‘Não pode haver mistura entre polícia e bandido’, diz o novo procurador-geral de Justiça do Rio

O novo procurador-geral de Justiça do Rio, Antonio José Campos Moreira, de 62 anos, assume o comando do Ministério Público (MPRJ) na próxima sexta-feira. Com 38 anos de experiência, a maioria na área criminal, ele já definiu suas prioridades: fortalecer o Grupo de Atuação Especializada no Combate ao Crime Organizado (Gaeco), para atuar contra milícias, tráfico de drogas e jogo do bicho, e criar duas novas equipes especiais. Uma delas será voltada à segurança pública, e a outra apenas aos crimes ambientais e à ocupação irregular do solo. Também formará um núcleo de combate a golpes cibernéticos e jogos eletrônicos ilegais.

O senhor participou do estouro da fortaleza do bicheiro Castor de Andrade, em Bangu, em 1994. A operação foi um marco na história do MPRJ?

Sim, foi a primeira investigação direta feita pelo Ministério Público, da qual participei. Na época, havia centenas de inquéritos em que os banqueiros do jogo do bicho apareciam como investigados, geralmente como mandantes de homicídios. Formavam uma quadrilha, o que chamamos hoje de organização criminosa.

Como vê a atividade do jogo do bicho atualmente?

O jogo do bicho vive uma fase muito parecida com aquela que resultou na formação da cúpula. Até o final dos anos 1970, havia uma disputa territorial entre os bicheiros com muitos homicídios, para garantir a exploração da jogatina. Eles perceberam que a guerra prejudicava os negócios e, então, fizeram um acordo que criou a cúpula. A atividade se expandiu. A mudança de geração que ocorre hoje, com a morte de bicheiros como Fernando Iggnácio, lembra muito essa fase antiga.

O que a sociedade pode esperar do MPRJ a partir do dia 17, quando o senhor assume o cargo de procurador-geral de Justiça?

A ideia é qualificar a investigação direta do Ministério Público e tornar as denúncias mais robustas para uma acusação eficaz. Hoje, vivemos em um estado com problemas estruturais muito graves, seríssimos, em que a insegurança pública preocupa a todos.

Insegurança?

Já não falamos mais em segurança. Vivemos em um ambiente de insegurança, que não se deve, eu diria, à ação ou à omissão do Estado apenas. O Estado cresceu muito, empobreceu, e a criminalidade passou, gradativamente, a dominar territórios. Isso é muito ruim. O Rio está dividido geograficamente em áreas dominadas por milícias, tráfico e até por consórcios entre milicianos e traficantes. Atuei na primeira investigação contra milicianos, que resultou nas condenações dos irmãos Natalino e Jerônimo Guimarães, da Liga da Justiça, a primeira milícia do Rio.

Pretende investir em tecnologia?

Sim, vou recriar alguns laboratórios descontinuados ao longo do tempo, como os de lavagem de capitais e crimes cibernéticos. Também vou inaugurar um núcleo específico e dotar os promotores, com recursos técnicos que permitam uma investigação mais profunda. Quero priorizar, na área criminal, a investigação patrimonial, seguir o rastro do dinheiro.

Haverá algum grupo para investigar as bets ilegais, uma forma de lavar dinheiro?

Bilhetes premiados de loteria, por exemplo, também servem para lavar dinheiro. A imaginação humana não tem limites, especialmente quando voltada para o crime. No mundo cibernético, temos visto golpes e fraudes que demandam planejamento complexo. O MP precisa dar uma resposta firme a isso.

Quais serão as prioridades?

O objetivo é resgatar a importância do Ministério Público no enfrentamento da criminalidade. O Gaeco será mantido e continuará com foco no combate ao crime organizado. A promotora Letícia Emile, que atuou na investigação dos homicídios da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, continuará como coordenadora. O atual coordenador, Fabio Corrêa, que realiza um excelente trabalho, seguirá no Gaeco como subcoordenador. Além disso, criarei outros grupos especializados, como um voltado exclusivamente à segurança pública, pois o MP não pode se omitir ou adotar uma posição de espectador.

Que grupos serão criados?

O Gaeco, que já existe, com foco em milícias, tráfico e jogo do bicho; o Gaema, que atuará na proteção ao meio ambiente e no combate à ocupação irregular do solo urbano; e o grupo voltado à segurança pública. O Gaeco ficará subordinado diretamente a mim.

A delação do ex-policial Ronnie Lessa, assassino confesso de Marielle Franco e Anderson Gomes, resultou em outros inquéritos que estão sob sigilo. Como está o andamento deles?

Não posso entrar em detalhes. O que posso adiantar é que, além da Letícia Emile, no Gaeco, a promotora Simone Sibílio estará comigo, tanto no apoio técnico aos promotores criminais quanto na formulação de políticas institucionais na área penal. Os nomes de Letícia e Simone são muito simbólicos (as duas atuaram no início do caso Marielle).

Como procurador, o que mais incomoda o senhor no Rio?

O que incomoda o cidadão: a insegurança, a desordem urbana, os baixos níveis de civilidade e a banalização da violência. Recentemente, tivemos casos absurdos, como o da jovem baleada no carro em Duque de Caxias e a senhora atingida por bala perdida enquanto tomava sol em um condomínio na Zona Oeste. A violência está cada vez mais banalizada, e isso precisa mudar.

Como o MP pode atuar nessas questões?

Pretendemos nos aproximar dos órgãos de segurança pública do estado, trabalhar em parceria quando possível e realizar investigações diretas quando necessário. O MP não pode se omitir.

Na sua gestão, haverá combate à corrupção policial?

Sim. A maioria dos policiais é de profissionais sérios, mas precisamos coibir desvios de conduta que comprometam a segurança pública. Não pode haver mistura entre polícia e bandido. Polícia é polícia. Bandido é bandido.

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