Imagens do Instituto Goiano de Pré-História e Antropologia foram usados no filme “Ainda Estou Aqui”

O filme “Ainda Estou Aqui”, que fez história com Fernanda Torres e Selton Mello, tem um toque goiano. Ou melhor dizendo, imagens que foram responsáveis por ilustrar a atuação de Eunice Paiva (Fernanda Torres) às causas indígenas nos anos 1990. 

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As imagens utilizadas, feitas pelo documentarista goiano Vicente Rios, que fotografou e coordenou as produções dos renomados Jesco Puttkamer e Adrian Cowell na Amazónia por 30 anos, são do acervo do Instituto Goiano de Pré-História e Antropologia (IGPA), da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás).

O longametragem de Walter Salles, que mostra o drama da família Paiva durante a ditadura militar no Brasil, recebeu três indicações ao Oscar 2025, incluindo a inédita nomeação de melhor filme para uma produção brasileira. A premiação será realizada no dia 2 de março.

“O Walter Salles sabe da existência desse acervo e é um acervo reconhecido pela UNESCO e pela ONU. Ele procurou a gente para fornecer o material para ambientar a cena da época, e eles poderem reconstruir no filme aqueles momentos”, explicou o historiador do IGPA/PUC Goiás, Frederico Mael.

Foto usada no filme “Ainda Estou Aqui”| Foto: acervo/IGPA

O acervo do IGPA é reconhecido internacionalmente por sua relevância na documentação dos povos originários da Amazônia, da colonização do Centro-Norte do Brasil e dos conflitos sociais decorrentes desse processo, de acordo com Frederico. 

No filme, os registros que entraram no longa são da destruição provocada pela construção de rodovias na Amazônia e de um grande incêndio na floresta – todas capturadas pelas lentes de Vicente Rios. 

Elas foram feitas no início da década de 1980 a 1998 para a série A Década da Destruição, produzida para a Central Television de Londres em coprodução com a PUC Goiás. A universidade foi creditada nos créditos do longa, com menção ao IGPA.

Originalmente, foram enviados mais de 50 arquivos à Conspiração Filmes, responsável pela obra. Porém, apenas duas das imagens solicitadas foram usadas. 

“O Vicente ficou 30 anos na Amazônia andando em um Jeep Toyota, que era adaptado para ele poder viver. Os filmes do IGPA, eles têm beleza cinematográfica por conta da forma que o Vicente via a luz. Mesmo tendo anos, o acervo é atual, e esse filme dá uma projeção para o trabalho de documentaristas que se preocupavam com questões ambientais e sociais”, disse Frederico.

Foto usada no filme “Ainda Estou Aqui” | Foto: acervo/IGPA

Quem foi Vicente Rios?

Vicente foi quem melhor retratou a Amazônia, seus contextos sociais e políticos, o desmanche da floresta, tragédias e belezas, conforme o historiador que conviveu com ele por 15 anos. Nascido em Guapó, o primeiro contato com o documentarista Adrian Cowell (1934-2011), foi no começo dos anos 1980. 

A parceria durou mais de três décadas. Ao longo da carreira, colecionou prêmios nacionais e internacionais, entre os quais o Global 500 da ONU, de 1987, e o Chico Mendes de Meio Ambiente, na categoria arte e cultura, em 2007. O fotógrafo morreu em 2022 depois de lutar contra o câncer. 

“Ele lutou muito contra esse câncer. Ele tinha um mapa de onde ele andou pela Amazônia todo pintado. A cada pintadinho daquele, ele falava que ele quase morreu. Ele sobreviveu à Amazônia e veio a falecer de um câncer. É muito triste”, enfatizou. 

Frederico conta que na excursão pela Amazônia onde foram feitas as fotos que estão no filme, Vicente entrou de última hora substituindo Jesco von Puttkamer (1919-1994), um dos pioneiros da antropologia visual no Brasil. Ele sofria com diabetes, doença que o fez perder o pé e depois a perna.

“Jesco tinha orgulho do Vicente fazer o trabalho que ele fez para o Adrian Cowell. Ele sempre vinha pra cá, tinha um bom Português”, lembra. 

Jesco dedicou a carreira a registrar povos indígenas e a relação do homem com o meio ambiente. Com cerca de 150 mil imagens em sua coleção audiovisual, ele trabalhou por quase 60 anos na na Amazônia e produziu quase dez documentários sobre a região.

Ele chegou à Goiás depois de ser resgatado dos campos de concentração nazistas durante a Segunda Guerra Mundial, tendo sido um dos fotógrafos do Tribunal de Nuremberg – onde nazistas foram julgados por crimes de guerra e crimes contra a humanidade.

Ele também foi responsável por fotografar a construção de Brasília. Já Adrian foi um documentarista britânico que dedicou décadas de sua carreira a registrar a Amazônia, denunciando a destruição ambiental e os conflitos sociais na região. 

Vicentes Rios e Adrian Cowell | Foto: acervo/IGPA

Filme consagrado 

“Ainda Estou Aqui”, adaptação do livro de mesmo nome de Marcelo Rubens Paiva, trás à tona os horrores e os crimes praticados pela ditadura militar no Brasil, mostrando as tensões políticas e sociais do período – considerado o mais sombrio da história brasileira. 

O filme acompanha a busca de Eunice Paiva por justiça após o desaparecimento do marido, Rubens Paiva (interpretado por Selton Mello). Pela interpretação, Fernanda Torres levou o Globo de Ouro, superando nomes como Nicole Kidman, Angelina Jolie, Kate Winslet, Pamela Anderson e Tilda Swinton. 

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