Howard Marks volta a se preocupar com uma bolha 25 anos depois. A diferença é que hoje tudo é tech

Quando se olha para o desempenho do S&P 500 e das principais companhias de tecnologia dos Estados Unidos nos últimos anos, fortemente puxados pelo frenesi causado pelo advento da inteligência artificial (IA), invariavelmente surge a pergunta: estamos diante de uma bolha?

Esse é o tema do mais recente memorando escrito por Howard Marks, cofundador da Oaktree Capital, gestora que conta atualmente com US$ 205 bilhões. Para ele, existem muitos paralelos em relação ao que foi visto em episódios passados com a situação atual (que guarda algumas peculiaridades).

Publicado na terça-feira, 7 de janeiro, o aclamado gestor volta a um tema que abordou há 25 anos, a bolha que se formava no mercado em torno das ações de tecnologia, internet e e-commerce. Na ocasião, ele falou da irracionalidade que tomava conta dos investidores em torno desses temas e sua insustentabilidade, algo que rapidamente se mostrou acertado.

Agora, com muitos temendo paralelos com aqueles tempos, Marks voltou ao tema (algo que já tinha abordado em evento a investidores brasileiros no ano passado), elencando alguns desenvolvimentos que exigem cautela e atenção.

Um deles tem a ver com o otimismo que tem prevalecido nos mercados desde o final de 2022. Marks destaca que o S&P 500 registrou altas de 26% e 25% em 2023 e 2024, respectivamente, movimento poucas vezes visto na história.

Em tempos de bolha, o mercado se mostra extremamente otimista. Especialmente quando se tratam de novidades, como foi o caso no começo dos anos 2000, com o surgimento das primeiras empresas ligadas à internet, e agora, com a IA.

E aí surge o chamado FOMO, fear of missing out, o “medo de ficar de fora”, resultando num comportamento irracional por parte dos investidores, que pode vir acompanhado de uma adoração acrítica dessas empresas e das tecnologias que estão trazendo ao público. Para Marks, mais do que um cálculo quantitativo, uma bolha é uma questão psicológica.

“As bolhas estão invariavelmente associadas a novos desenvolvimentos”, escreveu Marks. “Se atentar à história [de algum ativo] pode servir como uma amarra, mantendo um grupo fundamentado em terra firme. Mas quando algo é novo, o que quer dizer que não tem história, então não há nada para moderar o entusiasmo.”

Segundo o gestor, o entusiasmo sendo aplicado na atual novidade, a IA, e a extensão desse entusiasmo para outras áreas da indústria da tecnologia, é um fator para se olhar com atenção.

Marks destaca também o valuation acima da média das empresas do S&P 500 e o fato de muitas companhias estarem sendo negociadas a múltiplos maiores do que seus pares em outras partes do mundo.

Esse ponto casa com outro sinal levantado por Marks, da impressão de que as companhias do grupo das Magníficas Sete – Apple, Microsoft, Alphabet, Amazon, Nvidia, Meta e Tesla – continuarão sendo bem sucedidas por muitos anos, como apontam os múltiplos em que são vendidas. Ele cita o caso da Nvidia, que apresenta múltiplo na casa de 30 vezes.

Marks afirma que perenidade não é algo simples de se obter, especialmente no ramo da tecnologia, em que novos nomes podem superar muito rapidamente os incumbentes do presente. Ele lembra os casos de Xerox, Kodak e Polaroid, que já foram grandes nomes do S&P 500 e hoje não fazem parte do índice.

“Nas bolhas, os investidores tratam as empresas líderes – e pagam pelas suas ações – como se essas empresas certamente permanecerão líderes durante décadas. Alguns sim e outros não, mas mudanças parecem ser mais a regra do que a perenidade”, diz ele.

Contrapontos

Apesar de ver questões que o preocupam, Marks destacou alguns contrapontos. O primeiro é que o P/E (preço sobre o lucro, na sigla em inglês) do S&P 500 está “alto, mas não insano”. “Os mercados, embora caros e talvez ‘espumosos’, não me parecem malucos”, diz trecho do memorando.

O segundo contra-argumento de Marks é que as Magníficas Sete são “empresas incríveis”, o que pode justificar múltiplos elevados. Segundo ele, são empresas de escala, dominantes em seus mercados e apresentam altas margens.

“E como os seus produtos se baseiam mais em ideias do que em metal, o custo marginal de produção de uma unidade adicional é baixo, o que significa que a sua rentabilidade marginal é invariavelmente elevada”, diz.

Outro ponto que Marks levanta é que ele ainda não ouviu a frase “não existe preço muito alto”. Essa frase volta para a questão da psicologia e do FOMO.

“Sempre que ouço ‘não há preço demasiado elevado’ ou uma das suas variantes – um investidor mais disciplinado poderia dizer: ‘claro que há um preço demasiado elevado, mas ainda não chegámos lá’ – considero que é um sinal claro de que uma bolha está se formando”, diz trecho do memorando.

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