Ricos esgotam em 10 dias teto anual de emissões de CO2; pobres levam 3 anos

Já é sabido que, no capitalismo, a população mais pobre é que paga a conta do luxo e dos privilégios dos mais ricos. Mas, o que muita gente não se dá conta é que nessa equação de desigualdades entram também as emissões de gás carbono, um dos principais responsáveis pela crise climática. Segundo relatório lançado nesta sexta-feira (10) pela Oxfam, o 1% da população mais abastada do mundo esgota seu limite anual de emissões de carbono em apenas dez dias.

Já a metade mais pobre da população levaria quase três anos (1.022 dias) para atingir o mesmo nível de emissões. Ainda de acordo com o documento, para limitar o aquecimento global a 1,5°C, o segmento mais rico precisaria reduzir suas emissões em 97% até 2030.

O limite anual de emissões aplicado é estabelecido tendo como base o orçamento global de carbono, que é a quantidade máxima de CO2 que pode ser emitida sem ultrapassar o aquecimento de 1,5°C.

Este limite de aumento da temperatura — que não foi cumprido — foi estabelecido em 2015 pelo Acordo de Paris como forma de buscar estancar o processo de aquecimento, levando em conta os níveis pré-industriais. Nesta sexta-feira (10), a ONU confirmou 2024 como o ano mais quente já registrado, com cerca de 1,55°C acima dos níveis pré-industriais.

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Na avaliação de Nafkote Dabi, líder de Política de Mudanças Climáticas da Oxfam Internacional, “o futuro do nosso planeta está por um fio. Apesar da urgência, os super-ricos continuam desperdiçando as chances da humanidade com estilos de vida extravagantes, investimentos poluentes e influência política nociva. Isso é um roubo puro e simples: uma pequena elite está roubando bilhões de pessoas de seu futuro para alimentar sua ganância insaciável”.

Ou seja, os mais endinheirados jogam para toda a população global, mas em especial aos mais pobres, a conta de seu estilo de vida de alto consumo. Afinal, ainda que todos soframos com as consequências do aquecimento global, são as populações mais carentes as que ficam mais vulneráveis aos seus efeitos.

Crise climática e pobreza

De acordo com a ONU, as mudanças climáticas também aumentam os fatores que levam as pessoas à pobreza e que as mantêm nessa situação. “Inundações podem assolar favelas urbanas, destruindo casas e meios de subsistência. O calor pode dificultar o trabalho ao ar livre. A escassez de água pode afetar a agricultura”, aponta.

Ainda de acordo com a organização, somente entre 2010 e 2019, eventos relacionados ao clima provocaram o deslocamento estimado de, em média, 23,1 milhões de pessoas por ano, deixando muitos ainda mais vulneráveis à pobreza.

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Episódios de calor extremo, enchentes e incêndios, que são alguns dos principais efeitos na natureza do aquecimento podem reduzir em aproximadamente 19% a renda global apenas nos próximos 26 anos, ainda segundo a ONU.

Nesse cenário, cabe destacar outro dado trazido pelo estudo da Oxfam: até 2050, as emissões do 1% mais rico podem levar a perdas agrícolas suficientes para alimentar 10 milhões de pessoas anualmente no Leste e Sul da Ásia. Além disso, 80% das mortes por calor extremo ocorrerão em países de baixa e média-baixa renda, sendo 40% delas no Sul da Ásia.

Ricos devem pagar conta

Para tentar frear esse processo e tornar menos injusta essa equação, a entidade defende a criação de impostos sobre renda e riqueza do 1% mais rico; a aplicação de tributações punitivas sobre bens de luxo e a regulamentação de corporações para cortar emissões.

Além disso, propõe aumentar o financiamento climático para países do Sul Global, que sofrem os piores impactos. Apesar de promessas de US$ 300 bilhões anuais, a dívida climática dos países ricos já chega a US$ 5 trilhões, segundo a entidade.

Com informações da Oxfam

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