Dólares de Abu Dhabi engordam unicórnio Inari, de sementes desenvolvidas com IA

Depois de encherem os bolsos, alguns unicórnios – termo usado pelo mercado para denominar startups avaliadas em mais de US$ 1 bilhão – perdem o brilho e deixam de voar como nos tempos em que estavam mais leves.

Mesmo com investidores de peso por trás, muitos acabam atravessando dificuldades pelo caminho, como aconteceu, por exemplo, com a Plenty Unlimited, umas das pioneiras no segmento de agricultura vertical. Depois de atingir mais US$ 1,9 bilhão em valor de mercado, uma nova rodada de captação, anunciada esta semana, rebaixou em mais de 90% o valor da companhia.

Há outras, entretanto, que parecem não perder o poder de encantar grandes fortunas. A agtech Inari Agriculture, que utiliza Inteligência artificial e tecnologia de edição genética no desenvolvimento de sementes para grandes culturas, é o mais recente caso nesse sentido.

Em janeiro do ano passado, a startup foi avaliada em US$ 1,65 bilhão, após concluir uma rodada de investimento de US$ 103 milhões, com a participação de grandes nomes como a CPP Investments, grande fundo de pensão do Canadá.

Passado um ano, o valuation da Inari engordou ainda mais. Nesta terça-feira, dia 7 de janeiro, a startup anunciou que levantou mais US$ 144 milhões, elevando a avaliação da empresa para US$ 2,17 bilhões.

A startup terá novos investidores, como o fundo soberano de Abu Dhabi, o Abu Dhabi Investment Authority, que vai se juntar aos que já haviam entrado na startup, como Hanwha Impact, NGS Super e fundo de pensão do estado americano de Michigan, um dos maiores do gênero nos Estados Unidos.

A Inari tem sido, ao longo dos anos, recorrente em grandes captações. A do ano passado, de US$ 103 milhões, foi uma rodada do tipo série E, estágio mais avançado de captação em que empresas já maduras seguem buscando aportes.

Anteriormente, a startup havia passado por outras sete rodadas de investimentos, que começaram no fim de 2016, com um investimento inicial do tipo série A, de US$ 7,3 milhões, segundo informações do Nasdaq Private Market.

“Esta arrecadação de fundos valida nosso empolgante progresso no desenvolvimento de produtos e na entrada na comercialização, nos colocando em uma posição financeira sólida para aumentar ainda mais e fornecer soluções impactantes que beneficiem nossos clientes de sementes e o planeta”, afirmou à Bloomberg o CEO da Inari, Ponsi Trivisvavet.

A companhia é focada no desenvolvimento de sementes a partir da edição genética multiplex, que permite fazer alterações de vários tipos de genes ao mesmo tempo, podendo ligar ou desligar parte do material genômico ou ainda fazer alterações internas.

Nesse processo, não há a inserção de novas sequências genéticas diferentes do material original, o que diferencia a edição genética da transgenia, em que o DNA é alterado com a inserção de novas sequências de genes.

Dessa forma, a Inari consegue desenvolver variedade de milho, soja, trigo e outros grãos com características genéticas que possibilitam que as culturas precisem de menos água, terra e fertilizantes ao longo de seu desenvolvimento.

Sediada no estado americano de Massachusetts, a Inari foi criada pela Flagship Pioneering, ecossistema de companhias de biotecnologia que já fundou mais de 100 empresas e é dona da Moderna, farmacêutica que ficou mais conhecida por desenvolver uma vacina contra a covid-19.

A Flagship também tem, entre suas investidas, a Indigo Ag, uma startup norte-americana que atua no Brasil há cinco anos e é focada na melhoria da produtividade do solo por meio de tecnologia agrícola, e a Invaio, agtech de biotecnologia que fechou um acordo no começo de 2024 com a Louis Dreyfus Commodities (LDC), para combater o greening, doença que atinge os laranjais, nos pomares.

No passado, a Indigo chegou a ser avaliada em US$ 3,2 bilhões, o maior valuation para uma agtech já registrado no mundo – mas também sofreu seguidos rebaixamentos e em setembro de 2023 tinha valor estimado em US$ 250 milhões.

O trabalho da Inari despertou a atenção de investidores e também da concorrência. Há dois anos, a companhia se viu envolvida em um processo judicial na Justiça americana em que foi acusada de pirataria.

A gigante de biotecnologia e insumos agrícolas Corteva entrou com uma ação no tribunal de Delaware, nos Estados Unidos, acusando a startup de “conspirar para roubar sementes de alta tecnologia da empresa”.

A Corteva justificava a ação alegando que a Inari havia utilizado um agente terceirizado para obter sementes desenvolvidas com tecnologia protegida por patente e que havia exportado o produto ilegalmente para a Europa, modificando as características genéticas das sementes e que estava tentando patentear nos Estados Unidos os produtos com as alterações.

O processo continua tramitando no Judiciário americano. Em agosto do ano passado, um juiz dos Estados Unidos, John Murphy, se recusou a arquivar o processo, ao concluir que a Inari não conseguiu provar que poderia desenvolver plantas geneticamente modificadas a partir das sementes da Corteva sem violar a legislação americana de propriedade intelectual.

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