Precisamos parar de concretar as margens do rios e repensar o modelo de urbanização”, defende indígena durante Conferência do Meio Ambiente

A 5ª Conferência do Meio Ambiente de Goiânia, realizada nos dias 23 e 24 de janeiro, trouxe à tona discussões urgentes sobre a crise climática e reuniu representantes da sociedade civil, acadêmicos e lideranças comunitárias no Plenário Ipê, no Tribunal Regional do Trabalho da 18ª Região. Com o tema “Emergência Climática – O Desafio da Transformação Ecológica”, o evento reuniu mais de 250 participantes. Entre os destaques esteve Leandro Mamirawa Trumai, de 24 anos, indígena da tribo Trumai, que trouxe contribuições baseadas na visão dos povos originários.

Leandro, que cursa Direção de Arte na Universidade Federal de Goiás (UFG), reforçou a importância de incluir os conhecimentos indígenas no desenvolvimento de políticas públicas ambientais. Em entrevista exclusiva ao Jornal Opção, ele explicou sua missão no evento: “Eu venho de Mato Grosso, do Parque Indígena do Xingu. Eu venho no evento representando o Centro Audiovisual e também todos os povos indígenas do Xingu”

Ao discutir os desafios enfrentados pelas comunidades indígenas no Xingu, Leandro abordou temas delicados, incluindo a marginalização dos rios e o impacto das chuvas intensas em Goiânia. “Marginalizar o Rio Botafogo só piora os problemas de enchentes e mobilidade. Precisamos parar de concretar as margens do rios e repensar o modelo de urbanização. É um problema de visão de longo prazo”, afirmou.

Ao conectar questões locais de infraestrutura com mudanças climáticas globais, Leandro reforçou a necessidade de uma abordagem que considere o impacto humano sobre o meio ambiente. A defesa de práticas indígenas, alinhadas a soluções urbanas, evidencia um equilíbrio possível entre progresso e sustentabilidade.

Uma voz na Conferência

Reunidos no Plenário Ipê, no Tribunal Regional do Trabalho da 18ª Região, a conferência abordou “Emergência Climática – O Desafio da Transformação Ecológica”. O evento destacou cinco pilares centrais: mitigação, adaptação a desastres, transformação ecológica, justiça climática e educação ambiental. Leandro, representando também o Observatório Indigenista de Goiás, trouxe um olhar diferenciado às discussões, combinando as práticas culturais do Xingu e propostas modernas. Segundo ele, os povos indígenas possuem lições valiosas para oferecer em tempos de crise climática.

“Eu quero descarbonizar a economia para que ela atinja níveis sociais mais inclusivos. Isso inclui o plantio de árvores frutíferas e a promoção da educação ambiental”, explicou Leandro, enquanto reforçava a necessidade de incluir comunidades marginalizadas em políticas públicas eficazes.

Leandro desempenha um papel ativo no Centro Audiovisual (CAud), cuja inauguração em julho do ano passado marcou um ponto de virada. Com exposições como ‘Xingu: contatos’, organizada em parceria com o Instituto Moreira Salles (IMS), o centro celebra a produção artística indígena e amplia o alcance de suas histórias. “Eu faço mediações sobre o espaço e as exposições, como a de fotografia. Isso envolve aprender sobre o trabalho dos artistas e do curador Takumã Kuikuro”, conta Leandro, demonstrando a sinergia entre tradições culturais e narrativas visuais contemporâneas.

Uma conferência com propósitos

Além das falas de Leandro, a conferência abordou a importância de garantir espaço para populações vulneráveis em decisões ambientais. Os representantes da sociedade civil enfatizaram a urgência de iniciativas que combinem desenvolvimento econômico e proteção ambiental. Um dos tópicos mais debatidos foi a justiça climática, entendida como a equidade no enfrentamento dos efeitos das mudanças climáticas, priorizando comunidades frequentemente negligenciadas.

Leandro destacou que, no Xingu, a coexistência com a natureza molda a cultura e a sobrevivência de seu povo. Entretanto, muitas etnias no Brasil enfrentam desafios persistentes devido a conflitos fundiários e desmonte de políticas públicas. Apesar disso, ele acredita que o compartilhamento de conhecimentos indígenas com práticas não indígenas pode gerar soluções eficazes para crises como a climática.

O projeto de Leandro vai além de eventos e exposições; ele defende uma transformação duradoura, com ênfase na educação ambiental. “As pessoas precisam aprender a cuidar do planeta desde cedo, entendendo as consequências de suas ações. Educação é a base de tudo”, afirmou.

Enquanto reflete sobre sua participação na conferência, Leandro expressa otimismo com as perspectivas futuras. “Se eu conseguir colocar alguma ideia em prática nos GTs [grupos de trabalho], eu vou ficar muito feliz e poder também somar com o grupo”, declarou ele, mostrando a importância do engajamento coletivo em questões ambientais.

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