Agenda de leitura de escritores, jornalistas e intelectuais para 2025 (Parte 5)

1

Italo Wolff

Editor-executivo do Jornal Opção

Meus planos não valem nada. Sou facilmente desviado de meus objetivos, subitamente capturado por efemeridades e prontamente abandonado pelas coisas importantes. Ainda por cima sou covarde: tenho medo de ler os clássicos e não entender qual a graça. Em 2024 comprei livros enormes e abandonei todos; meus favoritos acabaram sendo obras sobre personagens patéticos e temas singelos: “Pnin”, de Vladimir Nabokov, e “Meu Quintal é Maior do que o Mundo”, de Manoel de Barros.

Assim, minha lista de leituras para 2025 é menos que uma carta de intenções — é, no máximo, uma tabela com sugestões para mim mesmo. Posso abandoná-la ao menor contratempo, mas talvez alguém com mais compromisso aproveite as recomendações sem se perder pelo caminho.

1 — “Burning Down the House: Essays on Fiction”, de Charles Baxter

Charles Baxter é romancista, contista e poeta, mas tem ganhado notoriedade principalmente como crítico. Este livro é uma coleção de ensaios que partem da literatura, passeiam pela análise da cultura americana e retornam às letras. Até o momento, li três dos 11 ensaios da obra. Em todos, Baxter se mostra extremamente inspirado. Com humor cínico e entendimento das engrenagens da linguagem, consegue decompor tanto os problemas históricos da literatura quanto os problemas atuais da sociedade americana.

2 — “Abaixo do Paraíso”, de André de Leones

Uma das primeiras matérias que escrevi para o Jornal Opção foi uma entrevista com diretor e atores do filme “Dias Vazios”, que é baseado no romance “Hoje Está Um Dia Morto” de André de Leones. Desde então, me interesso pelo autor. O interesse aumentou quando li em entrevistas que alguns de seus escritores favoritos são os mesmos que os meus: os americanos Cormac McCarthy e Thomas Pynchon.

3 — “Break it down”, de Lydia Davis

Virtuosa, Lydia Davis vira a linguagem do avesso e produz narrativas que soam ao mesmo tempo inovadoras e intuitivas. A escritora mistura os gêneros do conto, poesia, carta e memórias para criar histórias curtíssimas. Davis desafia os limites da forma, e desafia também seus tradutores. “Break it Down” ainda não tem edição brasileira. Branca Vianna fez um bom trabalho com a tradução de outro livro de Lydia Davis, “Nem Vem”.

4 — “E o Cérebro criou o Homem”, Antônio Damásio

Na apresentação do livro, se lê: “O que é a consciência? Onde ela fica? Como se desenvolveu ao longo do processo evolutivo e que vantagens traz à sobrevivência?”. Essas são as questões centrais para quem quer entender a experiência humana na Terra. A alternativa é andar para lá e para cá à mercê de fabricações desconhecidas de sua própria mente. O português Antônio Damásio é talvez o maior divulgador da neurociência vivo.

5 — “Sir Gawain and the Green Knight”, de Gawain (anônimo)

Esse romance de cavalaria do século XIV é uma das mais conhecidas histórias arturianas. O excelente filme de 2021 “A lenda do Cavaleiro Verde”, de David Lowery, me motivou a ler a versão em inglês contemporâneo de Marie Borroff, que traduziu os versos originais do Middle English. Minha experiência com literatura medieval (li “Decamerão”, de Boccaccio, e “Testamento”, de François Villon) foi gratificante e divertida — ao contrário do preconceito que identifica aquilo que é antigo com o arrastado e o pomposo.

6 — “The Pontypool Trilogy”, de Tony Burgess

Entre os livros “de gênero”, aqueles de terror são meus favoritos. Os livros do canadense Burgess fazem parte do que chamei de “renascença do horror”. Este movimento é uma passagem tardia do horror pela pós-modernidade, que mistura o popular e o erudito em uma valorização do estilo, narrativa e personagens, enquanto preserva a trama e tropos tradicionais. Na história, ainda figuram os zumbis — mas são “zumbis metafóricos”, alusivos a questões geralmente relegados à alta literatura.

Os livros reunidos na trilogia são: The Hellmouths of Bewdley (1997), Pontypool Changes Everything (1998), e Caesarea (1999).

O segundo título inspirou o filme canadense de 2008 “Pontypool”. Na história, o vírus que transforma as pessoas em zumbis não é transmitido pela mordida dos infectados, mas pelas palavras. Trata-se de um vírus linguístico, que se replica nos cérebros dos hospedeiros, comendo outros pensamentos, utilizando os aparatos nervosos para produzir a irresistível obrigação de disseminar suas fabricações contaminadas de violência. O leitor questiona o malefício da metanarrativa corrompida que está lendo. Os personagens estão isolados pelo colapso da própria linguagem.

2

Eliézer Cardoso de Oliveira

Historiador, professor da UEG e membro do IHGG

Fazer lista é a essência do ser humano, pois configura um modo de domesticar a contingencialidade do “tempo rei”, o governante de nosso destino segundo a bela canção de Gilberto Gil.

As listas servem para iluminar o passado, que deixa de ser pura escuridão e passa a ter uma sequência lógica; por isso fazemos “lista de grandes amigos”, como aconselha Oswaldo Nascimento, ou uma lista dos reis que nos governaram como faziam os egípcios e os chineses antigos. As listas também iluminam o nosso presente, possibilitando estabelecer critérios de organização em alguns aspectos do mundo, como a lista das “Sete Maravilhas do Mundo Antigo” ou a “lista da Forbes das pessoas mais ricas do mundo”.

Mas as melhores listas são as de coisas que queremos fazer no futuro. Elas são como bússolas que nos permitem navegar na imensidão das possibilidades de escolha que nos tentam a todo o momento. Enumerar o que se pretende fazer configura uma espécie de “os mortos governam os vivos”, pois o “Eliézer de 2024”, por meio de uma lista, está obrigando o “Eliézer de 2025” de privar de se fazer suas próprias escolhas. Por isso que, as listas de fim de ano, invariavelmente, não são cumpridas, pois um “ser que foi” pretende obrigar “um ser que é” a seguir os seus conselhos.

Filosoficamente, “esses devaneios tolos a me torturar” podem ser explicados pelas colocações de Paul Ricoeur, no livro “O Si-Mesmo Como Outro”, aliás, uma boa sugestão de leitura para aqueles que estão confeccionando as suas listas. Para o filósofo francês, o grande feito da identidade humana é fazer com que os diferentes “eus” vejam a si mesmos como uma única pessoa. Como um jovem maconheiro que se tornou um cidadão respeitável integra as suas diferentes identidades em uma só? Isso acontece – vou dar o spoiler – pois o eu do presente constrói uma narrativa que dá sentido as várias fases da sua existência.

Chega de filosofia e vamos para a lista de leitura. Na de 2024, consegui ler sete dos dez enumerados. No meu caso, o “eu do passado” conseguiu uma vitória sobre o “eu do presente”, mas não foi uma vitória avassaladora. Se fosse traduzir o meu desempenho em nota, eu teria conseguido um “sete”, uma nota mediana por excelência. Nesta nova lista para 2025 vou incluir os três que eu não li, seguindo o melhor preceito pedagógico de todos os tempos: “errou, faz de novo!”.

A minha lista continua sendo de apenas dez livros, para eu não ser vítima de um sarcasmo como o do primeiro-ministro francês Georges Clemenceau em cima do presidente norte-americano Woodrow Wilson: “Se até Deus se contentou com os dez mandamentos, qual é a razão de você insistir em catorze, meu caro Wilson?”.

1 — Os Problemas da Estética, de Luigi Pareyson, uma indicação de uma colega durante uma banca de qualificação de mestrado.

2 — Estranho Numa Terra Estranha, de Robert Heinlein. Um clássico da ficção científica, o meu gênero literário preferido.

3 — 21 lições para o século 21, de Yuval Noah Harari. Pretendo ler porque gostei da sapiência do autor.

4 — Como Ser um Ditador: culto à personalidade no século XX, de Frank Diköter. O livro, um presente de um aluno, analisa os principais ditadores do século XX, de Mussolini a Ceausescu. Leitura muito oportuna nesses tempos de crise da democracia.

5 — Vita Brevis, de Jostein Gaarder. O livro conta a versão da Flora, a namorada abandonada de Santo Agostinho, questionando se, para se tornar um santo, era preciso quebrar o coração de uma mulher.

6 — Falo de Amor a Esses Ouvidos Moucos, de Hélverton Baiano. Um livro de poema para mostrar que, em Goiás, há poetas de primeira linha.

7 — A Metamorfose do Mundo: Novos Conceitos Para uma Nova Realidade, do sociólogo alemão Urich Beck. O autor, falecido em 2015, é um dos mais interessantes em discutir as transformações culturais e sociais no mundo contemporâneo.

8 — Contos Inéditos, de Crispiniano Tavares. O autor foi um engenheiro baiano que viveu algum tempo em Goiás, morrendo num crime passional em 1906. Ele é considerado o primeiro contista de Goiás, uma possível influência em Hugo de Carvalho Ramos.

9 — O Teatro de Sabbath, de Phillip Roth. Uma oportunidade para ler alguma coisa de um dos mais importantes romancistas norte-americanos contemporâneos.

10 — A Biblioteca da Meia-Noite, de Matt Haig. Ficção científica, reflexão filosófica, título poderoso. Promete muito.

3

Nicolas Behr

Escritor e ambientalista

1 — Bambino a Roma — Chico Buarque

Livro de memórias do nosso grande compositor sobre sua estada em Roma aos 8-10 anos.

2 — Latim em Pó – Caetano W. Galindo

Explica a formação da Língua Portuguesa a partir do Latim, passando pelo galego.

3 — Tudo é Rio — Carla Madeira

Explora as nuances da alma humana, como todo bom romance. Recebeu vários prêmios.

4 — Salvar o fogo — Itamar Vieira Jr.

Com mestria o vencedor do Prêmio Jabuti 2024 mescla a trajetória de seus personagens com traços da vida brasileira.

4

José M. Umbelino Filho

Escritor

O Jornal Opção me pediu que fizesse uma lista de leituras para 2025, infelizmente. Forçou-me a catalogar o que, eu esperava, fosse dessa vez uma terra sem lei de opções espontâneas; eu sonhava poder pegar, em 2025, qualquer coisa da estante a hora que quisesse e devolvê-la a ela quando bem calhasse, apregoando alguma sensação de liberdade e promiscuidade intelectual que listas de leitura proíbem. Mas o escritor Ademir Luiz me impediu desse sonho — não foi a primeira vez, fez o mesmo nos anos anteriores — e tive que deitar na tela minhas aspirações de leitura e, junto a elas, subentender compromissos e expectativas. Listas de leitura são um pouco como as listas de promessas de ano novo. Dizem menos de fatos e planos efetivos que de esperanças, lacunas e vergonhas.

O primeiro livro da minha, por exemplo, foi presença recorrente na lista de 2024, na de 2023 e na de 2022. E segue aqui, reforçando o vexame de não ter lido ainda a obra que tanta gente ao meu redor defende ser o ápice da literatura norte-americana contemporânea. Seguirá em 2026? É possível; esperanças, lacunas e vergonhas são as últimas que morrem.

Já a quinta obra da lista está ali porque é preciso reler e reler incansavelmente nossos livros de cabeceira, e há quem diga, inclusive, que a releitura é a verdadeira leitura e que os gênios, melhores que nós em tudo, tinham pouquíssimos, esparsos, contados livros em suas estantes. Difícil pensar assim em uma época como a nossa, em que qualquer boa alma anda por livrarias com a terrível sensação de que existem mais escritores que leitores, mais poetas que musas, e mais livros que árvores.

Enfim, já sei o que fazer: deste ano em diante, se Ademir Luiz me vier pedir outras listas de leitura para 2026, 2027, 2028 etc., vou sempre entregar a mesma, argumentando que a releitura é a melhor leitura e que, como o filósofo grego, ninguém se banha duas vezes no mesmo rio:

1 — Meridiano de Sangue, de Cormac McCarthy

Considerado um dos maiores romances norte-americanos. Cormac McCarthy narra a jornada de um jovem conhecido apenas como “o garoto”, que se junta a uma expedição sangrenta de escalpeladores de indígenas ao longo da fronteira do Texas com o México, no século XIX. A obra explora temas de brutalidade, moralidade e a selvageria do ser humano, com uma escrita crua e poética.

2 — A rainha do Ignoto, de Emília Freitas

Eis aqui uma leitura que é, ao mesmo tempo, estética e histórica. Publicado em 1899, o livro é considerado o primeiro romance fantástico de ficção científica nacional. Foi escrito pela romancista cearense Emília Freitas, pioneira no gênero e uma figura que, tal qual a rainha de sua obra, permanece desconhecida para a maioria dos leitores brasileiros. A obra imagina uma sociedade secreta de mulheres que fugiram dos sofrimentos e opressões do mundo para criar uma comunidade utópica.

3 — A Ameaça do Fantástico, de David Roas

Reflexões literárias e acadêmicas acerca da literatura fantástica sempre me atraem. Aqui, Roas examina o gênero do fantástico na literatura, focando em como o sobrenatural e o inexplicável desafiam a percepção da realidade. A obra analisa as técnicas utilizadas pelos autores para criar esse efeito de estranhamento, e como o fantástico interfere na construção das narrativas e no entendimento do leitor.

4 — O Que Todo Corpo Fala, de Joe Navarro

Nenhuma lista fica completa sem um best-seller duvidoso e crocante. Joe Navarro, ex-agente do FBI, explora as sutis mensagens que o corpo transmite por meio da linguagem não-verbal. A obra oferece dicas práticas para entender os sinais de emoções e intenções ocultas, sendo uma leitura essencial para quem deseja decifrar melhor as interações humanas no cotidiano.

5 — Lector in Fabula, de Umberto Eco

Releitura do ano. Neste ensaio, Umberto Eco discute o papel do leitor na construção do sentido de uma obra literária. Quem é efetivamente o leitor de uma fábula? Qual o seu papel? Como e em que medida entra nesta decodificação a sua interpretação? Mas, para responder a tais indagações, o leitor de Lector in Fabula recorre a todos os elementos fornecidos pela pesquisa semiótica moderna e, sobretudo, à proposta do ato de leitura que Roland Barthes consubstanciou na expressão “prazer do texto”.

6 — Vela apagada por um sopro, de Solemar Oliveira

“Vela Apagada por um Sopro”, nova obra de um dos mais complexos escritores goianos, é uma coletânea de contos e microcontos que exploram a fragilidade da existência humana, transitando entre a realidade crua e a fantasia. Com uma linguagem poética e precisa, Solemar nos confronta com as nuances da vida e da morte, revelando os descaminhos da alma e a beleza que se esconde na imperfeição.

7 — O Púcaro Búlgaro, de Campos de Carvalho

Outro autor de cabeceira, o mineiro Campos de Carvalho é desses que se ama ou se odeia. Quem gosta de absurdo, surrealidade e uma dose cavalar de humor non-sense, vai se sentir em casa. A sinopse, se é possível, vai mais ou menos assim: No verão de 1958, enquanto visitava tranquilamente o Museu Histórico e Geográfico de Filadélfia, um cidadão chamado Hilário avistou um púcaro búlgaro. Espantadíssimo, embarcou – ao lado de Pernacchio, Radamés, Expedito e Ivo Que Viu a Uva – numa jornada à Bulgária, a fim de comprovar a (in)existência desse país.

8 — A União das Coreias, de Luiz Gustavo de Medeiros

Estou devendo essa leitura ao Luiz Gustavo, autor do excelente O Corpo Útil (Patuá). A União das Coreias segue Paulo Henrique, um homem de trinta e poucos anos, em um emprego monótono em Goiânia, enquanto suas reflexões abrangem temas como amor, infidelidade, política e abismos sociais. A história se desenrola em um único dia, utilizando uma estrutura não linear para capturar a temporalidade da consciência e os movimentos do pensamento do protagonista.

5

Mauri de Castro

Ator, diretor e escritor membro da Academia Goiana de Letras

2025, num primeiro momento, será um ano de releituras.

Releitura das Tragédias Gregas, como a Trilogia de Ésquilo (Agamêmnon, As Coéforas, As Eumênides); a Trilogia de Sófocles (Édipo Rei, Édipo em Colono, Antígona), as peças de Eurípedes (As Troianas, Hipólito, Medeia).

Livros previstos para releitura

1 — Minha Vida na Arte, de Constantin Stanislávski

É uma obra incomparável, pois trata-se de uma crônica autobiográfica de uma existência totalmente dedicada ao teatro. É um livro que se lê com enorme prazer pela sua extraordinária riqueza humana e pelas informações culturais sobre a Rússia nas duas últimas décadas antes da Revolução Socialista e, mais do que tudo, um guia seguro sobre a mise-en-scène de obras fundamentais do repertório teatral.

2 — O Cotidiano de uma Lenda — Cartas do Teatro de Arte de Moscou, de Cristiane Layher Takeda

É uma coletânea anotada e comentada que apresenta o processo de criação da companhia russa pelo ponto de vista de quem fez parte de sua história. Konstantin Stanislávski, Vladímir Nemiróvitch-Dântchenko, Anton Tchékhov, Maksim Górki, Olga Knípper, Vsiévolod Meierhold, Leopold Sulerijítski, Leonid Andrêiev, Gordon Craig, entre outros, surgem aqui no momento de suas indecisões e escolhas, revelando as idas e vindas de uma obra que aos poucos vai tomando forma e fazendo transparecer através das cartas a dimensão humana da lenda. É uma coletânea destinada aos amantes, estudantes e profissionais do teatro e a todos que se interessam pelo ato de criação artística.

3 — O Teatro de Meyerhold, tradução, apresentação e Organização de Aldomar Conrado.

Neste livro estão reunidos os textos fundamentais da experiência inovadora e criativa praticada pelo célebre diretor artístico. Meyerhold que rompeu as fórmulas em uso no seu tempo, a velha tradição da cena teatral, abrindo novos caminhos e oferecendo inéditas alternativas à representação dos textos dramáticos, procurando levar para a arte cênica as inquietações e fermentações intelectuais da época em que vivia.

4 — Para o Ator, de Michael Chekhov

Livro que questiona as nossas concepções éticas e estéticas, independente do fato e sermos profissionais da arte dramática ou não. Nesse ponto é uma obra indispensável a todos os que trabalham no campo da criação. Obra obrigatória para os dramaturgos e para todos os seres sensíveis que buscam na beleza e na emoção uma forma de existência compatível com a fantasia que habita cada um de nós.

5 — Ator e Estranhamento — Brecht e Stanislávski, segundo Kusnet, de Eraldo Pêra Rizzo

O teatro do século XX beneficiou-se do pensamento de dois mestres universais, Stanislávski e Brecht. Eles se ocuparam do trabalho do ator, dando uma contribuição que nenhum intérprete, hoje, pode ignorar. No brasil, um terceiro mestre, Eugênio Kusnet, profundo conhecedor da teoria stanislavskiana e talentoso praticante do estranhamento ou distanciamento brechtiano, buscou a síntese desses métodos com a criatividade que lhe era própria.

Discípulo e ator de Kusnet, homem de teatro em tempo integral e pela vida inteira, Eraldo Rizzo conta essa experiência, fonte de ensinamentos fundamentais para a arte da interpretação.

6 — Ponto de Mudança — 40 Anos de Experiências Teatrais, de Peter Brook

Peter Brook é, não somente um dos maiores diretores teatrais de nosso tempo, ele é, também, o único cujo talento para escrever iguala sua genialidade nas inesquecíveis montagens que apresenta. Este livro mostra que em sua sofisticada personalidade intelectual existe sempre uma incansável curiosidade de criança. Não há melhor marca de genialidade do que essa.

7 — Em Busca de um Teatro Pobre, de Grotowski

Grotowski expõe, nesta obra, ideias lastreadas em longa experiência, fecunda tradição e instigantes pesquisas. O livro constitui fascinante aventura do espírito que transcende os limites da criação teatral propriamente dita.

8 — A Canoa de Papel — Tratado de Antropologia Teatral, de Eugenio Barba

“Este é o teatro: um ritual vazio e ineficaz que enchemos com nossos porquês, com nossas necessidades pessoais. Que em alguns países do nosso planeta é celebrado na indiferença e que, em outros países, pode custar a vida de quem faz”. (Eugenio Barba)

9 — A Arte do Presente, de Ariane Mnouchkine

O livro reúne uma série de entrevista feitas com Ariane Mnouchkine, por Fabianne Pascud, ao longo dos dois anos em que a jornalista acompanhou a fundadora do Théàtre du Soleil e sua companhia. Entre um ensaio e outro, Ariane e Fabianne se encontravam na Cartoucherie de Vincennes, antiga fábrica de munições construída por Napoleão III nos arredores de Paris e que se tornou, em 1970, a sede do Théàtre du Soleil. Além de ser palco e a casa dos atores da companhia, que cuidam pessoalmente do espaço, sua Cartoucherie passou a abrigar, nos últimos anos, mais quatro teatro e dois ateliês, e é atualmente um grande laboratório de criação artística.

10 — Hierofanta — O Teatro Segundo Antunes Filho, de Sebastião Milaré

Sebastião Milaré acompanhou o trabalho de Antunes a fase inaugurada com a estreia de Macunaíma (1978) e a subsequente instituição do CPT – Centro de Pesquisa Teatral do SESC. Estes eventos marcaram uma mudança nas investigações estéticas do encenador, embora sua ideologia permanecesse inalterada. Fruto de dez anos de pesquisa, Hierofania documenta e discute o método criado por Antunes, as referências estéticas, os meios desenvolvidos, os exercícios, a bibliografia, a prática e a ideologia, bem como reflete sobre os espetáculos resultantes deste trabalho.

6

Salatiel Correia

Crítico literário, escritor e engenheiro

1 — “García Márquez: História de um Deicídio”, de Mario Vargas Llosa

História de um Deicídio (deicídio é o “ato” de matar um deus), de Mario Vargas Llosa, é uma análise profunda e instigante da obra de Gabriel García Márquez, abordando sua genialidade literária e seu papel como “criador de mundos”. Llosa explora como Márquez transformou sua realidade em ficção universal, destacando temas de solidão, identidade e poder. O livro também reflete a admiração e a crítica de Llosa, tecendo uma narrativa que dialoga tanto com o autor quanto com o leitor. É uma obra indispensável para entender a literatura latino-americana em sua essência.

2 — “Pessoas Decentes”, de Leonardo Padura

“Pessoas Decentes”, do escritor cubano, é um romance policial que mistura mistério e crítica social em uma Havana em transição. A narrativa acompanha o investigador Mario Conde, lidando com um assassinato ligado às complexas dinâmicas de poder e moralidade. Padura constrói personagens profundos enquanto expõe as contradições da sociedade cubana contemporânea.

3 — “Discussão”, de Jorge Luis Borges

Discussão, de Jorge Luis Borges, é uma coletânea de ensaios brilhantes que revela a mente inquieta e erudita do autor. Combinando filosofia, literatura e crítica, Borges aborda temas como o tempo, a linguagem e a memória, sempre com um toque de paradoxo e ironia. O livro desafia o leitor a repensar conceitos e a mergulhar na vastidão do pensamento borgiano. Uma obra essencial para quem aprecia a profundidade em forma de prosa e reflexões sobre ética e identidade.

4 — “Cartas a Um Jovem Economista”, de Gustavo Franco

É uma obra instigante que mistura autobiografia e reflexão sobre a economia brasileira e global. Com linguagem acessível, o autor compartilha sua trajetória como formulador de políticas econômicas, oferecendo conselhos e lições valiosas para as novas gerações de economistas. O livro aborda desafios, dilemas éticos e o impacto das decisões econômicas na sociedade. Uma leitura essencial para quem busca compreender a economia com um olhar humano e pragmático.

5 — “Apagando o Incêndio — A Crise Financeira e Suas Lições”, de Ben Bernanke

O livro de oferece um relato privilegiado sobre os bastidores da crise de 2008, sob a perspectiva de quem liderou o Federal Reserve. Com clareza e profundidade, Bernanke detalha as medidas tomadas para evitar o colapso do sistema financeiro global, discutindo também os desafios enfrentados e as lições aprendidas. É uma obra indispensável para entender a economia contemporânea e as complexidades de sua gestão em tempos de crise.

6 — “Homem de Constantinopla”, de José Rodrigues dos Santos

É um romance fascinante que retrata a vida de Calouste Gulbenkian, o magnata armênio que se tornou um dos homens mais ricos e influentes do século XX. Com uma narrativa rica em detalhes históricos, o autor explora a genialidade e ambição do protagonista, enquanto revela as complexidades de seu caráter. Uma obra cativante que mescla história, poder e emoção em uma jornada épica.

7 — “A Arte da Política Econômica. Depoimentos à Casa das Garças”, de José Augusto Fernandes (org.)

É uma coletânea de reflexões e debates de renomados economistas brasileiros sobre a condução da política econômica no país. O livro reúne análises sobre decisões-chave, desafios macroeconômicos e lições aprendidas em diferentes contextos históricos. Com linguagem clara e acessível, a obra oferece uma visão aprofundada das estratégias e dilemas enfrentados na busca por estabilidade e crescimento. É um convite à compreensão das complexidades econômicas brasileiras.

7

Cezar Santos

Jornalista e crítico literário

Não tenho um “plano” de leitura, eu leio à medida em que aparecem títulos que me atraem e que eventualmente caibam no meu orçamento, sem compromisso com quantidade.

De qualquer forma, para 2025 pelo menos um livro já está certo: “Guerra — I: Ofensiva Paraguaia e Reação Aliada — Novembro de 1864 a Março de 1866”, de Beatriz Bracher, primeira parte de uma trilogia sobre a guerra do Paraguai, tema que, não sei exatamente por que, me atrai sempre. No final do ano passado, comprei o livro aproveitando o meu 13º e estou com ele em mãos. Talvez essa leitura me leve ao clássico “Maldita Guerra”, de Francisco Doratioto. Do alto de minha pequena estante, o livro me desafia há alguns anos.

No mais, já entrei na fase em que as releituras começam a ocupar mais espaço que as novas leituras (mesmo com meu imenso passivo de não lidos). Rubem Fonseca está nesse nicho e nos últimos meses tenho lembrado de “O Selvagem da ópera” (biografia romanceada do compositor brasileiro do século XIX Antônio Carlos Gomes) e “O Buraco na Parede”, de contos.

Também quero concluir a leitura do tijolão “4321”, do norte-americano Paul Auster, interrompida no final do passado para ler, dele, “Baumgartner”, a fim de escrever resenha para o Jornal Opção. Auster é outro autor cuja obra volta e meio releio.

E do goiano Hugo de Carvalho Ramos, já estou na quinta ou sexta releitura de seus contos e dos esboços biográficos escritos por seu mano Victor. Nessa toada, devo reler a biografia do pai de Hugo, Manoel Lopes de Carvalho, escrita pelo goiano Nelson Figueiredo.

Em tempo, leituras e releituras de ciência política. Quero reler textos xerografados esparsos que tenho do polonês/norte-americano Adam Przeworski, e talvez ler um livro dele publicado no Brasil em 2020, “Crises da Democracia”, o qual ainda não tenho. Przeworski é daqueles estudiosos que nos ajudam a entender um pouco da loucura tóxica populista de direita e de esquerda no mundo atual.

8

Chris Resplande

Escritora

2025 se aproxima, não consegui cumprir meu propósito de leitura e certamente não conseguirei. Pensar em indicações de livros me soou prematuro, mas me fez acordar para algumas possibilidades.

Elaborar um programa de leituras não é meu costume; gosto de deixar ao sabor do inesperado, de indicações ou ensaios que caem às mãos, de premiações ou mesmo de releituras, pois alguns livros foram lidos em outra fase de vida, até mesmo na adolescência e a curiosidade surge de como o receberia agora.

1 — Luz em Agosto, de William Faulkner

Planejo ler “Luz em Agosto”, de William Faulkner. Conheci o autor lendo Enquanto Agonizo, e logo depois, o Som e a Fúria. Tinha o desejo de ampliar a leitura de Faulkner quando recebi a obra de presente da escritora e poeta Sônia Elizabeth. “Neste romance que consagrou definitivamente o prêmio Nobel de literatura William Faulkner, duas histórias paralelas colidem em um enredo marcado pela brutalidade e a religiosidade da região rural do Sul dos Estados Unidos”.

2 — La Storia, de Elsa Morante

La Storia, da escritora Italiana Elsa Morante. O romance La Storia (A História) foi lançado em 1974 e trouxe uma visão profunda das fragilidades da condição da mulher e suas reações à indiferença do mundo. A autora nasceu em Roma, em 1912. Teve uma infância difícil, uma realidade familiar complicada. Foi após o casamento com Alberto Moravia, importante escritor italiano, que se dedicou mais à escrita. A escolha de Morante — que pretendo ler em italiano —- faz parte da retomada do estudo do idioma.

3 — Louvor à Terra — Uma Viagem ao Jardim, de Byung-Chul Han

Louvor à Terra – uma viagem ao jardim, do filósofo sul-coreano radicado na Alemanha Byung-Chul Han está na lista, mas como releitura. Também recebi de presente da Sônia Elizabeth, generosíssima e grande amiga. Impossível absorver e compreender toda a beleza desta obra em uma única leitura. Uma grata surpresa, considerando os temas que o autor costuma trabalhar. O livro é belo, sensível. Nele, a filosofia de Han é expressa no cuidado e dedicação às suas flores, na particularidade de cada uma, nos mostrando a sua filosofia como modo de vida, levando-nos a refletir num jardim metafísico, que deve sempre florescer como obra de devoção e Louvor à criação.

4 — Porque Escrevo e Outros Ensaios, de George Orwell

Version 1.0.0

Também está na minha lista de releituras. Poeta menor que sou, que sempre duvida do que escreve, andei analisando a minha produção e busquei socorro em Franzine Prose, em “Para Ler Como um Escritor”; “Cartas a um Jovem Poeta”, de Rainer Maria Rilke, em Cecília Meireles e tantos outros. Mas foi este pequeno livro de ensaios que me fez redescobrir o prazer e as razões da escrita, seu propósito político – no sentido amplo da palavra; o que o autor chama de impulso histórico, de ver as coisas como são e preservá-los para a posteridade e o entusiasmo estético, além, claro, do puro egoísmo.

9

Maria Helena Chein

Escritora

Final de ano e a vontade de planejar as atividades para o ano que chega. Entre elas, a leitura, algo que me apraz, desde criança. Enquanto meus irmãos, primos e colegas da escola brincavam, após as aulas, eu estava à procura de um livro. Agora, estou a relacionar as obras que pretendo ler.

Entre os autores goianos, listei:

1 — “Falo de Amor a Esses Ouvidos Moucos, de Hélverton Baiano. Poemas feitos de amor, dor, medo, fantasias, versos que se despejam nas 163 páginas do livro.

2 — “Ensaio Geral — Dramaturgia”, de Mauri de Castro. Drama e poesia, com a qualidade que todos conhecemos desse artista, escritor que se perpetua em tudo que escreve, em tudo que realiza.

3 — “Entre Esplendores e Misérias”, de Adalberto de Queiroz, Editora Contato Comunicação. Crônicas de um autor cheio de sensibilidade, argúcia e lembranças que vêm de longe e perduram ao longo de sua vida.

4 — “Roque Alves de Azevedo — Primeiro Poeta Catalano”, de Coelho Vaz. O autor analisou a vida e a obra do primeiro poeta de Catalão, (1938 -1869), com base em minuciosa pesquisa.

Escritores de outros lugares

5 — “Mata Doce”, de Luciany Aparecida, romance vencedor do Prêmio São Paulo. Primeiro romance da autora, narra os trágicos acontecimentos que cercam um pequeno vilarejo rural, no interior da Bahia.

6 — “O Sentido da Vida”, de Contardo Calligaris, vencedor do Prêmio Jabuti. O sentido da vida é o próprio viver, do qual faz parte também, morrer.

7 — “Admirável Mundo Novo”, de Aldous Huxley, romance inglês, de 1932, que trata de um futuro com pessoas alienadas pela tecnologia e pelo uso da droga “soma”. Será uma releitura necessária.

8 — “Poemas da Recordação e Outros Movimentos”, de Conceição Evaristo, influente voz poética contra o racismo.

9 — Releitura de Fernando Pessoa, português, e um dos meus mais amados poetas. Voltarei à sua obra completa.

Outros livros farão parte de minhas leituras, os que chegam e desconheço e algum que já li e preciso de nova leitura.

10

Cristiano Alencar Arrais

Historiador e professor da UFG

Quero iniciar o próximo ano finalizando os originais que estou escrevendo em parceria com o professor Eliézer Cardoso de Oliveira, “O Século XIX em Goiás, a Formação da Região”, que é o volume final de nossa Trilogia Goiana (Editora Cânone).

Minha lista de leituras envolve, portanto, um conjunto expressivo de materiais sobre a história de Goiás (livros, teses, dissertações, documentação manuscrita etc) que geraria copiosas lágrimas no leitor a sua enumeração.

Para além disso, preciso finalizar três livros preciosos para minha área de atuação, a filosofia da história: o trabalho de Paul Roth, “The Philosophical Structure of Historical Explanation”, e dois trabalhos de Jouni-Matti Kuukkanen, “Philosophy of History” e “Postnarrativist Philosophy of Historiography”.

Além disso, não me escapam este ano o escritor francês Louis-Ferdinand Céline, “Viagem o Fim da Noite”, e o escritor argentino Julio Cortázar, “O Jogo da Amarelinha”…. Oxalá que os extraterrestres não baixem por aqui antes.

11

Paulo Márcio de Camargo

Livreiro (Armazém do Livro)

Já estão separados em destaque na minha estante de livros cinco títulos para ler em 2025, além de outros que vão furando fila.

1 — “A Vida dos Estoicos”, de Stephen Hanselman (editora Intrínseca), para conhecer as lições que os antigos estoicos nos deixaram sobre felicidade, sucesso, resiliência e virtude. Deste autor já li “O Ego É Seu Inimigo”.

2 — “Veias e Vinhos”, de Miguel Jorge. Sempre quis saber em detalhes sobre essa história macabra que ocorreu no centro de Goiânia.

3 — “História das Agriculturas no Mundo”, de Marcel Mazoyer e Laurence Roudart, da editora Unesp, para conhecer mais da história da humanidade através da agricultura, já que ela foi a responsável por grandes mudanças na maneira que os homens se organizam em coletividade.

4 — “Memória das Casa dos Mortos”, de Fiódor Dostoiévski. Este livro relata o período em que o autor ficou preso na Sibéria. Gosto muito de literatura russa, principalmente de Dostoiévski. Por sinal, há também o livro “A Casa dos Mortos — O Exílio na Sibéria Sob os Románov” (Companhia das Letras, 476 páginas, tradução de DonaldsonM. Garschagen e Renata Guerra), do historiador britânico Daniel Beer.

5 — “Sertão Sem Fim”, de Bariani Ortencio, da Editora UFG, para viajar nas histórias deliciosas do sertão do grande escritor que, tendo nascido em São Paulo, se tornou super goiano.

O post Agenda de leitura de escritores, jornalistas e intelectuais para 2025 (Parte 5) apareceu primeiro em Jornal Opção.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.