Ascensão de crimes virtuais força adaptação por parte das forças de segurança pública

O desenvolvimento das tecnologias de informação e comunicação forçaram mudanças radicais no estilo de vida das pessoas em todo o mundo. Até certo ponto, o comércio, o lazer, a educação e tantos outros setores do nosso cotidiano migraram para o virtual. Esse processo, ainda em andamento, requer adaptações em diversos níveis: novos equipamentos, novas técnicas, novas dinâmicas de trabalho entre outros. Com o crime, não foi diferente, ele também se adaptou e é obrigação das forças de segurança pública acompanhar esse movimento. 

Se tornou quase diário ouvir notícias sobre golpes aplicados no ambiente virtual. Compras falsas, pedidos de ajuda de parentes ou conhecidos que tiveram seus números clonados, golpistas se passando por advogados das vítimas, entre outras práticas de estelionato no ambiente digital se tornaram presentes no dia a dia de todos. Idosos, adultos e jovens estão sujeitos às ligações suspeitas, às mensagens urgentes solicitando pagamentos e aos falsos perfis de empresas, e isso forçou mudança no comportamento do usuário das redes virtuais.    

Entretanto, alguns setores se adaptam mais lentamente à essa migração da criminalidade para o ambiente virtual. Respondendo ao movimento dos estelionatários, instituições financeiras começam a criar medidas de segurança específicas, como limites nas transferências, fortalecimento da segurança digital, criação de senhas que demandam uso do rosto ou digitais do usuário e monitoramento constante das transações tidas como suspeitas. Entretanto, os criminosos conseguem ainda burlar esses mecanismos, o que resulta numa crescente das infrações cometidas em ambiente digital. 

Informações do Instituto DataSenado mostram que, em 2024, 24% dos brasileiros acima dos 16 anos foram vítimas de alguma modalidade de golpe digital, seja clonagem de cartão, fraude na internet ou invasão de contas bancárias. Isso representa mais de 40,8 milhões de pessoas. O levantamento aponta ainda que a distribuição desses crimes se dá de forma uniforme entre as regiões do país e que não há distinção clara entre os perfis das vítimas. 

Uma pesquisa realizada pela SAS Institute, empresa de inteligência para negócios, afirma que o Brasil é o segundo país com mais vítimas de golpes virtuais em toda a América Latina. Reforçando esse dado, surge um levantamento feito pela empresa de segurança cibernética Fortinet traz dado ainda mais alarmante: em 2022, o Brasil teve pelo menos 103 bilhões de tentativas e ameaças de ataques cibernéticos. Mesmo que a tentativa de golpe seja clara e fácil de evitar para alguns, as tentativas recorrentes já se tornam uma forma de assédio digital. 

Grupos de estelionatários conseguem acesso aos bancos de dados oficiais de instituições, simulam sites e linhas telefônicas, além de usar informações verídicas (ligadas a processos reais, por exemplo) como parte dos golpes. Cada vez mais críveis, os recursos dos estelionatários digitais conseguem roubar dezenas de milhares de reais de uma única vítima, e o fato se torna mais comum do que se imaginava. 

As forças de segurança já começaram o movimento para especificar o combate a esse tipo de crime. O Governo Federal, por exemplo, criou o Centro de Prevenção, Tratamento e Resposta a Incidentes Cibernéticos de Governo (CTIR Gov), e as Polícias Civis de todo o país já criaram delegacias específicas, em Goiás temos a Delegacia Estadual de Repressão a Crimes Cibernéticos de Goiás (DERCC/GO). Apesar dos esforços, a impressão que se tem é que os criminosos estão um passo à frente, e as forças de segurança se concentram em encontrar e punir os infratores, mas não conseguem prevenir os crimes. 

As táticas de policiamento convencionais (como patrulhas ostensivas, instalação de câmeras de seguranças e alarmes, por exemplo) se mostram efetivas na redução da criminalidade mais tradicional, como roubos e furtos. Agora, os mecanismos criados para evitar a crescente de crimes virtuais ainda não alcançam a mesma efetividade em inibir essas práticas. Dessa forma, se faz urgente a adaptação das táticas do Poder Público (tanto no policiamento quanto na esfera legal e investigativa) para não apenas buscar punir os transgressores, mas de fato impedir a ocorrência dessa modalidade de crime. 

Os golpes têm trazido prejuízo maior do que jamais antes e os criminosos estão se tornando cada vez mais difíceis de se prender (quem dirá a restituição dos prejuízos). Muitos políticos tradicionais adotam o discurso da segurança pública em sua retórica por entenderem a pauta como necessária e popular, entretanto, os tempos mudaram, e agora, no intuito de atingir uma real sensação de segurança, o ambiente virtual precisa estar no centro dos diálogos.

Leia também: Polícia Civil realiza operação contra suspeitos de aplicar golpes em empresas de Anápolis

Documentos que comprovam crimes virtuais crescem mais de 90% em Goiás após Lei do Stalking

O post Ascensão de crimes virtuais força adaptação por parte das forças de segurança pública apareceu primeiro em Jornal Opção.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.