Blefe e fanfarronice: “Eles precisam de nós, que não precisamos deles”, diz Trump sobre o Brasil

Em um de seus primeiros atos como presidente dos Estados Unidos, Donald Trump não demorou a demonstrar a direção unilateralista de sua política externa. Questionado pela repórter Raquel Krähenbühl, da TV Globo, sobre a relação com o Brasil e a América Latina, Trump afirmou categoricamente: “Eles precisam de nós, muito mais do que nós precisamos deles. Não precisamos deles. Eles precisam de nós. Todos precisam de nós.”

A declaração, feita no Salão Oval enquanto Trump assinava seus primeiros decretos presidenciais, foi recebida com cautela por líderes e analistas. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva adotou uma postura conciliatória, reafirmando a importância de uma relação baseada no respeito mútuo e cooperação. “As relações entre o Brasil e os EUA são marcadas por uma trajetória de cooperação, fundamentada no respeito mútuo e em uma amizade histórica”, escreveu Lula em suas redes sociais.

Reações no Brasil e no exterior

Apesar do tom diplomático adotado por Lula, as declarações de Trump suscitaram preocupação nos bastidores do governo brasileiro. A embaixadora Maria Laura da Rocha, secretária-geral do Ministério das Relações Exteriores, destacou que cada passo será analisado com cuidado e que o foco será nas convergências entre os dois países. “Ele [Trump] pode falar o que ele quiser, ele é presidente eleito dos EUA. Vamos procurar apoiar e trabalhar não as divergências, mas as convergências, que são muitas”, declarou.

Analistas políticos avaliam que a postura agressiva de Trump pode representar um desafio para os países da América Latina, especialmente aqueles com dependência significativa das relações comerciais com os Estados Unidos. James Naylor Green, brasilianista e professor da Universidade Brown, apontou, em entrevista ao Portal Vermelho, que as declarações de Trump fazem parte de uma estratégia política mais ampla de intimidar e confundir seus oponentes: “Parte da estratégia política de Trump é fazer comentários ultrajantes para intimidar seus oponentes e confundir sua oposição. Neste caso, é parte de seu discurso sobre retornar os Estados Unidos a uma grande potência (imperial).”

James Green, brasilianista

Green destacou ainda que, embora Trump tenha sinalizado a possibilidade de aumentar drasticamente as tarifas sobre os países BRICS, como Brasil, China e Índia, há dúvidas sobre a proposta, que reflete mais bravata do que um plano viável. “Se ele de fato implementar seu plano de aumentar drasticamente as tarifas sobre os países BRICS (até 100 por cento), ele enfrentará quase imediatamente um aumento dramático nos preços, o que, de acordo com muitas análises, criará a inflação que ele prometeu reduzir.”

A relação Trump-Putin e os desafios para os BRICS

Trump tem um histórico peculiar nas relações com países do BRICS. Enquanto critica abertamente a China, tratada como a principal adversária econômica e geopolítica dos Estados Unidos, mantém uma postura ambígua em relação à Rússia. Green destaca que o republicano demonstrou uma proximidade inusitada com Vladimir Putin, algo inédito para líderes americanos no contexto pós-Guerra Fria. “Há algo muito estranho nesse relacionamento. Enquanto Trump insiste que a China é inimiga, ele mantém laços estreitos com Putin, o que sugere que não imporá tarifas altas a todos os países do BRICS”, afirma.

Essa dinâmica, segundo Green, pode indicar que Trump não imporá tarifas excessivamente altas a todos os países BRICS, preservando seus interesses políticos e econômicos. A possível aplicação de tarifas ao Brasil geraria implicações políticas e econômicas para ambos os países. O agronegócio brasileiro, setor alinhado ao ex-presidente Jair Bolsonaro, um aliado declarado de Trump, poderia sofrer severamente com as medidas. “Isso indica que muitas das declarações de Trump podem ser blefe e fanfarronice”, avalia o professor.“

O futuro das relações Brasil-EUA

Com o início do mandato de Trump, o Brasil enfrenta o desafio de equilibrar os interesses comerciais com a necessidade de resistir a imposições unilaterais. A postura diplomática de Lula e o discurso pragmático do Itamaraty podem ser fundamentais para evitar tensões desnecessárias e preservar os laços entre os dois países.

As primeiras ações de Trump sugerem uma política externa unilateralista, que pode aumentar a pressão sobre países da América Latina. A retórica protecionista e os possíveis atritos comerciais exigem que o Brasil equilibre seus interesses econômicos com a necessidade de resistir a imposições unilaterais.

Para analistas, o tom agressivo de Trump reflete tanto a tentativa de reafirmar os Estados Unidos como potência global quanto uma estratégia política doméstica de agradar suas bases eleitorais. No entanto, medidas como o aumento de tarifas podem ter efeitos colaterais significativos, tanto para os EUA quanto para seus parceiros comerciais.

Enquanto Trump reforça sua retórica de supremacia americana, os países da América Latina precisarão se unir para negociar em melhores condições e evitar retrocessos em suas relações com os Estados Unidos. O futuro das relações bilaterais dependerá, em grande medida, da capacidade de ambos os lados de encontrar convergências e superar as diferenças.

Enquanto Trump mantém sua retórica polarizadora, países como o Brasil devem apostar na diplomacia e no diálogo para navegar as incertezas que marcam o novo capítulo das relações com Washington.

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