Entenda por que a busca da sabedoria, desafio frustrante, é um processo sem fim

O cantor, músico e compositor John Lennon (1940-1980), uma das principais estrelas dos Beatles, afirmava que a ignorância é uma bênção. Porque não saber das coisas faz com que a gente não reconheça a necessidade de mudar. A ignorância vai privar você da ansiedade pela mudança e pela melhoria, mas também vai te aprisionar e te levar a acreditar no conto da carochinha.

Um pintor está dedicado à sua função pintando uma fachada de uma casa. É uma manhã de temperatura agradável e ensolarada. José (nome fictício) espaça as pinceladas de tinta a óleo com o assoviar de uma alegre canção sertaneja. O sustento de sua família depende de oportunidade de trabalho, que não lhe falta, de disposição física, que tem, e de óleo para fazer a tinta, que sempre encontra onde comprar.

José está feliz. Ignora que, por falta de reservas cambiais, o presidente Ernesto Geisel (1907-1996) vai determinar o racionamento do óleo que é importado. Nestas circunstâncias, José não terá a tinta a óleo para poder trabalhar, o que compromete a sobrevivência da sua família. A ignorância da ameaça é a razão da sua momentânea tranquilidade.

Mudança de cenário

Adão está no Éden admirando as flores ao lado da sua recente conquista, Eva. O dia está maravilhoso e ele está feliz admirando a beleza da sua nova conquista. Passados os momentos de triste solidão, desperto do sono em que perdeu uma costela, cantarolava canções em louvor a Deus pelo presente recebido.

Pintura de Pawel Kuczynski

Ignorava Adão que, tentada pela serpente, Eva havia colhido o fruto proibido que lhe estava oferecendo. Relutou Adão, mas a tentação era atraente: eles, ao comer a fruta, perderam a inocência e dominariam também o bem e o mal como o Criador.

Esta ousadia, se de um lado reduziu-lhes a ignorância, de outro lhes custou o Paraíso, que por direito Divino pertence aos pobres de espírito, segundo o evangelho.

A partir do ato de desobediência os descendentes de Adão e Eva colocam-se em duas distintas situações: os ignorantes completos e os iniciados.

Os primeiros vivem o seu dia a dia com preocupações limitadas à sobrevivência imediata. Não sofrem nem com o futuro incerto e nem com questões existenciais. As questões existenciais são respondidas por um religioso na igreja aos domingos. A religião simplifica para eles os mistérios metafísicos. O religioso pensa por eles. Uma Bíblia romanceia a aventura humana na Terra e os livra de crises existenciais.

Os iniciados, que escapam da ignorância absoluta, por estudos e reflexões, têm uma existência carregada de preocupações. Não só ameaças e oportunidades dominam o seu dia a dia, mas também são demandados de penetrar no pensar dos filósofos em busca da razão de existir.

De onde vim? Para onde vou? Por tentar pensar com autonomia não delegam a um profissional (religioso) o esclarecer as suas dúvidas transcendentais. Não confiam nos livros vendidos como sagrados.

A busca da sabedoria é um desafio frustrante, é um processo sem fim.

É como um buraco, quanto mais cava maior fica. Quanto mais sabe, mais sabe que nada sabe, como descobriu o filósofo grego Sócrates. Como também, os descendentes iniciados de Adão.

O comer do fruto proibido trouxe como castigo, por desvendar o bem e o mal, uma constante inquietação. Iniciado no domínio do conhecimento, o homem não tem a tranquilidade do pintor, um ignorante absoluto, que não provou o fruto da árvore do bem e do mal.

A perda da inocência de Adão e Eva condenou os iniciados à dúvida, à inquietação, à constante preocupação com o futuro. Reservando aos não iniciados as bênçãos da ignorância .

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