Nota da Todavia aos “seus” escritores sobre o caso André Conti-Vanessa Barbara não é mas soa como ameaça

André Conti, sócio da Editora Todavia, e Vanessa Barbara, escritora e jornalista, foram casados durante alguns anos. De acordo com ela, a separação se deu por causa das constantes traições e mentiras do ex-marido (ele admitiu que a ex-companheira está falando a verdade).

O editor, um dos mais conceituados do país, teria também reunido um grupo de amigos — a confraria conta ou contava com 15 membros — para, numa espécie de Clube do Bolinha, falar mal de várias pessoas, notadamente de mulheres. Lá, segundo a versão exposta, comenta-se sobre conquistas amorosas e relata-se peripécias e habilidades de atletas sexuais, quiçá reis do Viagra e do Cialis (fala-se em transas que duravam a noite inteira).

Dada a imensa repercussão, com cobranças de posicionamentos, a cúpula da Editora Todavia — com Flávio Moura, sócio de André Conti, na linha de frente — divulgou duas notas.

Flávio Moura: editor da Todavia deveria sugerir o afastamento de André Conti do comando da editora | Foto: Reprodução

Dada sua vagueza, a primeira nota “não” condenou Vanessa Barbosa e tampouco André Conti. Pareceu nota elaborada por advogados, profissionais de compliance.

Agora, conforme divulgou a jornalista Mônica Bergamo, colunista da “Folha de S. Paulo”, saiu uma segunda nota, dirigida às escritoras e aos escritores vinculados à Todavia, uma das melhores editoras do país.

A nota enviada aos autores da Todavia não é, claramente, uma ameaça do tipo: cuidado, não se posicionem contra a editora e André Conti, porque senão, amanhã, não serão mais publicados por nós. O texto da frase anterior está sem aspas porque, evidentemente, não é dos diretores da casa editorial.

Porém, se não é uma ameaça — e não é —, a nota acaba por soar como tal.

No seu novo comunicado, a direção da Todavia frisa que, ciente das “cobranças que estão sendo direcionadas” às escritoras e aos escritores — para se posicionarem ante a misoginia e machismo de André Conti —, reforça “que não há qualquer obrigação, responsabilidade ou, ainda, expectativa da Todavia, de que vocês respondam a demandas relativas aos fatos no episódio”.

André Conti mantém a crise dentro da Todavia e pode dinamitar a excelente editora | Foto: Reprodução

Mais do que uma ameaça, parece um pedido de socorro. Até porque a sobrevivência — a existência — da Todavia está em jogo. Seria uma pena que a editora fosse a nocaute em definitivo (o país já perdeu, há algum tempo, a excelente Cosacnaify). O mais acertado é afastar André Conti da direção — isolando o problema.

Porque o catálogo da Todavia sugere que, se há misoginia, é de André Conti, não da editora. Trata-se de um catálogo excelente, sobretudo atento às coisas de seu tempo — moderno e progressista.

A nota enfatiza que a cúpula da editora está “dedicando seus maiores esforços para lidar com a situação de forma justa, célere e equitativa”. Mais: “A editora expressa sua solidariedade a quem está enfrentando cobranças de respostas ou posicionamentos por fatos alheios a sua relação com a editora, especialmente às mulheres”.

O pior é que, se divulgados, os e-mails dos membros da confraria dos 15 homens — editores, jornalistas e escritores — podem vincular as ações do editor André Conti com as ações da editora. Aí ficará mais complicado.

Então, não se precisa de “maiores esforços”. Basta um esforço mínimo: o anúncio de que André Conti vai deixar a editora ou será suspenso por tempo indeterminado. Ele é o sócio majoritário? Não se sabe.

Insista-se: para retirar a Todavia da crise, isolando-a e protegendo-a, será preciso afastar André Conti, nem que seja por um determinado período.

Flávio Moura, excelente editor, precisa deixar claro aos “seus” escritores que o “problema” — a misoginia — é de André Conti, não da Todavia. Precisa-se de um gesto (um passo) objetivo… mas até agora, diria Shakespeare, só há palavras, palavras, palavras…

Confira o comunicado da Editora Todavia

“Caras autoras e caros autores Todavia/Baião,

“Desde a publicação do episódio de 16 de janeiro de 2025 do podcast Rádio Novelo Apresenta, a Todavia está trabalhando para receber e atender as preocupações e dúvidas das pessoas da nossa equipe, das nossas autoras e nossos autores e do nosso público.

“Cientes das cobranças que estão sendo direcionadas a vocês sobre os fatos relatados no podcast e em respeito à confiança que depositam em nós, reforçamos que não há qualquer obrigação, responsabilidade ou, ainda, expectativa da Todavia, de que vocês respondam a demandas relativas aos fatos alegados no episódio.

“Se você quiser responder, claro, é um direito seu; caso não queira, você tem direito à privacidade e/ou ao direcionamento da demanda às pessoas envolvidas.

“A editora expressa sua solidariedade a quem está enfrentando cobranças de respostas ou posicionamentos por fatos alheios a sua relação com a editora, especialmente às mulheres, e informa que está dedicando seus maiores esforços para lidar com a situação de forma justa, célere e equitativa.”

Leia mais sobre Vanessa Barbara e André Conti

https://www.jornalopcao.com.br/colunas-e-blogs/imprensa/comunicado-da-todavia-aos-seus-escritores-sobre-o-caso-conti-vanessa-nao-e-mais-soa-como-ameaca-674402

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