Em ‘Beleza Fatal’, Raphael Montes explora os limites da vingança e promete vilões irresistíveis

Aos 34 anos, Raphael Montes já se firmou como um dos principais nomes da nova literatura brasileira, graças a obras de destaque como “Dias Perfeitos” e “Jantar Secreto”. Agora, o carioca encara um novo desafio: sua estreia como autor de novelas.

O escritor assina o texto de “Beleza Fatal”, a primeira novela original Max que será lançada nesta segunda-feira, 27, que também é a primeira do gênero voltada exclusivamente para plataformas de streaming.

A novela acompanha a trajetória de Sofia (Camila Queiroz), uma jovem determinada a buscar justiça enquanto enfrenta as consequências de uma infância marcada pela tragédia. Após perder a mãe, Cléo (Vanessa Giácomo), vítima de uma armação de sua prima Lola (Camila Pitanga), Sofia é acolhida pela família Paixão, liderada por Elvira (Giovanna Antonelli).

A família Paixão também carrega sua própria tragédia: Rebeca, a filha, encontra-se hospitalizada após complicações de uma cirurgia plástica malfeita. Compartilhando a dor e o desejo de justiça, Sofia e os Paixão unem forças para derrubar Lola e todos os responsáveis por suas adversidades.

No entanto, o reencontro inesperado de Sofia com um antigo amor a coloca diante de um dilema: até que ponto ela está disposta a ir para alcançar sua vingança? Enquanto se aprofunda em sua busca por reparação, Sofia percebe que o preço da justiça pode ser muito maior do que ela jamais imaginou.

A trama se desenrola no universo competitivo da beleza e dos procedimentos estéticos, trazendo dilemas éticos e emocionais à tona.

Com direção de Maria de Medicis, a novela promete emoções intensas e reviravoltas surpreendentes. O elenco de peso inclui Murilo Rosa, Caio Blat, Marcelo Serrado e Vanessa Giácomo, reforçando o potencial da obra para cativar o público com um enredo cheio de suspense e complexidade.

Em um bate-papo com a EXAME, Raphael Montes detalha sua trajetória de escritor de literaturas de mistério para as telenovelas e adianta o que podemos esperar de “Beleza Fatal”.

Raphael Montes celebra protagonismo na literatura de horror — e agora quer apostar mais no streaming

Como surgiu a sua paixão por novelas?

Sou um noveleiro desde criança. A primeira narrativa que consumi na vida, antes do teatro e da literatura, foram as telenovelas brasileiras. Acho que isso me fez amar histórias com vilão e mocinha. E o formato também me atrai por permitir acompanhá-la ao longo das semanas. Mas, o que mais chamava a minha atenção era o destaque para os nomes dos autores: ‘é um novela de Gilberto Braga, Silvio de Abreu ou Glória Perez’.

De que maneira o seu trabalho na literatura abriu portas para a teledramaturgia?

Quando comecei a publicar meus romances, logo fui chamado para trabalhar como roteirista de televisão, na posição de junior. Minha primeira oportunidade foi na TV Globo para trabalhar na série chamada “Morto Não Fala”. Mas a produção foi cancelada pela emissora e mais tarde se tornou um filme. No entanto, eu havia deixado claro aos meus superiores que sempre quis fazer novelas. Isso ficou na cabeça da Mônica Albuquerque, executiva chefe da emissora na época. Um tempo depois, ela deixou a Globo para trabalhar na Max como a responsável pelo setor de novelas. A Mônica me ligou e disse: ‘Rapha, você não queria ser autor de novelas? Bom, chegou a sua hora, aqui na Max. Estou procurando a primeira história, me mande ideias’.

Mas, você já tinha uma sinopse para “Beleza Fatal” ou a trama foi elaborada após a proposta do streaming?

No momento que recebi o pedido eu não tinha nada. Eu guardava comigo apenas uma lista de ideias soltas de tramas, personagens, núcleos e universos que me interessam. Resgatei esse arquivo às pressas, li tudo que reuni ao longo do tempo e, dessa mistura, nasceu a sinopse de “Beleza Fatal”. O processo inteiro de desenvolvimento da história aconteceu em uma semana. Mas, a jornada não para por aí. Eu tinha uma história, mas não insumos suficientes para sustentar o universo de uma novela. Foi então que decidi trazer o background da beleza e do luxo para o texto. Enfim, enviei o roteiro para a diretoria da Max e rapidamente o projeto foi aprovado.

Por que falar do mundo da beleza?

Muitas coisas me levaram para esse nicho, porque há uma busca incessante pela perfeição estética, que no final das contas não existe. Isso cria apenas deformidades. Acredito que a preocupação com a aparência se intensificou com a pandemia, pela dependência das pessoas em relação às redes sociais para se informar, entreter e construir identidades.

Me pareceu muito interessante trazer esse tema a uma novela que se baseia em um jogo de aparências. O que você mostra para o mundo entra em choque com aquilo que você é na sua essência. Isso fica implícito até no diálogo dos personagens. Olhando para a realidade, é um assunto muito presente na vida das pessoas. A indústria da beleza é a que mais cresce no mundo atualmente, e o Brasil é um dos países que mais consome produtos de beleza e realiza procedimentos estéticos, como a harmonização facial.

A mudança da TV aberta para o streaming foi um grande desafio?

Sem dúvida, o desafio inicial foi o formato e o tamanho. São 40 capítulos. Até então, eu só escrevia minisséries de até 8 capítulos. Mas, eu já tinha trabalhado como colaborador de uma novela da TV Globo, “A Regra do Jogo”, com o autor João Emanuel Carneiro, na qual tive a chance de aprender todos os dias a fazer um projeto de pelo menos 180 capítulos.

Curiosamente, não me soa desafiador fazer uma novela tão grande, o díficil é ter uma boa ideia no início e criar bons personagens. Depois disso, escrever 50, 80 ou 180 não faz mais diferença. Porém, quando comecei a escrever “Beleza Fatal”, eu parti de um método que eu aprendi: o autor senta e faz uma escaleta para abrir as cenas. Essa é a uma estrutura comum da TV aberta, o esqueleto do capítulo vai para a equipe do autor, que inicia essa parte da história. Mais tarde, o autor recebe o material e conclui o capítulo. Fiz questão de trabalhar com uma típica de estrutura de novela, não de série.

No universo literário, você é famoso pela sua maneira ousada de contar histórias e dar vida a personagens. Como você também traz esse atributo à novela?

Em “Beleza Fatal”, eu tive o luxo de trabalhar com a supervisão do Sílvio de Abreu, que atualmente é o responsável pelas novelas na empresa. Nos tornamos amigos e bons parceiros. O Sílvio olhou todo o procedimento de perto e aprendi muito com ele. Eu gosto de dizer que fiz um mestrado e doutorado com ele. O Sílvio me dava muito coragem para ousar, da mesma forma como sempre fiz com os meus livros. Eu me questionava sobre isso, porque novela é algo muito tradicional. Mesmo assim, Sílvio me falava: ‘Rapha, se a emoção está clara e os personagens são fortes, você pode ousar’. A supervisão dele me deu a oportunidade de trazer coisas que as pessoas não estão acostumadas a ver na TV aberta.

Na Globo, você também aprendeu muito com outros autores de renome?

Com certeza. Me sinto muito sortudo, porque a arte de fazer novela é muito dominada pelos brasileiros. Mas ela sofre dificuldades de passar de geração em geração. Não há uma cartilha de como se fazer boas novelas. Cada autor tem uma maneira diferente de pensar e em como tocar um projeto. A partir da experiência que tive com vários profissionais da Globo, eu absorvi aquilo que funciona melhor para mim. Almoço e janto varias vezes com a Glória [Pérez], Duca Rachid e o Walcyr [Carrasco], e trocamos muitos insights, sei como cada um pensa.

O que “Beleza Fatal” tem em comum com seus livros?

Eu tentei uma novela com a minha cara. Quem já conhece o meu trabalho e for assistir à novela logo de cara vai concluir: ‘isso aqui é do Raphael Montes’. É algo que tem acontecido em todos os meus projetos, principalmente na série “Bom dia, Verônica”.

Em “Beleza Fatal” trago muitas viradas, a novela vai para vários caminhos que não são óbvios. Os personagens são muito claros em suas motivações e personalidades. A vilã, mesmo sendo má, permite que você rapidamente entenda o porquê das ações dela. Em “O Jantar Secreto”, o meu livro mais conhecido, tem algo que faço com frequência que é o misto de suspense com humor ácido e diversão. Isso também está inserido em “Beleza Fatal”. A novela é muito séria, com muitos dramas, segredos e traições, mas é muito irônica e divertida ao mesmo tempo. Ela carrega uma complexidade que vem também da minha personalidade. As pessoas imaginam que sou muito sério, mas sou um homem bem humorado. Apesar dos livros que escrevo, sou bem otimista [brinca].

É comum entre os autores de novelas se inspirarem na vida real para construir narrativas e personagens para suas obras. Você segue esse caminho também?

Não tenho o estilo de me basear tanto na vida real. Eu sou um autor que penso mais nos personagens, mas não necessariamente são inspirados em pessoas que eu conheço. A novela trata do universo da beleza, mas nunca realizei um procedimento estético. É raro eu lembrar de passar protetor solar. Mas, muitas pessoas ao meu redor tem relações com o setor da beleza. A minha sogra é dona de uma clínica de estética.

A vilã Lola, interpretada pela Camila Pitanga, traz um pouco da minha sogra e da minha mãe. Elas estão longe de serem vilãs de novela, mas são pessoas que iluminam os ambientes e não têm medo de dizer o que pensam. Eu queria uma personagem que tivesse esses elementos. De todos os personagens, o que tem mais proximidade com a minha vida pessoal é a Lola.

Você aposta na verossimilhança dos personagens da trama, a ponto do público se identificar com eles? Acredita que este seja um dos segredos de uma boa novela?

O trio de protagonistas, interpretadas pela Camila Pitanga, Camila Queiroz e Giovana Antonelli, é muito forte. Por um lado temos a Lola com sua ambição de poder e riqueza. Do outro há a Sofia querendo justiça. Enquanto a Elvira é uma mãe guerreira que também quer reparação pela morte da filha.

É impossível não se identificar com as mocinhas, pois nós, cidadãos comuns, somos movidos por um senso de justiça e correção. A Sofia começa a novela injustiçada, mas no decorrer dos capítulos, vai cometer determinados atos que nos farão questionar se vamos concordar com ela ou não. A Lola é tão carismática a ponto do público entender e gostar dela. E quem sabe pensar que, talvez, a vilã não seja tão má como as pessoas pensavam. Já a personagem da Giovana poderia ser uma mulher triste e sofrida, mas ela é uma mulher forte e alto astral. As novelas seguem a lógica da vida de algum modo. Apesar das dores, temos que dar a volta por cima e ir adiante. Gosto criar personagens complexos que, espelham o ser humano como ele é na realidade.

Amada em todo o país, a novela “Avenida Brasil” teve o fenômeno Carminha, com a qual o público simpatizou, embora a personagem fosse uma vilã. Acredita que as pessoas podem se surpreender com os vilões de “Beleza Fatal”?

A grande vantagem em escrever uma novela fechada e com 40 capítulos é saber aonde eu queria chegar. Em uma trama aberta, você sente as reações do público e tem a possibilidade de fazer mudanças conforme as coisas acontecem. Mas, “Beleza Fatal” estreia 100% escrita e gravada e a parte deliciosa disso é que eu já sei de que maneira os personagens vão fechar a história. Toda as vezes que os atores se preparavam para entrar em cena, eu conversava com eles e dizia que tinhamos que construir, juntos, esses caminho para seus respectivos personagens. E os próprios atores sentiram o efeito disso, porque tiveram mais possibilidades de nuances, e deixaram tudo bem costurado até o momento da curva de seus personagens.

A novela tem poucos personagens, no máximo 13. Alguns não tem a oportunidade de fazer a curva completa porque vão morrendo ao longo da história – Aí já soltei um spoiler. Não tenho medo de matar personagens bons e isso tem que acontecer porque a trama tem que pegar fogo, literalmente.

Existem outras temáticas fortes que marcam “Beleza Fatal”?

No mundo da beleza, existem várias discussões interessantes. A Gisela, personagem brilhantemente interpretada pela atriz Julia Stocler, é uma mulher com dismorfia corporal e por isso ela vive injetando botox e outros produtos no corpo sem limites. Esse tema está sendo seriamente discutido entre os profissionais dessa área no momento.

A trama traz também um personagem que é médico especialista em cirurgia de redesignação sexual de uma mulher trans e há também o lado positivo dentro da cirurgia plástica. A proposta é mostrar que a beleza pode ser causadora de impactos positivos na vida das pessoas se feita de maneira ética. Os riscos e prejuízos são provocados por pessoas más e sem senso de responsabilidade. Na vida real, acontecem casos de pessoas que morrem após passarem por procedimentos estéticos, realizados por médicos que não são qualificados. Eu comecei a escrever essa novela há três anos e desde então essas situações só aumentam.

Na novela, essa diferença é mostrada pela rivalidade entre cirurgiões e pessoas que se passam por profissionais. Há a família Argento, que é tradicional na área da cirúrgia plástica e proprietária de uma clínica luxuosa, enquanto a Lola comanda a Lolaland, uma clínica 100% cor de rosa e cafona, mas que faz muito sucesso nas redes sociais.

Acredita que trazer questões do cotidiano ao entretenimento pode gerar impacto na maneira como as pessoas enxergam o mundo?

Para mim, as melhores novelas não tratam temas universais e brasileiros de maneira didática. Não cabe à dramaturgia ser moralista. A dramaturgia existe para provocar o expectador. Em “Beleza Fatal”, o público vai ser instigado sobre assuntos controversos como injustiça social, corrupção, ‘o jeitinho brasileiro’ e a capacidade dos brasileiros de sobreviver às crises.

Após a conclusão das filmagens e da edição, como você avalia o projeto?

Eu brinco que “Beleza Fatal” está um pouquinho acima da realidade. Basicamente uma novela que fez ‘harmonização facial’. Os diretores e eu costumamos brincar que a novela é bem Pedro Almodóvar. A história trata de questões cotidianas, mas vamos um pouco além da realidade de propósito.

Onde assistir à novela “Beleza Fatal”?

A novela “Beleza Fatal” será lançada nesta segunda-feira, 27 de janeiro, no serviço de streaming Max.

Veja o trailer a seguir:

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