Investigação detalha como organizadas promovem ‘guerra’ no Grande Recife

Por Felipe Resk

Do Diário de Pernambuco

Investigação da Polícia Civil de Pernambuco detalha como as torcidas organizadas de Sport e Santa Cruz agiram para reunir as gangues, tentar escapar da polícia e promover espancamentos de rivais no sábado (1º), dia do Clássico das Multidões. Os confrontos, que espalharam pânico pelas ruas do Grande Recife, terminaram com ao menos 12 feridos e 20 presos.

O Diario de Pernambuco teve acesso, com exclusividade, a relatório da Delegacia de Polícia de Repressão à Intolerância Esportiva (DPRIE), responsável por reprimir crimes relacionados aos jogos de futebol. Elaborado na véspera da partida, o documento tinha como objetivo auxiliar em ações preventivas da Secretaria de Defesa Social (SDS) e revela que a violência foi premeditada.

Segundo a investigação, as uniformizadas usaram diferentes perfis em redes sociais para marcar as “pistas”, nome dado às brigas de rua promovidas entre as gangues. Uma das publicações detectada pela polícia mostrava uma faixa amarela, instalada em um viaduto, com a frase: “Sábado vai jorrar sangue”. Outros posts lembraram de mortes já registradas e de integrantes que foram espancados anteriormente no Estado.

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O documento relata que os grupos criminosos aguardavam “com grande expectativa” pelos confrontos e chegaram a preparar “bombas caseiras e barrotes com pregos para lesionar o rival com o maior dano possível”. Também tinham o objetivo de “danificar patrimônio privados e públicos no deslocamento até o estádio”, de acordo com a polícia.

Camisa como “troféu”

Os grupos que participam das “guerras” nas ruas são chamados de “bondes”, segundo a investigação. Eles começam a se formar a partir de pequenos bairros, escolhidos com antecedência, que se juntam a integrantes de outras regiões até reunir o maior número possível de pessoas.

Parte dos integrantes nem sequer tem ingresso para o jogo e só vai às ruas para “causar desordem”, de acordo com a Polícia Civil. Subtrair a camisa usada pela torcida rival é considerado “um dos troféus desses confrontos”.

Para guardar armas, principalmente barrotes e artefatos explosivos, os bandos se utilizam de veículos de apoio. Carros e motocicletas são usados, ainda, em tentativas de fugir de ações policiais.

A violência entre bandos não é novidade para os investigadores. Em 2023 e 2024, Pernambuco registrou homicídios cometidos durante os confrontos. Em 2020, a Justiça chegou a decretar a extinção compulsória das três maiores torcidas organizadas do Estado, mas os grupos driblaram a medida e mudaram seus nomes de fantasia.

A polícia considera o Clássico das Multidões o mais crítico para a segurança pública, por se tratar da “maior rivalidade dentro e fora de campo”. No ano passado, os jogos entre Sport e Santa Cruz também já haviam sido palco de ataques a ônibus e brigas em avenidas movimentadas do Grande Recife.

Segurança

Para tentar conter a violência, a SDS destacou 680 policiais militares no esquema de segurança do Clássico das Multidões. Houve monitoramento em vias de acesso, estações de metrô e terminais integrados.

No Recife, os confrontos foram registrados nos bairros da Iputinga, Torre e Madalena. Ao todo, 14 pessoas foram detidas. Já na Região Metropolitana houve a prisão de três pessoas em Paulista e outras três no Cabo de Santo Agostinho.

Após a partida, a governadora Raquel Lyra (PSDB) anunciou que os próximos cinco jogos de Sport e Santa Cruz vão acontecer sem torcida. “Vimos cenas lamentáveis de selvageria e barbárie. Pessoas revestidas de torcedores estavam praticando ações criminosas, colocando sentimento de terror na cidade”, declarou.

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