O Agro na CES 2025: de Nvidia a John Deere, feira de tecnologia projeta o futuro do agro

Todo aficcionado por tecnologia sonha em caminhar pelos estandes e acompanhar os eventos corporativos da CES, maior evento da indústria de eletrônicos do mundo.

Realizada em Las Vegas, nos Estados Unidos, a feira abre o calendário global de grandes eventos de tecnologia e as maiores indústrias de equipamentos e produtoras de software fazem dela o palco preferencial para seus lançamentos e projeções do futuro.

Já há alguns anos a interseção do agro com a tecnologia também acontece na CES e, por isso, os olhares do campo também se desviam para Las Vegas nesse período.

Na edição de 2025,ela estava presente até em momentos menos óbvios. Nesta terça-feira, por exemplo, o grande destaque ficou para a apresentação dos lançamentos da Nvidia, trilionária fabricante de chips e uma das estrelas da feira.

Em painel apresentado pelo seu CEO, Jensen Huang, a companhia revelou novos produtos que, mesmo sem foco no setor agrícola, chamaram a atenção de quem atua no desenvolvimento de novas tecnologias para o campo, pelo potencial de revolucionar processos de desenvolvimento em agtechs e grandes companhias do segmento.

Na opinião de José Damico, CEO da startup SciCrop, os lançamentos da Nvidia podem ajudar tanto na análise de dados e até em transformações profundas no futuro, como veículos autônomos e robótica.

Huang, da Nvidia, destacou a possibilidade de utilizar uma “inteligência artificial física” para criar simulações precisas do mundo real. Damico acredita que essa nova fase dos gêmeos digitais, que geralmente são associados a softwares, podem entrar no mundo dos hardwares e ajudar as agroindústrias.

“Agroindústrias já utilizam os gêmeos digitais para replicar estruturas de controles internos de produção e verificar a produção em diversas esteiras. Com essa nova tecnologia, é possível montar esteiras e tubulações em modelos 3D, como se montássemos peças de lego”, diz.

Um lançamento da Nvidia que chamou a atenção de Damico foi as novas placas de vídeo GeForce. Com o preço de US$ 549 lá fora, ele vê que essa nova tecnologia pode melhorar serviços de nuvem, análises climáticas e até mesmo plataformas de trading de commodities. “No Brasil, para montar uma placa com essa capacidade estimo que gastaríamos R$ 9 mil”.

Os olhos de José Damico brilharam, porém, quando Huang, da Nvidia, falou sobre a plataforma Cosmos. Trata-se de uma plataforma de modelos projetada para ajudar desenvolvedores de IA a construir e acelerar o desenvolvimento de novos sistemas, especialmente para robótica e veículos autônomos.

Jensen Huang sugeriu, durante a CES, que o Cosmos pode acelerar drasticamente o tempo necessário para treinar robôs inteligentes e carros autônomos avançados.

No Agro, Damico vê uma possibilidade de empresas de máquinas e implementos acelerarem a automatização de tratores nos próximos anos com essa funcionalidade.

Na prática, o Cosmos pega uma base com centenas de milhares de dados sobre robótica em diversas indústrias. Com isso em mãos, uma empresa do agro que começar a captar imagens de tratores em funcionamento, pode juntar as duas tecnologias e fazer com que os tratores funcionem de forma automatizada.

“Isso abre uma janela de oportunidade, especialmente para o Brasil que é o país com maior número de safras extensivas por ano, permitindo a aceleração de treinamento de novos tratores autônomos, bem como diversos maquinários controlados remotamente por um único operador”, afirmou Damico, da SciCrop.

John Deere liga suas máquinas na CES

Máquinas autônomas foram também os destaques da montadora John Deere, tradicional frequentadora da CES e que utilizou a feira para trazer alguns lançamentos tecnológicos.

A companhia americana anunciou que irá expandir a aplicação da tecnologia de automação para tratores usados em pomares, caminhões da linha amarela (construção) e equipamentos de jardinagem.

“Ampliar o portfólio de tecnologias da John Deere para permitir que mais máquinas operem de forma segura e autônoma não beneficiará apenas nossos clientes, mas toda a cadeia responsável por fornecer alimentos, combustíveis, fibras, infraestrutura e jardinagem”, afirmou, em nota, Jahmy Hindman, vice-presidente de Tecnologia da John Deere.

Um dos tratores que ganha versão automatizada é o 5ML, que atua principalmente em pomares. A ideia de usar a tecnologia em tratores menores é para facilitar operações de pulverização, que tendem a ser repetitivas e aliviar a escassez de mão de obra especializada.

O maior trator da John Deere, o 9RX, também ganhará uma versão sem necessidade de pilotos no cockpit. Na jardinagem, a companhia mostra na feira um cortador autônomo movido a baterias elétricas.

Justin Roberts, especialista no setor de máquinas, acredita que todos esses serviços mostram um apetite crescente da John Deere em atuar num mercado de serviço baseado em assinatura.

Em artigo publicado no site Agriland, Roberts diz que para que as funcionalidades autônomas sejam utilizadas em sua máxima eficiência, as máquinas devem estar conectadas no John Deere Operations Center, a plataforma baseada em nuvem da empresa.

Na plataforma, os operadores têm acesso a vídeos ao vivo, imagens, dados e métricas, além da capacidade de ajustar vários fatores, como velocidade.

“Isso pode mover o modelo de negócios da John Deere para um fluxo de receita recorrente em vez de simplesmente vender itens de capital.

Embora possa haver muitas vantagens para o cliente nisso, ainda é inegável que a gestão e a propriedade das máquinas utilizadas nas operações agrícolas não estarão mais nas mãos do agricultor, o que pode ser um obstáculo para muitos”, opina Justin Roberts.