Investigação da PF apura suposto desvio de emendas envolvendo deputado federal e facção criminosa 

A Polícia Federal (PF) deu início à investigação de desvio de verba das emendas parlamentares no Ceará (CE). As informações preliminares apontam que o dinheiro público desviado via emenda parlamentar serviu, entre outras coisas , para financiar campanhas políticas nas últimas eleições e também as atividades do grupo Guardiões do Estado (GDE), uma das facções criminosas mais bem estruturadas do estado. 

As figuras centrais nesse inquérito são o deputado federal Júnior Mano (PSB), empresários, políticos e o GDE. A investigação teve início após a cidade de Nova Russas (CE) ter recebido R$ 80 milhões em emendas para pavimentação. O município é tido como reduto eleitoral de Mano e a prefeita é sua esposa, Giordanna Mano (PRD). Apesar de não ser ilegal, a movimentação chamou a atenção e deu início à investigação. 

A partir desse ponto, foi possível encontrar indícios de que, nas eleições do ano passado, o parlamentar estaria financiando campanhas de aliados em cerca de cinquenta cidades do Ceará. Conforme revelado pela PF, os recursos enviados por Mano às prefeituras foram parcialmente desviados, incluindo em Nova Russas. 

O modus operandi do grupo já é conhecido: as prefeituras enviavam o dinheiro das emendas para empresas específicas (muitas de amigos do parlamentar) sob pretexto de pagar por obras, e parte desse dinheiro desaparecia. Depoimentos de testemunhas levam a crer que o dinheiro desviado era lavado pelo GDE, e devolvido a Mano. Agora, o inquérito está no Supremo Tribunal Federal (STF), já que envolve um deputado.  

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A PF apura ainda possível compra de votos em Canindé, cidade a 120 km de Fortaleza onde o grupo de Mano elegeu o prefeito Professor Jardel (PSB). Além disso, adversários do nome apoiado pelo grupo do parlamentar denunciam que foram ameaçados durante o pleito. Segundo a PF, as ameaças partiam da chefe do comitê eleitoral do Professor Jardel, mulher ligada a um traficante da facção GDE. Investigação da Polícia Militar (PM) do estado mostram que foram compartilhadas dentro do distrito fotos com o número das urnas do novo prefeito e os dizeres “sou GDE 745 e voto 40”, o que estreita a ligação entre o político e a facção criminosa. 

Atualmente dezenas de investigações estão em andamento na Polícia Federal apurando o destino dado à verba das emendas parlamentares em diferentes unidades da federação. Os deputados e deputadas federais enviaram cerca de R$ 150 bilhões para suas bases eleitorais nos últimos cinco anos. A destinação prevista para esses recursos está ligada às obras de infraestrutura, aos programas de saúde, educação e segurança, assistência social, entre outros. Entretanto, o sistema de fiscalização e controle desse dinheiro não é tão rígido quanto deveria, o que abre espaço para desvio de verbas. A atual investigação ainda está em andamento e deve trazer à tona novos desdobramentos. 

Líder do governo 

“O pessoal do Guimarães quer fazer um negócio de um milhão e meio de emendas de saúde, aí eu quero que meu fi veja aí. Vou mandar eles te ligar, viu? No máximo, 12%. Indicação para Choró. Aí indica agora, dia 6 de outubro. Aí já é logo carimbada”, trecho de áudio obtido durante as investigações da PF liga o nome do líder do governo na Câmara, deputado José Guimarães (PT-CE), aos desvios feitos através das emendas para Choró.  A mensagem teria sido enviada por Bebeto do Choró a um dos funcionários do gabinete de Júnior Mano. 

A suspeita é de que essa emenda se trate de um texto aprovado pela Comissão de Saúde da Câmara em junho do ano passado. O valor de R$ 1,5 milhão para o Fundo Nacional de Saúde foi aprovado e o valor foi repassado integralmente. Em nota enviada à Veja, Guimarães afirma não ter indicado a emenda e destaca que não conhece nem mantém qualquer tipo de relação com Bebeto do Choró ou com o assessor de Mano.  

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