Rumo à 2026: Caiadismo reformula, em Goiás, a disputa nacional entre PT e PL 

No segundo semestre de 2026 acontecem as eleições para deputado estadual e federal, para senador, governador e presidente da República. Um esboço dessa competição aconteceu no pleito municipal de 2024, que pré-definiu os principais participantes nessa disputa. Desde então, as articulações para 2026 estão à todo vapor, com disputas internas nos partidos para definir quem vai concorrer às duas vagas do estado de Goiás no Senado, quem conseguirá integrar chapas para deputados e, principalmente, quem angaria maior apoio para os pleitos no Executivo Estadual e Federal. 

Ao Jornal Opção, o cientista político Guilherme Carvalho pinta o provável cenário para as forças políticas goianas em 2026. Considerando o desempenho das siglas na campanha de 2024 para Prefeitura de Goiânia, e também a presença no cenário político dos últimos anos, o Partido Liberal (PL), Partido dos Trabalhadores (PT) e os partidos ligados à base de Ronaldo Caiado (principalmente o União Brasil [UB], Movimento Democrático Brasileiro [MDB] e o Progressistas (PP]) têm destaque na disputa. 

Na avaliação do cientista político Guilherme Carvalho, a disputa do Executivo está entre a base de Caiado e o PL l Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção.

PL 

Sobre o PL, Carvalho explica que “a principal dificuldade nesse momento, é encontrar quem comanda”. A disputa interna por influência no partido, no caso do PL, é um sinal que indica o crescimento da sigla. Entretanto, o resultado dessa disputa é decisivo para o  futuro do partido. Trocas recentes na vice-presidência do PL expuseram atritos entre figuras conhecidas da sigla, o que gera especulações sobre os rumos para 2026. 

“A disputa ali é para definir quem fica melhor perante os olhos do Bolsonaro”, resumiu o especialista. Carvalho explica que existem dois movimentos surgindo dentro do partido: um mais ligado à ala ideológica e apegada à figura de Bolsonaro, e outro mais pragmático que, em certa medida, vem buscando mais diálogos.

Exemplificando a divisão aparente da sigla, o cientista político Guilherme Carvalho coloca em destaque as figuras de Fred Rodrigues e Vitor Hugo. “Na coluna pragmática, a gente vê o Vitor Hugo tentando abrir outros espaços para o partido”, explicou. “De outro lado, a gente tem o Fred Rodrigues que deve totalmente a carreira dele aqui ao bolsonarismo ideológico raiz”, complementou. 

Carvalho conclui dizendo que “não há espaço para a convivência das duas alas dentro do mesmo partido aqui no Estado”. Considerando que é Bolsonaro quem bate o martelo sobre as candidaturas, o cientista político “apostaria que o Fred Rodrigues tende a crescer nesse embate”. 

Pensando na participação do seu partido, o vereador Coronel Urzêda afirmou ao Jornal Opção: “A tendência natural do PL é ter candidato a governador em 2026, ter candidatos ao Senado também, e trabalhar para montar uma boa chapa de deputado federal e deputado estadual”. O parlamentar, da mesma forma que o cientista político, coloca o bolsonarismo e o caiadismo como principais forças políticas do estado, e, para ele, um embate direto entre os dois é algo natural em 2026. 

Por mais que Urzêda entenda que “o partido tem que estar aberto a dialogar com outros partidos”, no momento, não existem indícios dessas articulações, o que indica possíveis chapas puras ou parcerias mais limitadas. 

Ao ventilar nomes que podem, possivelmente, ocupar as posições do PL nas eleições, o vereador destaca Gustavo Gayer como provável postulante ao Senado e Wilder Morais como candidato a governador. Apesar de reconhecer que existem alguns nomes que são naturalmente cogitados para as posições de deputado federal e estadual (como Vitor Hugo e Fred Rodrigues), Urzêda garante que “nós não entramos ainda nessa discussão”. 

O parlamentar retira seu nome do cenário de 2026, mas reforça sua atuação como vereador e seus esforços para pacificar o PL em Goiás. “A nossa divisão enfraquece o nosso grupo”, colocou. Mesmo com atritos públicos entre as figuras do partido, o parlamentar garante “um posicionamento muito coeso” entre os membros da sigla no estado. 

Pelo que é dito pelo major Vitor Hugo (PL), vereador mais bem votado em Goiânia,  a tendência do partido de Bolsonaro é começar a exercitar mais alianças, principalmente com possíveis aliados de centro e de direita. Depondo contra a imagem de “purista” do partido, Vitor Hugo cita a desistência do PL sobre candidatura própria na Câmara dos Deputados e no Senado como exemplos. “Nós temos que procurar a direita, o centro-direita e o centro para poder vencer em 26”, concluiu.

Em entrevista ao Jornal Opção, Vitor Hugo reforça alinhamento com Bolsonaro | Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção.

Pensando na disputa para o Senado, o major diz não haver dúvidas sobre quem serão os candidatos do partido em 2026. Sem citar nomes, ele afirma que “está muito claro quem são, em Goiás, os dois políticos do PL que têm maior ligação com o presidente [Bolsonaro]”. Apesar de não  “ver nenhum tipo de disputa” na competição pelas vagas do PL para o Senado, o major diz que, “da minha posição e da minha atuação, o que eu puder fazer para aumentar a chance de eu chegar lá [indicação para concorrer pelo PL]” será feito. 

Apesar de reconhecer os esforços dos colegas na disputa pelos espaços dentro do partido, Vitor Hugo reafirma que “essa definição maior é do Bolsonaro”. Os atores políticos goianos da confiança do ex-presidente serviriam como assessores nesse processo de escolha, mas “sem Bolsonaro colocar a mão, dificilmente alguém da direita ganharia”.

Base do Governo

A base do governador Ronaldo Caiado (UB) forma o grupo mais amplo. No pleito de 2024, logo após o primeiro turno, os partidos da base do chefe do Executivo (principalmente MDB, UB e PP) já consagraram 179 prefeitos e prefeitas pelo estado. Goiânia e Aparecida de Goiânia também foram conquistas vitais na composição desse cenário. Siglas com menor desempenho também seguem o governador desde então, como Avante, Republicanos, Agir, e o PRD 

Agora, o principal desafio apontado pelo cientista político Guilherme Carvalho é acomodar todas essas forças no mesmo barco em 2026, considerando que Caiado estará fora do Governo de Goiás, dedicado à disputa presidencial. “Pode ter ‘cacique demais para pouco índio’”, sintetizou Carvalho.

Há mais de um ano e meio para o pleito, já circulam prováveis nomes para disputa na Câmara dos Deputados com as bênçãos do União Brasil. Conforme ventilado pela Coluna Bastidores do Jornal Opção, fortes candidatos são: Adriano do Baldy, Bruno Peixoto, Delegado Waldir, José Nelto, Lêda Borges, Lucas Calil e Silvye Alves. Conforme o pleito se aproxima, mais políticos devem disputar esse espaço, o que representa teste para a aliança construída pelo governador. 

Nesse cenário, o principal desafio recai sobre Daniel Vilela (MDB), herdeiro apontado por Caiado. Para Carvalho, o atual vice-governador terá o desafio de segurar a base em sua completude, e sua tarefa será a de aparar arestas e manter a maior parte possível do conjunto. Se reeleito em 2026, Daniel Vilela deixará o Palácio das Esmeraldas em 2030, e o vácuo deixado pelo grupo de Caiado promete um importante espaço para figuras de oposição. 

O deputado federal Zacharias Calil (UB) reafirma ao Jornal Opção: Caiado é o candidato à presidência do União Brasil em 2026. “Vai fazer o lançamento  agora em março e ele está com o apoio pacificado de toda a bancada”. Ao mesmo tempo, segundo o parlamentar, o nome de Daniel Vilela (MDB) para governadoria é consequência natural.

As interrogações surgem na disputa para o Legislativo, especialmente na disputa pelo Senado. Para Calil é claro que é “Caiado quem define, juntamente com a bancada, o que poderia ser melhor para Goiás”, portanto, qualquer oficialização de candidatura do UB no estado deve passar pelo governador. O deputado federal cita os nomes da primeira-dama Gracinha Caiado e do sertanejo Gusttavo Lima como possibilidades para essa posição. 

Existem três nomes fortes para ocupar as indicações do governador ao Senado: a primeira-dama Gracinha Caiado, o ex-prefeito de Aparecida de Goiânia, Gustavo Mendanha, e o presidente do PP em Goiás, Alexandre Baldy. Mais recentemente, o sertanejo Gusttavo Lima também entrou nessa lista de opções. Esse cenário ilustra a dificuldade que a base de Caiado deve enfrentar para definição dos nomes. 

Diferentemente do que aconteceu nas disputas municipais legislativas de 2024, onde foram lançados vários candidatos sob as bênçãos do diretório do partido (mas sem a presença de Caiado ao longo da campanha, diferente do que aconteceu com Sandro Mabel), em 2026 “o cenário é outro”. Calil pontua que, nas próximas eleições, é provável ver o apoio de Caiado de forma mais explícita.  

Caso não exista espaço para sua candidatura ao Senado na base do governador, Calil cogita troca de partido l Foto: Foto: Fernando Leite/Jornal Opção.

Apesar de se sentir “muito confortável no União Brasil”, o parlamentar reconhece que suas chances de conquistar o apoio da sigla para colocá-lo na disputa ao Senado Federal não são boas. Nesse sentido, em caso de negativa pessoal do governador, Calil cogitaria buscar outros partidos para lançar seu nome a candidato a senador. A Coluna Bastidores do Jornal Opção já revelou aproximações entre o médico e Jorcelino Braga do PRD, e o próprio Zacharias mencionou aproximações políticas com o PRTB, negando qualquer diálogo explícito sobre troca de siglas.  

Por sua vez, o secretário de estado de Indústria, Comércio e Serviços (SIC), Joel Sant’Anna (PP), reforçou, ao Jornal Opção, o alinhamento de seu partido à base de Caiado. O Progressistas compõe o núcleo duro dos apoiadores do governador, junto ao MDB e o UB, e deve pleitear uma das vagas desse grupo para o Senado em 2026. Segundo as percepções do secretário, o presidente estadual do partido, Alexandre Baldy, já está em articulações com o governador Caiado e com o vice-governador Daniel Vilela para que seja ele a ocupar uma das duas vagas disponíveis. 

Paulo Ortegal, antigo braço direito de Iris Rezende e uma das figuras destaque do MDB, coloca o compromisso do partido com a base de Ronaldo Caiado como algo certo, da mesma forma que a candidatura de Daniel Vilela (MDB) para governador em 2026. O político, que coordenou a equipe de transição de Sandro Mabel (UB), garante que a parceria entre MDB, UB e PP vai ser replicada nas chapas do Legislativo. 

Mesmo com Caiado fora do Palácio das Esmeraldas, Ortegal se sente seguro ao dizer que acredita que “a unidade [da base construída pelo governador] vai ser mantida. A aliança que foi feita entre a União Brasil e o MDB, está cada dia mais fortalecida”. Para além de manter os aliados já conquistados, o político revela desejo em atrair  “o maior número possível de pessoas e de lideranças, para fortalecer ainda mais toda essa estrutura partidária de aliança”.

Pensando na disputa do Senado, Ortegal citou apenas a pré-candidatura de Gracinha Caiado, figura a qual “é da simpatia total também do MDB”. Ele finaliza dizendo ser prematuro qualquer definição neste momento e diz que o processo de escolha dos nomes para chapa vai se dar de “forma muito natural” ao longo do ano.  

PT

Carvalho é categórico ao afirmar que o PT, em Goiás, é um partido de “baixíssima significância do ponto de vista do Executivo”. Em 2024, a derrota de Adriana Accorsi (PT) ainda no primeiro turno se tornou representativa do contexto atual. Guilherme Carvalho tenta resumir: “o grande problema do PT é a falta de pragmatismo para construir alianças”. Por mais que o partido de Lula componha uma federação, o número de possíveis parceiros com maior peso no jogo político goiano é limitado. 

Apesar dos reveses, Carvalho reconhece que as sucessivas conquistas no Legislativo garantem continuidade das políticas de esquerda em importantes espaços de decisão. Dessa forma, insistir em encabeçar as chapas que compõe é (além de continuação de sua política em Goiás) uma forma de conseguir palanque para seus candidatos no Legislativo. 

Ao Jornal Opção, o vereador de Goiânia Fabrício Rosa, terceiro petista mais bem votado no último pleito, se coloca como defensor das candidaturas próprias do PT junto a membros da federação da qual faz parte (com PCdoB e o PV). O parlamentar explica que o racha que deve nascer no partido o dividirá entre aqueles que se inspiram nas parcerias nacionais do Governo Lula (com alguns partidos da base de Caiado, inclusive) e aqueles contra esse movimento. 

A possibilidade de compor com siglas menos alinhadas ideologicamente com a federação e seus aliados, para Fabrício Rosa, é uma forma de perda de protagonismo das pautas tradicionais defendidas por esse grupo. A indicação para vagas no Senado, por exemplo, seria um problema. O vereador diz pertencer ao grupo dos que “querem que essa vaga do Senado nossa [da federação] fique com os nossos parceiros”, citando PSD e Psol como exemplos.  

Fabrício Rosa anuncia sua pré-candidatura a deputado estadual l Foto: Foto: Leoiran / Jornal Opção.

Considerando o cenário de chapas próprias da Federação, o vereador se coloca como pré-candidato a deputado estadual e ventila algumas possibilidades. Já é tida como certa a disputa pela reeleição de deputados estaduais, como Mauro Rubem, Bia de Lima e Antônio Gomide, e de deputados federais, como Adriana Accorsi e Rubens Otoni. Alguns podem arriscar trocas de posições, como a vereadora Kátia Maria, que deve tentar acesso à Alego, o vereador Edward Madureira e o advogado Valério Luiz, que devem entrar na disputa federal. 

Após circular outros nomes para compor a disputa pela vaga de deputado federal, Rosa reforça sua defesa do protagonismo do PT e de seus aliados, “primeiro, para fortalecer o partido, segundo, para apresentar um programa de Estado diferente do caiadismo e do bolsonarismo e, terceiro, porque o nome do executivo acaba por ser um foco para a chapa, para os candidatos à federal e à estadual”. 

O professor Edward Madureira, vereador petista mais bem votado do último pleito, afirma que considerará a possibilidade de concorrer a algum cargo em 2026 se, e apenas se, for “uma missão dada pelo grupo”. O parlamentar afirma que seu foco está na atuação no mandato em Goiânia e que muitas discussões devem acontecer até que um cenário mais concreto se pinte, como as eleições para definir os novos dirigentes municipais, estaduais e nacionais do PT. Essa votação interna deve acontecer em junho deste ano. 

Para além disso, Madureira reforça o exposto por Fabrício Rosa: a provável renovação da federação já vigente, e os empecilhos locais para possível reprodução das alianças nacionais em Goiás. 

Quarta via

Vilmar Rocha, ex-deputado federal e um dos fundadores do PSD, conta que uma quarta força deve se juntar à disputa do governo do estado, uma oposição específica à base governista. Segundo Rocha, essa posição “não é nem o PL, nem o PT”, já que existe maior afinidade ideológica entre essa 4ª figura e a própria base de Caiado. Considerando os elementos disponíveis atualmente, uma possibilidade para essa posição seria o antigo governador Marconi Perillo (PSDB) ou o próprio senador Vanderlan Cardoso (PSD), caso se separe da base do atual governador. 

“Por exemplo, na eleição passada, quem preencheu esse espaço foi a candidatura do Gustavo Mendanha. Durante um determinado período, nas eleições de 2010 e 2014, quem preencheu essa posição foi o Iris”, exemplificou.

Pelo PL, o fundador do PSD aponta o nome do senador Wilder Morais como possível candidato a governador, e claro, o atual vice-governador Daniel Vilela será o representante do grupo caiadista. Ao mesmo tempo, Rocha reforça a tendência do PT e do PL em caminhar com menos aliados, preferindo chapas puras sempre que possível. 

Ao falar especificamente do PSD, o fundador da sigla destaca que é preciso discutir uma reformulação do grupo no estado de Goiás, principalmente após os resultados das eleições municipais de 2024. Sem mencionar possíveis fusões com o MDB ou com o PSDB, o político afirma que essas discussões começam a partir de março deste ano. 

Sem mencionar possíveis fusões para o PSD, Vilmar fala da necessidade de reformulação do partido em Goiás l Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção.

Por fim, Rocha coloca um ponto central que deve guiar as eleições para governador: as alternativas para os incentivos fiscais como estímulos para o crescimento do estado. Segundo o ex-deputado, parte da industrialização que se vê em Goiás atualmente é reflexo de uma série de incentivos fiscais dados nas últimas décadas. Entretanto, “com a reforma tributária, acabaram esses incentivos fiscais”, portanto, a questão que fica é: “Quais políticas e instrumentos nós vamos dispor para continuar desenvolvendo o Estado?”

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