-executivo da Abic, disse que as indústrias de café não trabalham com alavancagem e que não há empresas entrando em recuperação judicial, mas que as companhias do café enfrentam problemas de capital de giro.

O diretor-executivo da Abic afirmou também que, há duas semanas, se reuniu com representantes do Ministério da Agricultura e Pecuária com o pleito de aumentar a linha de recurso destinada a capital de giro para indústrias de café solúvel, torrefação e cooperativas de produção no Funcafé – que, no ano passado, foi de R$ 1,015 bilhão.

“Gostaríamos que subisse um pouco”, afirmou Silva, que disse também que o ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, apoia a proposta.

Por ora, a palavra de ordem da Abic é resiliência, segundo seu presidente. “Em momentos pontuais da história vivemos momentos semelhantes, esse desafio torna-se mais intenso com esses números, é com essa resiliência que a gente permeia o desafio do nosso ano e seguramente venceremos 2025.”

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