Enquanto seguem as buscas pelos desaparecidos no naufrágio do veleiro de luxo Bayesian, na costa de Palermo, a capital da Sicília, na manhã desta segunda-feira, 19, um mistério para sobre o tornado que atingiu a embarcação e o que pode ter causado a mudança repentina nas condições de navegação.
O superiate de propriedade do magnata britânico de tecnologia Mike Lynch, de 59 anos, que está entre os desaparecidos após o naufrágio, tinha 22 pessoas a bordo (10 tripulantes e 12 passageiros) e foi atingido por um tornado que se formou rapidamente no local. Embora o mau tempo tenha sido previsto, não era esperado que as condições marítimas sofreriam uma mudança tão severa, e provavelmente a tromba d’água tenha surpreendido a tripulação.
Um tornado como afundou o Bayesian atinge velocidades de vento entre 120 e 320 km por hora, mas pode chegar a mais de 480 km por hora. Em entrevista à Sky News, Matthew Schanck, presidente da ONG Maritime Search and Rescue Council (Conselho de Busca e Resgate Marítimo, em tradução direta), disse que o superiate estava “ancorado em um ponto conhecido”, perto do porto de Porticello:
“Dependendo da direção do vento e do estado do mar, o capitão tem informações para decidir se é uma área segura para ancorar ou não. Não havia nada que fosse muito preocupante, para mim. No geral, o capitão usou as informações que tinha para tomar uma decisão segura”, comentou Schanck.
É possível que uma mudança tão brusca nas condições metereológicas estejam associadas às mudanças climáticas, que têm contribuído para o tempo instável e às vezes violento do Mar Mediterrâneo neste verão europeu.
Segundo o Financial Times, o Mediterrâneo é um local de cruzeiro que atrai superiates durante o verão do hemisfério Norte porque o clima é tipicamente quente e ensolarado, e tempestades são raras. Na última quinta-feira, o Mediterrâneo atingiu uma temperatura média de 28,9 °C — sua maior temperatura de superfície já registrada — e recordes semelhantes estão sendo quebrados em outros mares. Junho foi o 15º mês consecutivo em que as temperaturas globais do mar atingiram um recorde e os meteorologistas preveem que as águas mais quentes podem alimentar uma intensa temporada de furacões no Atlântico.
Outro fator que pode ter causado o naufrágio está ligado à própria estrutura do Bayesian. O veleiro de luxo de 184 pés tem um mastro de 75 metros — o mastro de alumínio mais alto do mundo, de acordo com a Perini Navi, fabricante da embarcação — que pode ter ampliado o efeito dos fortes ventos. Mesmo sem velas levantadas, um barco com mastro alto tem muito “windage”, termo usado na aerodinâmica para descrever a área de superfície exposta ao vento. O barco pode ter adernado tanto que a água pode ter entrado através de janelas abertas, escotilhas ou escadas de convés.
Como foi o naufrágio
À Reuters, Karsten Borner, o capitão de um barco próximo, disse que estava usando seu motor para manter o controle de sua própria embarcação e evitar uma colisão com o Bayesian quando o tempo piorou. Ele disse que o Bayesian “ficou plano (com o mastro) na água e então afundou”.
Até o momento sabe-se que ao menos uma pessoa morreu e seis ficaram desaparecidas após o naufrágio do Bayesian. O corpo de um homem foi encontrado ao lado da embarcação, anunciou a Guarda Costeira italiana em comunicado. A vítima seria um cozinheiro de bordo com dupla cidadania, canadense e antiguano.
O superiate com a bandeira do Reino Unido navegava no início da manhã pela costa de Palermo, a capital da Sicília, quando foi atingido por uma tempestade repentina e violenta. A embarcação aparece em sites de locação com valores de até US$ 215 mil (R$ 1,1 milhão) por semana.
“Eles estavam no lugar errado na hora errada”, disse à AP Salvo Cocina, da agência de proteção civil da Sicília, observando que outro superiate próximo não foi tão danificado e chegou a conseguir resgatar alguns dos 15 sobreviventes do Bayesian.
O Corpo de Bombeiros da Itália informou que seus mergulhadores começaram a realizar a missão de busca e resgate ao amanhecer. Porta-voz da instituição, Luca Cari disse à imprensa internacional que a embarcação estava a cerca de 50 metros de profundidade — e que, por isso, a operação era “complicada” e exigia profissionais especializados.
Oito dos 15 passageiros resgatados foram levados para hospitais em Palermo. A passageira mais jovem a bordo, uma menina de 1 ano chamada Sophie, foi levada ao hospital Di Cristina com sua mãe, que apresentava alguns arranhões e cortes, segundo relato de Domenico Cipolla, diretor da sala de emergência pediátrica do hospital, à imprensa local. O pai da bebê estava na sala de emergência para adultos do hospital e manteve contato com sua esposa e filha por telefone.
“Todos estão em boas condições, exceto pelo grande estresse emocional”, disse Cipolla ao jornal italiano Corriere della Sera. “Conseguimos fazer os pais conversarem por telefone, entre médicos e enfermeiros todos comovidos, também porque a menina está bem, os parâmetros estão bons e estamos realizando exames apenas por precaução”.
À agência de notícias italianas ANSA, a mãe da menina, identificada apenas como Charlotte, disse que chegou a perder momentaneamente o contato com Sophie na água, mas que conseguiu mantê-la acima das ondas até serem retiradas por um bote salva-vidas. Segundo ela, o barco naufragou na madrugada, quando as pessoas dormiam. Por isso, disse, os passageiros acordaram já dentro da água. As operações de resgate envolveram helicópteros e barcos da Guarda Costeira e da proteção civil.
O iate, construído em 2008 pela empresa italiana Perini Navi, podia acomodar 12 passageiros em quatro cabines duplas, uma tripla e a suíte principal, além das acomodações da tripulação, segundo o Charter World e o Yacht Charters. O navio, que se chamava Salute quando navegava sob bandeira holandesa, apresentava um interior minimalista em madeira clara com acentos japoneses, projetado pelo designer francês Remi Tessier, de acordo com descrições e fotos nos sites de aluguel.
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