Haddad critica juros altos e alerta para impacto na economia e no cumprimento da meta fiscal

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, criticou nesta quinta-feira (30) a política monetária restritiva do Banco Central, afirmando que os juros elevados podem ser “contraproducentes” para a economia. Em entrevista à RedeTV, Haddad alertou que a taxa Selic, atualmente em 13,25%, já está em um patamar que desacelera o crescimento econômico.

“A taxa de juros no Brasil já está no patamar restritivo, já está no patamar que desacelera a economia. Nós estamos prevendo este ano uma redução do crescimento da atividade econômica de 3,5% para algo em torno de 2,5%, justamente para acomodar as pressões inflacionárias”, afirmou Haddad.

Haddad reconheceu que o primeiro semestre de 2025 será mais difícil para a economia, mas defendeu que o governo está no caminho certo para alcançar um crescimento sustentável e controlar a inflação. “Se você já está com uma taxa muito restritiva, às vezes o remédio em excesso é contraproducente. Todo remédio tem a dose certa”, afirmou.

A preocupação do ministro se dá no contexto da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), que elevou a taxa Selic para 13,25% na primeira reunião sob o comando de Gabriel Galípolo, ex-secretário-executivo da Fazenda. Haddad já havia demonstrado insatisfação com a postura do Banco Central durante a gestão de Roberto Campos Neto e reiterou que um aperto excessivo na política monetária pode prejudicar o crescimento econômico sem necessariamente trazer ganhos proporcionais no combate à inflação.

Impacto dos juros altos na dívida pública

A crítica do ministro também está relacionada ao cumprimento da meta fiscal e à trajetória da dívida pública. A elevação dos juros aumenta o custo da dívida do governo, dificultando o esforço de estabilização das contas públicas. Quase metade da dívida pública está atrelada à taxa básica de juros, e o aumento dos custos de financiamento pode pressionar ainda mais o endividamento.

No final de 2024, a equipe econômica conseguiu reduzir o déficit primário para R$ 43 bilhões, abaixo do teto de R$ 28,8 bilhões permitido pelo novo arcabouço fiscal. Descontados os gastos extraordinários com desastres naturais, o déficit efetivo foi de R$ 11 bilhões, dentro das margens previstas.

O secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, destacou que o resultado foi melhor do que o esperado pelo mercado e representa uma reversão na tendência de aumento dos déficits primários observada na última década. “Esse esforço de recuperação é brutal, e a gente foi bem-sucedido na reversão de tendência”, afirmou Ceron.

Apesar do cumprimento da meta fiscal, a persistência de juros elevados pressiona a dívida pública, que pode atingir 83,1% do PIB até 2028, segundo projeções do Tesouro Nacional. Alguns analistas do mercado, no entanto, apontam que esse percentual pode ultrapassar 90% do PIB em 2029, caso o país não consiga consolidar superávits primários significativos.

Debate sobre autonomia do Banco Central

Outro ponto abordado pelo ministro foi a autonomia do Banco Central. Questionado sobre a gestão de Galípolo e a política de juros, Haddad defendeu que a instituição precisa reconhecer eventuais erros em suas decisões.

“As pessoas que estão lá são de alta competência técnica, o que não significa que aqui na Fazenda, ou no Banco Central, ou no mercado não haja pessoas que erram. Nós somos humanos, podemos errar”, disse. “Não existe essa fantasia de imaginar que, porque o Banco Central é autônomo, ele não erra. Ele erra sendo autônomo, ele erra não sendo autônomo. As pessoas erram”, completou.

Haddad e sua equipe reconhecem a necessidade de harmonizar a política fiscal com a monetária para garantir a estabilidade econômica. “Neste momento, o melhor que nós podemos fazer é colaborar na medida em que for possível para harmonizar [a política fiscal com a monetária] e para ajudar o trabalho do Banco Central”, disse Ceron.

Expectativas para 2025

A equipe econômica já trabalha para garantir um resultado fiscal melhor em 2025, tentando compensar possíveis frustrações na arrecadação. O secretário do Tesouro Nacional destacou que a estratégia do governo será buscar medidas que possam reforçar o caixa sem comprometer a recuperação econômica.

“Ano passado a gente teve uma frustração maior e conseguiu acomodar com medidas. Esse ano a gente vai buscar as medidas para compensar também. Não dá para adiantar quais, até porque não se tem a dimensão exata [da necessidade]. Mas, tendo frustração, tem que compensar”, afirmou Ceron.

No cenário internacional, mudanças no ambiente econômico global e a política de juros nos Estados Unidos também são fatores que podem influenciar a condução da política fiscal no Brasil. Para o governo, a prioridade no momento é criar condições para a redução da taxa de juros, o que aliviaria os custos da dívida pública e permitiria uma trajetória mais sustentável para as contas do país.

Para 2025, o governo mantém a meta de déficit zero, com uma margem de tolerância de R$ 31 bilhões. A equipe econômica afirmou que o governo está comprometido com a continuidade do ajuste fiscal e com a busca por medidas que reforcem a arrecadação.

Além disso, o ministro destacou a importância de diversificar as parcerias comerciais do Brasil, aprofundando relações com a União Europeia, China e Sudeste Asiático, sem dispensar a parceria com os Estados Unidos. “Nós não temos que nos associar exclusivamente a um ou outro”, afirmou Haddad.

Equilíbrio delicado, mas sustentável

A aposta do governo é que, mesmo com um crescimento menor, a economia brasileira possa se expandir de maneira sustentável, sem pressões inflacionárias excessivas. Segundo Haddad, o desafio é equilibrar as políticas fiscal e monetária para garantir um ambiente econômico estável e propício ao investimento produtivo.

“O presidente Lula tem consciência que muitas vezes você tem que fazer um ajuste de rota, e que esse semestre vai ser mais difícil do que os anos anteriores. Mas o que eu reafirmo é o seguinte: se você já está com uma taxa muito restritiva, às vezes o remédio em excesso é contraproducente. Todo remédio tem a dose certa”, concluiu Haddad.

O governo Lula enfrenta o desafio de equilibrar o controle da inflação, o crescimento econômico e a sustentabilidade fiscal. Enquanto Haddad critica os juros altos e defende uma política monetária mais flexível, a equipe econômica comemora o cumprimento da meta fiscal de 2024, um marco importante para a credibilidade do país.

No entanto, a persistência de déficits e o aumento da dívida pública, agravados pela alta da Selic, exigem medidas adicionais para garantir a estabilidade fiscal a longo prazo. O sucesso do governo em 2025 dependerá da capacidade de harmonizar políticas monetárias e fiscais, além de implementar reformas que fortaleçam a arrecadação e promovam o crescimento sustentável.

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