Do Velho Chico ao mundo, uvas devem levar Coana aos R$ 200 milhões em 2025

O Vale do Rio São Francisco é conhecido nacionalmente por ser o maior polo produtor de frutas do Brasil.

Por ali, a cidade de Petrolina, no sudoeste de Pernambuco, é uma das principais produtoras de frutas de mesa, principalmente mangas e uvas, que abastecem as gôndolas de redes varejistas no Brasil e no mundo.É dessa região que saem cerca de 98% das uvas exportadas pelo país.

Foi ali que, com apenas 24 produtores associados e cerca de 400 hectares irrigados, a Cooperativa Agroindustrial Nova Aliança (Coana) se tornou a segunda maior exportadora de uvas do país.

“Cerca de 70% da nossa produção vai para o mercado externo e 30% para o mercado doméstico”, explica Edis Ken Matsumoto, presidente da cooperativa.

Olhar para a fora diferenciou a Coana de outros produtores. Atualmente, a área total de uva de mesa no Brasil está na casa dos 15 mil hectares. No entanto, apenas 12% da produção é exportada. O restante fica no mercado doméstico.

As propriedades dos cooperados têm, em média, 60 hectares. Parece pequeno, mas o negócio tem se tornado coisa de gente grande.

Matsumoto revela que 2024 foi um ano de crescimento para os negócios com, 13 mil toneladas de uvas colhidas. O tamanho médio das propriedades dos cooperados é de 60 hectares.

Para 2025, a meta é ampliar o número de cooperados e consequentemente de volume produzido.

“Queremos ampliar a oferta de fruta no mercado internacional, chegar a 15 mil toneladas produzidas e receita de R$ 200 milhões. Se o clima favorecer, podemos ainda extrapolar a meta do ano”, calcula o presidente da cooperativa.

Ele explica que das 13 variedades produzidas pelos cooperados, as mais exportadas atualmente são a Cotton Candy e Autumn Crispy, uvas brancas e sem sementes.

A primeira tem sabor mais caramelizado e textura suave, enquanto a segunda é crocante e tem sabor moscate, mais suave e adocicado. Pela alta demanda, ambas possuem maior valor agregado e remuneram melhor o produtor.

Para o mercado brasileiro, a variedade Arra 15, também branca e sem semente, é bastante apreciada pelos consumidores. Só recentemente a Cotton Candy começou a aparecer nas gôndolas do varejo brasileiro, voltada para um público com maior poder aquisitivo, já que seu preço de venda costuma ser maior.

Até 2030, a meta da cooperativa é crescer 53% e chegar a 20 mil toneladas de uvas produzidas. Esse crescimento se dará pelo aumento de produtores cooperados e pela expansão da produção dos produtores já associados à Coana.

Até 2030, a meta da cooperativa é crescer 53% e chegar a 20 mil toneladas de uvas produzidas. Esse crescimento se dará pelo aumento de produtores cooperados e pela expansão da produção dos produtores já associados à Coana.

Em um primeiro momento, produtores independentes atuarão como parceiros da Coana, fornecendo sua produção para a exportação e utilizando a estrutura e o know-how da cooperativa para a exportação.

Assim como os cooperados, eles pagarão uma taxa, cujo valor será revertido para manter todos os serviços e estrutura utilizados para as operações.

“Será um processo gradual, porque precisamos acompanhar se esses produtores estarão adequados dentro de todas as exigências que precisamos atender para exportar”, explica Matsumoto.

Uma vez que os requisitos sejam atendidos, os produtores poderão se tornar cooperados. A expectativa é que até 2030, a Coana tenha 10 novos produtores sob esse modelo.

“Calculamos que cerca de 5 mil toneladas venham de novos associados que deverão chegar nos próximos anos”, avalia Matsumoto.

Com esse volume, ele explica que será necessário ampliar os investimentos em infraestrutura, como câmaras frias, área de despacho e embarques.

No mercado externo, a Coana atende diretamente as grandes redes varejistas, como o grupo Tesco, um dos maiores do Reino Unido, e o Sainsbury ‘s, terceiro maior grupo varejista daquele país.

Atualmente as uvas são exportadas para 11 países: Inglaterra, Irlanda, Alemanha, Bélgica, Holanda, Suécia, Finlândia, Espanha, França, Estados Unidos e Canadá.

Para atender a esses clientes, Matsumoto explica que o controle de qualidade e principalmente de resíduos é extremamente rigoroso, especialmente para entrar no mercado europeu. Para alguns clientes, ele explica que o Limite Máximo de Resíduos (LMR) precisa ser ainda menor do que o estabelecido pela legislação.

Assim, o controle de qualidade começa ainda no campo, onde as uvas passam por dois processos. Durante a primeira etapa, de brotação e desenvolvimento dos cachos, são usados os defensivos convencionais, dentro dos limites estabelecidos.

Na parte final do cultivo, que envolve um ciclo de aproximadamente 40 dias, os produtores passam a usar apenas insumos biológicos, para que os frutos atinjam a maturação e a planta elimine qualquer resíduo que possa comprometer a entrega do produto.

No Brasil, a Coana comercializa a produção principalmente no atacado, abastecendo as empresas nos Ceasa de São Paulo, Campinas, Belo Horizonte e Salvador.

Matsumoto explica que a “preferência” pelo atacado se dá por uma questão bastante simples. “Nossa produção, por ser concentrada na exportação, acontece em dois períodos do ano, para fornecer ao varejo é preciso ter produção constante”.

Assim, os únicos clientes do varejo são as redes Hortifruti, no Rio de Janeiro, e Natural da Terra em São Paulo, que pertencem ao grupo 3G Capital, do trio Jorge Paulo Lemann, Carlos “Beto” Sicupira e Marcel Herrmann Telles.

Uva com protetor solar

Assim como outros produtos agrícolas, a uva também sofreu com a intensificação das oscilações climáticas. A produção brasileira é concentrada em dois períodos do ano, entre setembro e novembro e de março a maio.

Por um lado, no primeiro semestre do ano, o excesso de chuvas na região produtora comprometeu o desenvolvimento das plantas e as deixou mais suscetíveis a doenças. “Uva e chuva rimam, mas não combinam”, brinca Matsumoto.

Ele explica que por conta do excesso de umidade, a produtividade média por hectare em 2024 ficou em 30 toneladas por hectare. A média costuma ser de 40 toneladas por hectare, sendo entre 10 e 15 produzidas no primeiro semestre e entre 25 e 30 no segundo semestre.

Já no segundo semestre, com as plantas bastante sobrecarregadas pelo excesso de umidade, a seca prolongada com maior incidência de radiação solar acabaram castigando ainda mais a segunda safra da uva e dificultando a concentração de açúcar nos gomos. “Verificamos uma queda na qualidade das frutas”.

O cenário só não foi pior porque outras regiões produtoras, como Califórnia e Espanha, também sofreram perdas na produção, o que fez com que a oferta de produto no mercado ficasse mais restrita, aumentando o preço médio do produto.

Enquanto a média de preço em anos anteriores ficou entre R$ 9 e R$ 10 o quilo, com a menor oferta, o produtor recebeu entre R$ 12 e R$ 13, ajudando a compensar as perdas em volume.

O excesso de radiação solar diretamente nas plantas também é um fator que preocupa os produtores.

Matsumoto explica que a Coana, juntamente com seus cooperados, vem testando alternativas para auxiliar na diminuição da incidência de raios solares sobre as plantas, incluindo uma espécie de protetor solar. Trata-se de um produto que é pulverizado sobre as plantas e cria uma camada protetora que diminui o impacto do sol.

Além disso, os produtores estão investindo no uso de coberturas plásticas sobre as parreiras, especialmente entre dezembro e maio, período em que além do calor, as plantas podem sofrer com as chuvas.

“Junto com as capas, também usamos um produto anti-stress que faz a planta resistir melhor ao excesso de chuvas, caso aconteça.

Com todas essas soluções implementadas no campo nos últimos anos, associados ao aumento do custo da mão-de-obra, Matsumoto revela que o custo de produção acabou subindo e ficou perto de R$ 10 reais por quilo em 2024, apertando ainda mais a margem do produtor, que gira em torno de 20%.

“Essa margem deixa o produtor rendido, já que qualquer imprevisto na produção consome esse percentual. A margem ideal seria em torno de 40%”, calcula.

Por isso, Matsumoto explica que a Coana faz um trabalho constante de monitoramento do mercado para identificar as variedades com maior demanda e valor agregado, o que auxilia o produtor na hora de equilibrar a balança.

“A variedade Cotton Candy, por exemplo, remunera quase o dobro e o custo de produção é o mesmo das demais variedades”.

Gargalo logístico

Os atrasos nos portos foram responsáveis por tirar o sono dos produtores agrícolas em 2024 e o cenário não foi diferente para a uva de mesa.

Matsumoto revela que os constantes atrasos dos embarques levaram as uvas ao limite, o que prejudicou a qualidade do produto entregue no mercado internacional.

No caso das uvas, os embarques são feitos nos portos de Pecém (CE) e de Salvador (BA).

“Infelizmente tivemos casos em que as uvas já chegaram desgastadas, fora do padrão de qualidade e acabaram sendo vendidas em mercados menos exigentes, remunerando menos e causando prejuízos”, explica.

Ao contrário de outros produtos como grãos, que resistem a períodos mais prolongados de armazenagem e transporte, a uva, por ser um produto bastante sensível, necessita de refrigeração adequada durante todo o processo, mas não pode ser embalada a vácuo, pois precisa respirar e manter a hidratação.

“O sistema de refrigeração dos contêineres não é tão eficaz quanto das câmaras refrigeradas, o que já faz a fruta sofrer durante o trajeto. Com os atrasos nos portos, o prazo de durabilidade da fruta nas prateleiras do varejo acabam drasticamente reduzidas, além de comprometer o relacionamento com os nossos clientes”, pondera Matsumoto.

Ele explica que o gargalo logístico é a principal preocupação do setor para 2025. “Estamos testando algumas alternativas para o envio das frutas, incluindo parcerias com outras empresas para o transporte via navios “alugados”, que agilizam o processo”.

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