Depois da tempestade, crescimento zero. É a visao da Anfavea para a vendas de máquinas

O setor de máquinas agrícolas viveu uma tempestade perfeita em 2024. No campo, houve quebra de safra. No cenário macroeconômico, a taxa Selic seguiu em níveis elevados e voltou a crescer. No mercado financeiro, os preços das commodities tombaram.

Combinados, esses fatores contribuíram para uma redução de 19,8% na comercialização de máquinas agrícolas, segundo dados divulgados pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) nesta quinta-feira, dia 23 de janeiro.

Em 2024, foram vendidas no atacado 48,9 mil unidades, ante 61 mil em 2023.

“O desempenho de máquinas agrícolas foi prejudicado pela redução da safra de grãos, pela queda de preços das commodities e pela atratividade limitada das linhas de financiamento”, afirmou o presidente da Anfavea, Márcio de Lima Leite, em entrevista coletiva a jornalistas.

O cenário não muda muito para 2025. A Anfavea projeta para este ano um crescimento zero para as vendas de máquinas agrícolas no atacado e uma alta de apenas 1,0% no volume de exportação de máquinas agrícolas.

Os motivos são os mesmos atribuídos para o desempenho de 2024: restritividade da taxa Selic e depreciação cambial.

“Financiamento é um driver absoluto para o nosso mercado de máquinas. Não adianta ter forte crescimento do mercado de grãos. Se a taxa de juros não for atrativa, se o custo de financiamento não for atrativo, não conseguimos colocar máquinas em volume representativo”, disse o presidente da Anfavea.

No ano de 2024, o pior desempenho de vendas veio das colheitadeiras de grãos, cuja comercialização tombou 54,2% em 2024 em comparação a 2023, fechando o ano com um total de 3,3 mil máquinas vendidas.

A queda mais intensa veio das colheitadeiras pelo fato de as máquinas desse tipo serem mais caras que os tratores.

“Não posso comparar o preço de um trator com o preço de uma colheitadeira. Uma colheitadeira tem o ticket médio muito mais alto que o de um trator”, afirmou Márcio de Lima Leite. “Se fossem feitas em receitas, em faturamento, em geração de impostos, a queda teria sido muito maior.”

A comercialização de tratores de rodas também recuou, mas de forma menos intensa. A queda foi de 15,2% no período, encerrando o ano com um total de 45,6 mil máquinas comercializadas.

As vendas com tratores de maior potência sofreram mais do que tratores menores, que são beneficiados pelas taxas de juros destinadas à agricultura familiar, de acordo com a Anfavea.

Para 2025, a Anfavea não descarta um segundo semestre melhor, sob efeito de melhoria das condições de crédito. “Isso acontecerá se, aliado ao crescimento natural, tivermos uma linha atrativa de financiamento”, afirmou Márcio de Lima Leite.

“Sabemos das limitações fiscais do governo, porém esse é um mercado que gera muita riqueza para o Brasil. O governo sabe da importância do agronegócio e ter uma linha de financiamento atrativa vai acabar impulsionando mais o País e pode ser que esses números surpreendem positivamente.”

Balança comercial e Trump

O setor também registrou pelo segundo ano consecutivo déficit na balança comercial de máquinas agrícolas e de construção.

Segundo estimativas da Anfavea, o saldo ficou negativo em 5,8 mil unidades em 2024.

Entre 2020 e 2024, as importações cresceram três vezes, passando de 9 mil unidades para 26,4 mil unidades recebidas, enquanto que as exportações cresceram 1,6 vez, passando de 12,8 mil unidades para 20,6 mil unidades remetidas.

A Índia continua sendo a principal origem das máquinas agrícolas importadas pelo Brasil, mas a Anfavea vê com atenção o crescimento da presença da China no continente americano. O país tem acelerado seus volumes de exportação para nações vizinhas ao Brasil.

Entre 2023 e 2024, a participação consolidada chinesa em seis mercados relevantes para o setor de máquinas agrícolas brasileiro – Estados Unidos, Colômbia, Chile, Paraguai, Uruguai e Argentina – cresceu de 7,7% para 12,7%, enquanto que a do Brasil subiu de 3,5% para 4,6%.

“[O problema é] a velocidade com que acontece, a participação da China dobrou no período”, afirmou Lima Leite.

Outro ponto de atenção são as possíveis mudanças de política comercial dos Estados Unidos com a posse do presidente Donald Trump.

Hoje, o país é o principal destino das exportações brasileiras de máquinas agrícolas e de construção, respondendo por 42% do total.

O presidente da Anfavea, por enquanto, prefere a cautela. “Estamos aguardando, por ora foram feitos anúncios [apenas] sobre supertarifas”, afirmou

Leite disse também que a Anfavea trabalha com dois cenários. Ele acredita que a relação comercial com os Estados Unidos, que considera “muito boa”, continuará.

“Nossas exportações para os Estados Unidos são muito relevantes, nós temos uma relação comercial muito boa com os Estados Unidos e na nossa avaliação isso seria mantido”, afirma.

Por outro lado, a possibilidade de restrições comerciais impostas pelos Estados Unidos traz riscos e oportunidades ao mesmo tempo.

“Uma proteção para os Estados Unidos pode abrir espaço para produtos do Brasil, mas produtos destinados para os Estados Unidos podem ser destinados para o Brasil e outros mercados”, disse o presidente da Anfavea.

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