O peixe que consegue viver mais de 100 anos e parece não envelhecer

No mês de maio, aqueles que visitam o Lago Rice, em Minnesota, Estados Unidos, são capazes de observar grandes peixes se movendo entre as plantas na parte rasa. Esses peixes são os búfalos-boca-grande, uma espécie de água doce que ganhou notoriedade por sua longevidade, com alguns exemplares podendo viver mais de 100 anos.

Conforme reportagem da BBC, esses peixes chegam a pesar 23 kg, e todos os anos atravessam o Rio Rice lago para desovar no lago. Contudo, apesar de sua rotina de reprodução, um mistério paira: há mais de seis décadas, nenhuma geração jovem dessa espécie conseguiu atingir a idade adulta. O peixe-búfalo-boca-grande permaneceu por muito tempo sem ser objeto de estudo, mas, recentemente, pesquisadores começaram a investigar essas criaturas nativas da América do Norte, sendo encontrada desde o sul de Saskatchewan e Manitoba, no Canadá, até a Louisiana e o Texas, nos Estados Unidos.

O público e os pescadores geralmente o classificam como um tipo de peixe não muito procurado. Como não é alvo da pesca comercial, a espécie não possui importância econômica. Conforme a reportagem, da BBC, essa percepção dos peixes-búfalos-boca-grande levou a um longo período de negligência por parte dos cientistas. No entanto, nos últimos cinco anos, pesquisadores realizaram descobertas novas e surpreendentes sobre essa espécie.

Foi registrada a existência de peixes dessa espécie com até 127 anos, tornando-a o tipo de peixe de água doce mais longevo do mundo. Além disso, esses peixes não parecem sofrer declínio biológico à medida que envelhecem. Pesquisas mais recentes sugerem que a estabilidade da população ao longo das últimas décadas pode ser atribuída ao fato de que os peixes mais velhos continuam vivos, apesar de não conseguirem produzir descendentes que sobrevivam até a fase adulta.

“Esta é uma das populações de animais mais idosas do mundo, e não há gestão ou proteção para a espécie”, afirma o pesquisador Alec Lackmann, da Universidade de Minnesota em Duluth, nos Estados Unidos, em entrevista à BBC. Ele é um dos principais especialistas no estudo do peixe-búfalo-boca-grande e seu processo de envelhecimento. Lackmann foi o responsável pela pesquisa publicada em 2019, que revelou pela primeira vez a longevidade centenária do peixe-búfalo-boca-grande em Minnesota (EUA). Até aquele momento, acreditava-se que essa espécie de peixe vivesse apenas cerca de 26 anos. No entanto, ele confirmou a presença de indivíduos centenários em outras espécies de peixe-búfalo em diferentes regiões da América do Norte.

“Quando examinei o primeiro peixe-búfalo-boca-grande, ele tinha quase 90 anos”, relata. “Eu fiquei pensando ‘uau, meu Deus’… No início, parecia difícil acreditar.” Essa descoberta levou Lackmann a aprofundar suas investigações sobre o peixe, um animal pouco conhecido. Dois anos depois, ele colaborou com especialistas em envelhecimento biológico para estudar marcadores de estresse e envelhecimento nos peixes-búfalos-boca-grande de diversas idades.

Os pesquisadores analisaram a proporção de células imunológicas e o comprimento dos telômeros, uma região do DNA encontrada no final dos cromossomos, que limita o número de divisões celulares. Ambos os indicadores são usados para medir o envelhecimento biológico.

Os dados foram então comparados com os anéis dos otólitos, que revelaram a verdadeira idade dos peixes. A pesquisa, publicada em 2021, forneceu uma visão da saúde de cada peixe em determinado momento de sua vida, conforme explica uma das autoras do estudo, a bióloga Britt Heidinger, da Universidade Estadual da Dakota do Norte. Ela se especializa em entender por que os organismos envelhecem em velocidades diferentes.

O estudo sugeriu que, na realidade, “não estávamos observando declínio com a idade nesses organismos”, afirma Heidinger, também em entrevista à BBC. O envelhecimento do peixe não foi associado à redução dos telômeros, como seria esperado — pelo contrário, os resultados mostraram que a idade parecia estar relacionada ao melhor funcionamento imunológico, incluindo uma redução na razão entre neutrófilos e linfócitos. Essa mudança sugere que os peixes lidam melhor com o estresse corporal e sua imunidade aumenta à medida que envelhecem.

Heidinger ressalta que ainda há muito a se aprender sobre como esses peixes mantêm sua saúde com o passar dos anos. Uma hipótese é que eles consigam preservar seus telômeros devido a uma enzima que impede sua diminuição. No entanto, isso não é capaz de determinar qual seria a expectativa máxima de vida do peixe-búfalo-boca-grande, nem garantir que a tendência de melhorar com a idade continue. “Em última análise, o envelhecimento é um processo não linear”, lembra a bióloga. No entanto, um novo mistério surgiu durante essa pesquisa recente. Embora uma grande parte da amostra de peixes tenha idades excepcionalmente altas, aonde estariam os peixes mais jovens?

Lackmann e seus colegas decidiram analisar a idade dos peixes no Lago Rice, em Minnesota, onde é possível observar eventos anuais de reprodução. Em um estudo recente, os pesquisadores descobriram que 99,7% dos peixes que tiveram sua idade determinada — 389 de um total de 390 peixes — tinham mais de 50 anos.

A idade média desses peixes era de 79 anos, o que significa que a maioria deles nasceu antes do final da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). O que realmente impressionou os cientistas foi o fato de que a reprodução do peixe-búfalo-boca-grande, que ocorre anualmente em torno de maio, é sempre bem-sucedida e resulta em muitos filhotes. No entanto, todas as evidências da presença desses jovens peixes desaparecem até o final do verão no hemisfério norte.

Na verdade, há mais de 60 anos não se observa uma geração bem-sucedida de peixes-búfalos-boca-grande jovens, de acordo com Lackmann. “Todo peixe jovem que sobreviveu após 1957 é estatisticamente atípico”, afirma ele.

*Com informações da BBC

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