Os desafios e oportunidades do envelhecimento populacional brasileiro

José Eustáquio Diniz Alves* 

Durante os primeiros 500 anos de sua história, o Brasil apresentou uma estrutura etária predominantemente jovem, com a maioria da população composta por pessoas com menos de 20 anos. No entanto, esse cenário começou a mudar nas últimas décadas, e o país iniciou um rápido e profundo processo de envelhecimento populacional ao longo do século XXI. Esse fenômeno traz desafios significativos, mas também oportunidades importantes para a economia e a sociedade brasileira.

O marco inicial dessa transformação ocorreu no final da década de 1960, quando as taxas de fecundidade começaram a diminuir. Essa redução marcou o início do envelhecimento da pirâmide etária brasileira, um processo que se desdobra ao longo do tempo em duas fases distintas.

Na primeira fase, ocorre a criação de uma janela de oportunidade demográfica, caracterizada pela redução da proporção de crianças e jovens e pelo aumento da participação de pessoas em idade produtiva. Famílias menores tendem a favorecer a autonomia das mulheres, facilitando sua maior integração ao mercado de trabalho.

Quando bem aproveitada, essa fase oferece a possibilidade de um bônus demográfico – um período temporário, mas crucial, para impulsionar o desenvolvimento econômico e o bem-estar social. Países que superaram a pobreza, a fome e a chamada “armadilha da renda média” aproveitaram ao máximo essa transformação demográfica.

No Brasil, o bônus demográfico teve início na década de 1970 e está previsto para terminar na década de 2030, quando a população em idade ativa atingirá seu pico de 137,5 milhões de pessoas em 2033, conforme dados das projeções populacionais do IBGE.

A população total do Brasil deverá alcançar seu ápice em 2041, com 220,4 milhões de habitantes, antes de iniciar um processo de declínio, atingindo 199,2 milhões em 2070.

A população em idade ativa, por sua vez, começará a diminuir a partir de 2034, com uma projeção de queda para 100,2 milhões de pessoas em 2070, conforme indica o gráfico abaixo.

A população com 60 anos ou mais, que era composta por 15,2 milhões de pessoas em 2000 (representando 8,7% da população total), deve alcançar 44,7 milhões em 2033 (20,5% do total) e 75,3 milhões em 2070 (37,8% do total).

Assim, a população idosa continuará a crescer mesmo após o declínio da população em idade ativa (PIA) e da população total do país.

O Brasil enfrentará, de forma inexorável, uma fase inédita de aumento do percentual de idosos, acompanhado pela diminuição absoluta e relativa dos demais grupos etários. A idade mediana da população brasileira está projetada para atingir 52 anos em 2070, o que significa que a chamada geração prateada, formada por pessoas com 50 anos ou mais, será a maioria da população a partir da década de 2060.

Desafios do envelhecimento populacional e a economia prateada

Nesse contexto, o grande desafio associado ao envelhecimento populacional será o aumento da razão de dependência demográfica, que pode levar ao crescimento descontrolado dos gastos com previdência social e saúde, além de reduzir o percentual de pessoas em idade de trabalhar e contribuir para o sistema de proteção social.

Contudo, o envelhecimento populacional não deve ser visto apenas como um obstáculo. Ele também pode gerar oportunidades, desde que políticas públicas, iniciativas privadas e a sociedade civil abandonem a percepção de que a população idosa é um “peso morto” para o sistema produtivo. O combate ao etarismo e o investimento no potencial das gerações com 50 anos ou mais são fundamentais para aproveitar a base da economia prateada.

A economia prateada, embora ainda em processo de consolidação como conceito, refere-se ao conjunto de atividades econômicas relacionadas à população idosa, considerando seu consumo, trabalho e contribuição social. Essa oportunidade está intimamente ligada a um envelhecimento populacional ativo e saudável. A literatura sobre o tema ganhou destaque por meio de estudos e relatórios da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), da União Europeia e do Japão, que têm liderado o debate sobre as possibilidades geradas por esse fenômeno.

O tema da economia prateada será abordado de forma mais detalhada em um próximo artigo, com foco em suas aplicações práticas e no impacto que pode ter sobre o futuro do Brasil.

*José Eustáquio Diniz Alves doutor em demografia e pesquisador

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