Carta aberta de servidores do IBGE acusa gestão Pochmann de viés autoritário, político e midiático

Em meio à crise no IBGE, 136 servidores assinam carta aberta criticando a gestão do atual presidente do instituto, Marcio Pochmann. O documento foi assinado sobretudo por gerentes e coordenadores, e considera que a gestão tem viés “autoritário, político e midiático”.

A carta contou com apoio de servidores de três grandes diretorias do IBGE — Diretoria de Pesquisas Econômicas; de Geociências; e de Tecnologia da Informação —, e mostra que o movimento se espalha para além do sindicato, já que não foi organizada por eles.

Para além de apenas críticas à gestão, os servidores que assinam o documento colocam em jogo o maior ativo da instituição: suas pesquisas. Para eles, a criação da Fundação IBGE+, de caráter público-privado, o maior alvo de críticas, pode colocar em risco a credibilidade dos dados apresentados pelo instituto.

“Nossa preocupação é justamente manter a qualidade e, sobretudo, a confiabilidade dos dados. Por esse motivo, a criação de uma fundação público-privada que usa o próprio nome do IBGE, sem que houvesse ampla discussão sobre os possíveis riscos à nossa autonomia e à confiabilidade dos dados, tem mobilizado intensamente e com razão nosso corpo técnico”, disseram os servidores na carta.

Segundo fontes ligadas ao instituto, a nova carta representa praticamente uma declaração de guerra e vai além de uma divergência sindical.

Na semana passada, Elizabeth Hypolito e João Hallak Neto, diretora e diretor-adjunto de Pesquisas do IBGE, a mais importante do instituto, deixarem seus cargos tendo como principal motivo para o afastamento a falta de interlocução com a presidência do órgão. Em seguida, o instituto divulgou comunicado negando crise e criticando os servidores que vão contra a criação da fundação. No comunicado, o instituto diz que pode recorrer à Justiça contra “desinformação e mentira”.

Na carta dos profissionais que atuam no instituto, os servidores expressam apoio aos diretores que pediram exoneração e ao sindicato, e respondem ao comunicado do IBGE dizendo que nunca atacaram ou levantaram mentiras sobre a instituição, mas que gostariam de ser escutados antes de medidas, como a criação da Fundação IBGE+ ou o fim do regime remoto integral, serem tomadas.

“O clima organizacional está deteriorado e as lideranças encontram sérias dificuldades para desempenhar suas funções. Por isso, não vemos outro caminho senão solicitar o apoio da sociedade e a atenção das autoridades competentes para sanar a crise instaurada”, escreveram na carta.

Para a ex-presidente do IBGE Wasmália Bivar, a carta tem um peso grande, pois foi organizada por coordenadores e gerentes da casa, que são o pilar da instituição.

“São as pessoas que durante todo o ano são responsáveis pela produção do IBGE, tanto estatística quanto geocientífica, algumas delas de áreas muito relevantes para a capacidade de trabalho da instituição. E eles estão dizendo para o presidente que não só os diretores, mas o resto da estrutura organizacional do IBGE está muito insatisfeito com a sua gestão, que desse jeito não dá para continuar”, explica.

Ela chama atenção para o fato de que ver diretores saindo é algo mais comum, mas com a carta a crise já chega em níveis que ainda não tinham sido vistos na instituição.

“Isso de os coordenadores se manifestarem publicamente em peso, desse jeito, é inédito. Isso nunca aconteceu na história do IBGE”.

A Confederação Nacional dos Servidores Públicos (CNSP) divulgou nota sobre a carta aberta dos servidores do instituto, apelando para que Congresso Nacional faça intervenção na criação da Fundação IBGE+.

“Diante de flagrantes abusos, a CNSP vem pedir aos Congressistas a adoção de medida legislativa no sentido de sustar urgentemente o ato constitutivo da entidade privada IBGE+, assim como denuncie — no exercício da representação política — o Estado Brasileiro junto à Organização Internacional do Trabalho (OIT), à Comissão Interamericana de Direitos Humanos e à Organização das Nações Unidas pelas violações atentatórias à liberdade das entidades representativas assegurada universalmente”, disse, em nota, o presidente da confederação Antonio Tuccilio.

 

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