De olho na Faria Lima, este russo criou um Uber de luxo com carros blindados

Pegar um Uber em 2024 é uma experiência bem diferente do que era há uma década. Quando o aplicativo chegou ao Brasil, o serviço era quase luxuoso, com motoristas de terno, água e balas no carro.

Ao longo dos anos, o sucesso do formato deu lugar à flexibilidade, adaptando-se a um público maior e mais diverso — tanto para o motorista quanto para o cliente.

Agora, uma startup brasileira quer resgatar parte dessa essência com um foco total na segurança: a Rhino.

Criada por Daniil Sergunin, um executivo russo que se mudou para o Brasil em 2020, a Rhino é especializada em transporte por carros blindados. A ideia surgiu da própria experiência de Sergunin ao chegar ao país. Como boa parte dos turistas, o russo logo foi alertado pelos amigos locais a tomar cuidado nas ruas paulistas.

“Meus amigos locais foram unânimes: eu precisava de um carro blindado. Não sabia nem o que era, mas logo percebi que a segurança era uma preocupação constante em São Paulo”, diz. Dados da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo mostram que 576 mil casos de furto e 133 mil casos de roubo de veículo foram registrados no estado em 2023.

Quando chegou ao Brasil, Sergunin liderava operações de uma multinacional no agronegócio. O russo era responsável pela expansão da empresa na América Latina, o que demandava deslocamentos frequentes: idas e voltas para cafés, aeroportos, hotéis e salas de reunião.

Viajando pela cidade, não demorou para Sergunin perceber que, quando o assunto era segurança, havia uma oportunidade a ser explorada no mercado de mobilidade urbana. Em janeiro de 2023, Sergunin fundou a Rhino com o colega Alexander Karbankov, que focou na parte de tecnologia, para oferecer frotas de carros blindados. De lá para cá, conquistaram 170 mil usuários cadastrados.

Recentemente, a Rhino levantou R$ 18 milhões em rodada Seed e outros R$ 10 milhões em investimento de mídia. Os recursos serão usados para marketing, expandir a frota e atrair novos clientes, especialmente no setor corporativo.

Guiado pela segurança

Os veículos da Rhino são todos blindados no nível III-A, capazes de resistir a disparos de armas de fogo. Cada carro passa por inspeções diárias rigorosas antes de sair para as ruas, e o processo de seleção dos motoristas é igualmente criterioso: mais da metade dos candidatos não é aprovada, segundo Sergunin.

A jornada de quem dirige começa na base operacional da Rhino, onde supervisores verificam a limpeza dos carros e as condições dos motoristas. Qualquer irregularidade, como sintomas de gripe ou vestimenta inadequada, impede que o motorista inicie o turno.

Os motoristas também são pagos por hora, algo raro no mercado. “Isso garante estabilidade financeira e elimina a pressão para aceitar corridas sucessivamente. Eles podem se concentrar em oferecer um serviço excepcional”, afirma o fundador. O valor, porém, não foi revelado.

Um modelo diferenciado

A experiência do cliente é desenhada para “superar os padrões do mercado”. Os veículos oferecem ar-condicionado sempre ligado, carregadores para diferentes dispositivos e, em alguns casos, motoristas bilíngues para atender executivos e visitantes estrangeiros. “Os detalhes importam”, diz o executivo russo.

Atualmente, a Rhino concentra sua operação em uma área prioritária de São Paulo, que abrange bairros nobres como Vila Nova Conceição, Itaim Bibi, Pinheiros, Jardins e Cidade Jardim. Nessa região, a startup garante um tempo de espera de 5 a 7 minutos para os clientes.

É possível agendar corridas em áreas fora da zona prioritária. Assim, evita o tempo de espera. O cliente só não consegue fugir do preço salgado, cujo valor ultrapassa o de aplicativos como Uber e 99.

A EXAME testou um trecho de 15 minutos de distância dentro da zona permitida da Rhino e pagou R$ 65. O valor subiu para R$ 136 quando o destino foi alterado para fora desses bairros, numa zona há cerca de 30 minutos de distância. Nos aplicativos da concorrência, as mesmas corridas ficaram por volta de R$ 17 e R$ 32, respectivamente.

Não é à toa, então, que os bairros escolhidos para começar a operação da Rhino são aqueles que ficam em volta da Faria Lima. Apelidada de “condado”, a região abriga as sedes de gigantes do mercado de capitais e do mundo corporativo. Ou seja, a clientela é aquela disposta a gastar extra mais por uma viagem mais segura e “luxuosa”.

Até por isso, uma das estratégias para garantir o crescimento em São Paulo tem sido apostar no mercado B2B, atendendo empresas como Vivo, Housi, Urban Science e Azul Linhas Aéreas.

Os planos de expansão para outras cidades já estão em andamento. A empresa possui mais de 30 mil pessoas na fila de espera para o Rio de Janeiro, onde pretende começar a operar em 2025. Futuramente, a meta é alcançar outras capitais brasileiras e grandes cidades da América Latina, como Cidade do México e Bogotá.

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