Quem é Ross Ulbricht? Criador de site da Dark Web ligado ao bitcoin pode ser solto por Trump

Com a posse do novo presidente dos EUA se aproximando, uma promessa de campanha volta a ganhar destaque nas discussões públicas e nas casas de apostas: o perdão ou a comutação da sentença de Ross Ulbricht, criador do controverso marketplace da Dark Web, o Silk Road.

Ulbricht está preso há mais de uma década, cumprindo uma sentença de prisão perpétua que muitos consideram excessiva.

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Agora, com especulações em alta sobre o cumprimento dessa promessa, surge a pergunta: quem é Ross Ulbricht? Para entender essa história, é preciso conhecer a história do Silk Road.

Criação do Silk Road

A mente por trás do Silk Road é Ross Ulbricht, nascido no Texas, escoteiro e graduado em física. Uma de suas ideias era realizar um experimento: criar um mercado onde pessoas ao redor do mundo pudessem negociar sem qualquer restrição.

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Ele iniciou o projeto utilizando o TOR, um software de código aberto que permite comunicação anônima e segura na internet, inclusive na dark web. Isso possibilitaria que as pessoas fizessem negócios online sem que os governos tivessem conhecimento.

Envolvimento do bitcoin

O segundo desafio foi encontrar um método de pagamento online que não dependesse de instituições centralizadas. Foi em 2010 que Ross conheceu o bitcoin.

A partir daí, ele começou a desenvolver o site sozinho, para não precisar confiar em mais ninguém. Contudo, acabou comentando sobre o projeto com sua namorada na época, Julia.

Após finalizar a primeira versão, enfrentou o problema inicial de todos os marketplaces: não havia compradores porque não havia vendedores, e vice-versa.

Cogumelos “mágicos”

Para resolver isso, ele alugou um galpão afastado e começou a cultivar seus próprios cogumelos “mágicos”, que se tornaram os primeiros produtos vendidos no marketplace.

No início de 2011, após um ano de trabalho no desenvolvimento, Ross finalmente lançou o Silk Road. Embora o site já contasse com várias categorias de produtos ilícitos, inicialmente apenas seus cogumelos estavam disponíveis.

A próxima etapa era promover o site para atrair usuários. Uma das estratégias foi comentar sobre ele em fóruns, como um dedicado a entusiastas de cogumelos.

No começo, o Silk Road cobrava uma comissão de 6,23% sobre cada transação.

Os usuários começaram a acessar o site e fazer pedidos. Como Ross trabalhava em uma livraria na época, ele tinha acesso a materiais como envelopes e impressoras de etiquetas para enviar os pedidos.

Nas semanas seguintes, mais vendedores começaram a oferecer outros itens no site, atraindo cada vez mais compradores. Um sistema de avaliações e comentários ajudava a estabelecer confiança entre os usuários.

Comercialização de drogas

Com o crescimento do site e a inclusão de drogas pesadas entre os produtos anunciados, Julia começou a questionar Ross sobre possíveis problemas envolvendo vendedores entregando produtos diferentes dos anunciados. Ross confiava no sistema de notas: se alguém vendesse algo ruim, receberia avaliações negativas e não conseguiria mais vender.

Alguns meses depois, um artigo publicado pelo site Gawker trouxe atenção ao Silk Road. Após isso, outros portais também noticiaram sobre o marketplace, aumentando ainda mais sua visibilidade.

Nem toda atenção era bem-vinda. Diversas agências dos Estados Unidos começaram a monitorar e investigar o site.
Nesse momento, Ross já lucrava bastante com as transações realizadas no Silk Road.

Julia ficou preocupada e acabou comentando sobre o site com sua amiga Erica. Apesar de pedir sigilo absoluto, Erica publicou uma mensagem pública no Facebook dizendo que as autoridades poderiam se interessar pelo “site de vendas de drogas” de Ross.

Embora Ross tenha deletado a mensagem rapidamente, isso o deixou ansioso. A situação se agravou quando Julia terminou o relacionamento.

Ross decidiu viajar para mudar os ares. Apesar disso, continuava preocupado que alguém pudesse ver a tela do seu notebook enquanto trabalhava no site.

Com o rápido crescimento do Silk Road e das transações realizadas nele, problemas começaram a surgir: bugs no código e reclamações de usuários insatisfeitos. Foi necessário contratar pessoas para ajudar na administração do site. Ele fez isso diretamente na plataforma, oferecendo vagas aos usuários mais ativos.

Venda de rins

Em certo momento, Ross recebeu uma mensagem de um moderador perguntando se deveriam permitir a venda de rins no site. Embora essa não fosse sua visão inicial para o marketplace, ele acreditava que os usuários deveriam ser livres para decidir como usar a plataforma. Não queria carregar o fardo de determinar o que poderia ou não ser negociado.

Um usuário chamado Variety Jones tornou-se próximo de Ross ao ajudá-lo com melhorias no código do site. Jones sugeriu que Ross adotasse o pseudônimo “Dread Pirate Roberts”, inspirado em um personagem do filme A Princesa Prometida. A ideia era criar uma identidade que pudesse ser passada adiante caso necessário.

Ross gostou da ideia, pois caso fosse pego algum dia, poderia se esquivar de toda culpa, dizendo que ele fora o administrador por um tempo, mas que assim como no filme, era um nome que era passado de pessoa a pessoa e que ele não estaria mais envolvido com o site, e que Dread Pirate Roberts seria outra pessoa.

Até conhecer Variety Jones virtualmente, Ross era muito solitário. Ele não compartilhava detalhes sobre sua vida pessoal desde os incidentes envolvendo Julia e Erica. Para justificar seu tempo online constante, dizia às pessoas que negociava ações na bolsa.

Em meados de 2012, um usuário chamado Nob começou a publicar nos fóruns do Silk Road alegando ser um grande traficante com contatos dentro do DEA, órgão federal de segurança dos Estados Unidos para repressão e controle de narcóticos. Nob ofereceu vender informações privilegiadas para ajudar Ross a se proteger das investigações em andamento.

Traição na cúpula do Silk Road

Uma das pessoas do time de Ross era Curtis Green, que ficava responsável pela moderação do fórum. Um dia, quando recebeu uma encomenda de cocaína, recebeu junto a visita da polícia e foi preso enquanto seus dois chihuahuas latiam e tentavam morder os pés dos agentes da força tarefa Marco Polo.

Após algum tempo sem notícias de Curtis, Ross descobriu que US$ 350 mil em bitcoins haviam sido desviados de uma conta do Silk Road. Ele suspeitou que Curtis tivesse roubado e desaparecido com o dinheiro.

Ross pediu ajuda nos fóruns para encontrar Curtis e recuperar os bitcoins. Nob respondeu prontamente dizendo conhecer pessoas para realizar esse trabalho por um pagamento inicial seguido por outro após completar o serviço.

Nob enviou uma foto forjada mostrando Curtis aparentemente morto e recebeu todo o pagamento combinado.
Ross ficou inquieto com a situação, mas foi convencido por Variety Jones de que essa ação enviaria uma mensagem clara contra traições dentro da equipe do Silk Road.

Depois disso, Ross queria um tempo, e aproveitou para ir visitar Kristal, a garota por quem acabou se apaixonando e que havia conhecido em uma viagem de alguns dias com um casal de amigos. Esses eram os períodos em que Ross compartilhava seus momentos de felicidade com o fato de seu projeto estar dando certo. Mas dessa vez, ele não falaria nada sobre o site para Kristal.

No começo de 2012, era estimado que o site transacionava US$ 2 milhões por mês, o que rendia muita comissão para Ross, que inclusive disse em uma conversa com Variety Jones que gostaria de ter US$ 1 bilhão aos 30 anos de idade.

Investigações

Enquanto isso, as investigações se intensificavam, e apesar de agências como FBI, DEA estarem com investigações em curso, quem fez as primeiras descobertas foi Gary Alford do IRS (Internal Revenue Service), o equivalente à nossa Receita Federal.

Ele estava trabalhando no caso para rastrear o dinheiro que passava pelo site.

Acreditando que o criador do site teria deixado algum rastro, ele começou com uma pesquisa simples, tentando saber quais foram as primeiras publicações sobre o Silk Road. Fazendo a busca por data, ele descobriu a publicação de um usuário de nome Altoid em um fórum de criadores de cogumelos em 27 de janeiro de 2011. O texto parecia o de um curioso querendo saber se mais alguém havia ouvido falar no Silk Road.

Pesquisando por outras publicações em outros fóruns do mesmo usuário Altoid, Gary encontrou uma publicação no BitcoinTalk perguntando se mais alguém conhecia o Silk Road.

Curiosamente, as duas primeiras publicações a mencionar o site era do mesmo usuário, e posteriormente outras publicações em outros fóruns foram encontrados.

Usando suas credenciais, Gary entrou em contato com os sites dos fóruns e pediu os nomes e endereços de email atrelados ao usuário Altoid. Todos haviam sido criados pelo endereço de email [email protected].

Porém uma publicação de Altoid em outubro de 2011 no Bitcointalk que anunciava um vaga para um projeto relacionado a uma startup de bitcoin, havia um endereço de email para que os interessados enviassem as aplicações para [email protected].

A partir daí, Gary passou a investigar a vida de Ross Ulbricht e ficava cada vez mais convicto de que ele era o criador por trás do site.

Outra descoberta curiosa era que nas redes, Ross tinha o apelido de OhYeaRoss, e sempre que Dread Pirate Roberts escrevia ou comentava na plataforma do Silk Road, ele escrevia “yea”.

Gary também achou uma publicação de Ross Ulbricht no StackOverflow e que foi editado e o nome alterado para Frosty.

Com todas essas evidências, Gary pediu para que o Departamento de Segurança Interna verificasse os registros de Ross, e descobriu que recentemente ele havia encomendado identidade falsa e que foi interceptada.

Paralelamente, outras investigações estavam em curso, e em uma dessas, o FBI havia conseguido descobrir o endereço de IP do servidor onde o Silk Road estava hospedado, que no caso era na Islândia.

Inclusive, existe uma suspeita de que para conseguir esse endereço de IP, o governo teve que violar a quarta emenda constitucional, e esse diz que conseguiu por um bug no código do site.

Trabalhando junto com as autoridades islandesas, o FBI passou a ter acesso ao servidor do Silk Road e acompanhar as atividades, como quando o administrador estivesse logado.

Rastreando os últimos logs, verificaram que foram feitos em um café em São Francisco. Mas não conseguiam ir muito além disso.

Foi então que Gary entrou em contato com a força tarefa do FBI e cruzaram as descobertas. E quando Gary contou que Ross havia trocado o nome em uma publicação para Frosty, os agentes da outra força tarefa comentaram que tanto o servidor quanto o computador do administrador estavam nomeados como Frosty.

Finalmente quando Gary disse onde Ross morava, que foi descoberto por conta do incidente da identidade falsa, os agentes puderem concluir que o café de onde os logs estavam sendo feitos ficava a poucos quarteirões da casa de Ross.

O próximo passo era então capturar Ross. Mas havia um problema: eles teriam que capturá-lo quando ele estivesse com o notebook aberto para poder ter acesso às provas necessárias para incriminá-lo, além de também terem acesso a dados de traficantes.

Caso fizessem uma incursão à sua casa, ele poderia simplesmente fechar o notebook e as autoridades nunca teriam acesso aos dados.

Prisão de Ross Ulbricht

Na manhã do dia 1 de outubro de 2013, Ross foi a uma biblioteca pública perto de sua casa e sentou-se em um canto como sempre fazia para trabalhar. Mas nesse dia, agentes o seguiram.

Dois agentes simularam uma discussão. Um deles começou a gritar alto, o que chamou a atenção de todos dado que a biblioteca era um ambiente silencioso. Assim que Ross se virou para ver o que estava acontecendo, um agente puxou seu notebook ainda aberto e o outro o segurou e o prendeu.

Com o notebook aberto, os agentes viram que ele estava logado em três áreas de administrador do Silk Road com o nome de usuário Frosty. Uma das áreas, chamada de “Mastermind”, apenas Dread Pirate Roberts poderia ter acesso!

Eles haviam enfim capturado Dread Pirate Roberts, o criador e administrador do Silk Road.

Mas as investigações posteriores revelaram algo muito surpreendente

Finalmente quando o FBI e o IRS começaram a investigar o rastro dos bitcoins, descobriram que parte dos bitcoins foram para dois agentes que trabalharam em uma mesma força tarefa: Carl Force e Shaun Bridges.

Ao analisarem as mensagens no servidor trocadas por Dread Pirate Roberts, notaram que uma mensagem da usuária “French Maid” estava assinada como Carl, e que em uma mensagem subsequente, ela disse que o seu nome era Carla Sophia.

Foi o suficiente para que o FBI descobrisse que Carl era na verdade Nob, que usou suas informações privilegiadas sobre o caso para vendê-las para Ross, além de também ter planejado o teatro da morte de Curtis e recebido por isso. No total, na época, ele recebeu um valor estimado em US$ 757 mil em bitcoins.

Lembra de Curtis, o moderador do fórum do SilkRoad que teria roubado Bitcoins? Na verdade, quem desviou os bitcoins fora Shaun Bridges, também integrante da força tarefa de Baltimore que havia participado na invasão da casa de Curtis quando ele havia encomendado drogas. Ao ver o notebook aberto do moderador e com acesso a bitcoins do Silk Road, o agente os desviou para uma carteira pessoal e foi descoberto nas investigações posteriores e preso tentando sair do país.

Ross e Julia voltaram a se ver antes de Ross vir a ser preso. Julia passou a visitá-lo na prisão algumas vezes até que em 2015 ela resolveu que seria melhor seguir a sua vida.

Ross, condenado a duas penas de prisão perpétua, aguarda o perdão prometido pelo presidente eleito para o primeiro dia de mandato. Talvez, em um simbólico 21 de janeiro, Ross possa finalmente voltar a ver o sol não mais quadrado, mas pleno e redondo, como o próprio ícone do bitcoin.

Baseado no livro: American Kingpin: The Epic Hunt for the Criminal MasterMind Behind the Silk Road – Nick Bilton

*Matheus Bombig é cofundador da Invenis, cofundador e conselheiro da AB2L (Associação Brasileira de Lawtechs e Legaltechs). Linkedin Top Voice. Graduado em engenharia mecânica pela Unicamp. Atuou 6 anos em consultoria estratégica.

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