Entenda como a Minerva Foods lucra com lavagem de gado e desmatamento ilegal

A Minerva Foods, uma das maiores empresas do setor frigorífico do Brasil, tem atraído investidores na Bolsa de Valores com promessas de crescimento e expansão. No entanto, sua cadeia de produção está diretamente ligada ao desmatamento e à prática de lavagem de gado, segundo reportagem do Joio e o trigo.

De acordo com a investigação, a empresa recebeu crédito de ao menos R$ 10,8 bilhões por meio de títulos de dívida do mercado de capitais desde dezembro de 2019, os chamados Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA), que foram incorporados a vários Fiagro. Com 46 unidades no Brasil, a empresa está em três cidades goianas: Palmeiras, Goianésia e Mineiros.

A estratégia de aquisição de gado da Minerva inclui fornecedores que utilizam fazendas de “triangulação” para encobrir a origem de animais criados em áreas de desmatamento ilegal. Isso ocorre quando gado criado em terras desmatadas ilegalmente é transferido para propriedades regulares antes da venda para os frigoríficos, dificultando a rastreabilidade.

A empresa tem conquistado espaço entre investidores nacionais e internacionais, impulsionada por relatórios que destacam seu crescimento e estratégias de expansão. No entanto, a falta de transparência sobre sua cadeia de suprimentos levanta questões sobre os riscos ambientais e regulatórios envolvidos nos investimentos.

Apesar de compromissos públicos com a sustentabilidade, a Minerva tem sido alvo de diversas denúncias por negligência no controle da origem do gado. Organizações ambientais e instituições financeiras alertam para os impactos negativos da pecuária sobre biomas sensíveis, como a Amazônia e o Cerrado.

A crescente exposição do setor frigorífico a críticas ambientais pode levar a uma maior fiscalização e regulação por parte de governos e entidades internacionais. Investidores começam a questionar os riscos de manter aportes em empresas com histórico de envolvimento indireto com o desmatamento.

O desfecho dessas investigações e o impacto sobre a imagem da Minerva podem redefinir estratégias do setor frigorífico. Empresas que não adotarem políticas mais rigorosas de rastreabilidade e transparência podem enfrentar sanções e restrições de mercado.

  • Leia também: Ministério da Agricultura proíbe frigorífico em Goiás de exportar carne para os EUA

Desmatamento

Entre os fornecedores da Minerva vinculados aos CRA figuram pecuaristas que possuem embargos do Ibama por desmatamento não autorizado e que são partes interessadas em impedir a demarcação de terra indígena Tanaru, conhecida por ter sido o refúgio do “Índio do Buraco”. Em vez da demarcação definitiva da área, os fazendeiros sugerem a criação de um “memorial” em uma parte restrita dos mais de oito mil hectares, de forma que o restante seja entregue para eles.

Fundos de investimento

A investigação aponta que ao menos 11 fundos de investimento do agro incluíram, entre seus ativos, três CRA da Minerva, oferecidos a investidores na Bolsa de Valores do Brasil (B3):

  • AAZQ11 e AZQA11, da AZ Quest Investimentos;
  • BBGO11, do BB Asset Management, gestora de ativos do Banco do Brasil;
  • CPTR11, da Capitania Investimentos;
  • CRAA11, da Sparta Fundos de Investimento;
  • IAAG11, do Inter Asset;
  • JGPX11, da JPG Asset Management;
  • KNCA11, da Kinea Investimentos, do grupo Itaú;
  • VCRA11, da Vectis Gestão;
  • XPAG11 e XPCA11, da XP Investimentos

Lavagem de gado

A pavimentação da RO-370 consolidou a pecuária no Cone Sul de Rondônia, impulsionando a ocupação da região com vastas áreas de pastagem e infraestrutura para escoamento da produção. No entanto, o avanço do setor tem causado desmatamento, com queimadas e terras devastadas para o gado. Um exemplo é a Fazenda União, em Chupinguaia, embargada pelo Ibama desde 2011, mas onde ainda há atividade pecuária irregular. A propriedade, pertencente ao espólio de Norberto Ribeiro de Mendonça Neto, réu em processos por desmatamento, tem 22,6 hectares sobrepostos à Terra Indígena Tanaru, evidenciando conflitos ambientais na região.

A propriedade é dos filhos de Norberto: Edson Ribeiro de Mendonça Neto, Fernanda Louro Ribeiro de Mendonça e Helena Louro Ribeiro de Mendonça. Esta última registrou o Cadastro Ambiental Rural (CAR) para três fazendas conjugadas e limítrofes à TI Tanaru, a União I, II e Tangará. O registro foi cancelado judicialmente.

Segundo levantamento do CCCA, entre 2018 e 2021, as fazendas dos Mendonça que fazem fronteira com a TI Tanaru – União I, II e Tangará – enviaram, mesmo com embargo vigente e CAR cancelado pela Justiça, 5.731 animais para a fazenda Califórnia, em Pimenteiras do Oeste.

Outras mil cabeças de gado foram enviadas para a fazenda Pará, localizada em Chupinguaia. Ambas as propriedades, Califórnia e Pará, possuem CAR ativo e pertencem a Helena Louro de Ribeiro Mendonça. Essa prática “legaliza” o gado para a venda a frigoríficos. No período de análise, Helena não emitiu em seu nome Guias de Trânsito Animal (GTAs), documento obrigatório para transporte de bovinos. Porém, Edson Ribeiro de Mendonça Neto, sim.

No mesmo período de transação de animais da área embargada para as áreas com CAR ativo, a fazenda Califórnia enviou:

  • 1.547 animais para o frigorífico da Minerva em Rolim de Moura-RO,
  • 3.876 para a Marfrig em Chupinguaia; e
  • 187 animais para frigoríficos da JBS.

Entre março de 2022 e outubro de 2023, Edson recebeu 25 pagamentos do CRA da Minerva no valor de R$ 30,7 milhões pelo fornecimento de animais.

O que diz a Minerva Foods

A Minerva Foods reconhece que a perenidade e sucesso de seu negócio depende da sustentabilidade dos ecossistemas que dão suporte à produção agrícola. Assim, em 2021, anunciou seu Compromisso com a Sustentabilidade, bem como assumiu a meta de desenvolver e implementar um programa de monitoramento das fazendas indiretas abastecidas em todos os países de operação na América do Sul até 2030.

Para atingir esses objetivos, já concluiu 100% do monitoramento de todos seus fornecedores diretos na América do Sul. Toda propriedade fornecedora direta passa por uma análise de conformidade, em concordância com os critérios que garantem que os animais adquiridos não sejam originários
de:

i. propriedades com áreas desmatadas ilegalmente; ii. propriedades sob embargos ambientais; iii. propriedades que se sobrepõem a áreas protegidas, terras indígenas e/ou comunidades
tradicionais e unidades de conservação e; iv. não estão associados ao uso de trabalho análogo ao escravo.

A consulta de conformidade do fornecedor e sua propriedade é realizada a cada nova comercialização de gado e, em caso de identificação de alguma irregularidade frente aos critérios, o fornecedor é bloqueado no sistema, impedindo novas comercializações até que a situação seja regularizada.

Com relação aos fornecedores mencionados pelo O Joio e o Trigo, a Companhia realizou uma investigação por meio de monitoramento socioambiental, considerando o fornecimento direto, e informa que não foram identificados passivos ambientais ou comercialização irregular.

O referido monitoramento passa por auditorias anuais de terceira parte, e as mais recentes demonstraram que as compras realizadas pela Minerva Foods atingiram 100% de conformidade, de modo que todos os critérios socioambientais definidos no Protocolo de Monitoramento de Fornecedores de Gado na Amazônia e do Compromisso Público da Pecuária (CPP) foram atendidos, tendo sido auditados pela BDO RCS Auditores Independentes, respectivamente.

Além disso, a Minerva Foods instituiu seu programa de gestão de fornecedores denominado Minerva View, que possui uma série de iniciativas, ações e atividades visando a conformidade e transparência de sua cadeia de abastecimento, estando pautado em 3 pilares: fornecedores diretos, fornecedores indiretos e reinserção de fornecedores.

Para avançar na frente de fornecedores indiretos, a Companhia implementou diferentes protocolos que garantem a rastreabilidade e o monitoramento socioambiental dos animais, sendo que em um deles, protocolo de rastreabilidade individual, o processo de verificação é realizado por empresas certificadoras credenciadas pelo MAPA (Ministério da Agricultura e Pecuária).

Neste sentido, também lançou o aplicativo SMGeo Prospec, desenvolvido em parceria com a Niceplanet Tecnologia, uma ferramenta que coloca na mão do produtor a mesma tecnologia utilizada pela indústria para o monitoramento de fornecedores, incentivando-os a consultarem a sua própria cadeia de fornecimento antes de realizarem qualquer comercialização.

O custo de cada análise socioambiental é viabilizado pela Companhia por meio da distribuição de vouchers, possibilitando ao produtor realizar a análise de conformidade de suas aquisições de maneira gratuita.

Os relatórios de auditoria, política de compra e demais informações estão disponíveis para acesso público no site da Minerva Foods.

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