Casal que fez doação para família envenenada no PI teme represálias: ‘deixei de mexer nas redes sociais’; laudo descarta veneno em peixe


Marido e mulher, que doam cestas básicas para famílias pobres há cinco anos, falaram ao Fantástico sob a condição de anonimato. Perícia apontou que veneno semelhante ao “chumbinho” estava presente no arroz preparado pelos familiares internados. A tragédia da família envenenada no Piauí
O casal que doou uma cesta básica e peixe manjuba para a família internada com sintomas de envenenamento em Parnaíba, no litoral do Piauí, teme possíveis represálias que pode sofrer devido à repercussão do caso. O laudo do Instituto Médico Legal (IML) apontou a presença de veneno no arroz preparado pelos familiares, e não no peixe (entenda abaixo). Assim, o marido e a mulher não são mais considerados suspeitos pela polícia.
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Ainda assim, desde a quarta-feira (1º), dia em que oito pessoas da mesma família passaram mal e foram hospitalizadas, o casal precisou lidar com comentários extremos nas redes sociais. Alguns diziam que eles mereciam ser esquartejados, de acordo com a esposa.
“Deixei de mexer nas redes sociais só pra não ver comentário. A gente fica ruim da cabeça. Tá complicado dormir com essa situação”, lamentou o marido, que conversou com o Fantástico sob a condição de anonimato.
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Casal que fez doação para família envenenada no Piauí teme represálias
Elbert Ribeiro/TV Clube
O receio do casal é fundado no que aconteceu em um caso semelhante na mesma família: a casa da acusada de entregar cajus envenenados a dois meninos de oito e sete anos foi incendiada pelos vizinhos no dia da prisão dela, em agosto de 2024.
Segundo o marido, ele e a mulher fazem doações de cestas básicas para famílias pobres de Parnaíba há cinco anos. No Réveillon do ano passado, uma associação de pescadores os procurou e contribuiu com cerca de 30 kg de peixe manjuba.
“Os 30 kg de peixe foram doados para várias famílias no mesmo dia. A associação doa mais de 50, 100 kg para vários órgãos que fazem ações sociais no fim do ano e ninguém passou mal. Aqui mesmo a gente comeu manjuba, quem trabalha pra gente comeu e não passou mal”, destacou.
Até a publicação desta reportagem, três pessoas da família morreram e duas continuam internadas. Outras quatro receberam alta (saiba quem são as vítimas). Com o resultado do laudo do IML, a polícia passa a investigar o caso como homicídio (leia mais abaixo).
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Linha do tempo
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Elbert Ribeiro/TV Clube
No dia 31, o casal chegou por volta das 19h30 na casa da família no conjunto Dom Rufino. Eles pegaram duas cestas dentro do carro e as entregaram para um homem que se identificou como “avô dos meninos”.
O marido conversou com ele entre 10 e 15 minutos. Depois, perguntou se a família gostaria de receber também o peixe manjuba, que estava em um isopor no carro. De acordo com o doador, os familiares aceitaram e colocaram o peixe em uma sacola antes de levá-lo para a casa.
No dia seguinte, o primeiro de 2025, o casal soube da internação das vítimas e perguntou a outras famílias para quem fizeram doações se estavam bem. Conforme os dois, apenas a família internada passou mal.
“A primeira coisa que a gente fez foi ir à delegacia prestar depoimento. A gente fica assustado com a tragédia, envolve criança. A gente é pai e mãe. [A importância de depor] é deixar tudo claro e dormir tranquilo”, completou o marido.
Substância encontrada no arroz
Laudo confirma envenenamento em almoço de família no Piauí
Reprodução/TV Globo
O laudo do IML apontou que a substância encontrada foi o veneno “terbufós”, da classe dos organofosforados, utilizado como inseticida e nematicida (pragas de plantas).
Ele ataca o sistema nervoso central e a comunicação entre músculos, causando tremores, crises convulsivas, falta de ar e cólicas. Os efeitos aparecem pouco tempo depois da exposição ao veneno, podem deixar sequelas neurológicas e causar a morte.
A substância é a mesma que foi usada para envenenar, em 2024, dois meninos de 7 e 8 anos da mesma família, filhos de Francisca Maria. Os dois meninos comeram cajus contaminados com a substância que foram dados a eles por uma vizinha. A mulher está presa por duplo homicídio qualificado.
Já no peixe que foi servido, nada foi encontrado. A princípio, suspeitou-se que os peixes, tivessem envenenados ou mesmo estragados, mas o exame pericial afastou essa possibilidade, e o casal que doou o peixe à família não é mais considerado suspeito pela polícia.
Agora, a Polícia Civil investiga como o veneno chegou ao baião de dois. “É impossível ter ido parar lá sem intenção de alguém”, comentou o delegado Abimael Silva.
Veneno foi colocado no dia 1º
Três pessoas morrem com suspeita de envenenamento no litoral do Piauí
Montagem/g1
No dia 31 de dezembro de 2024, noite de Réveillon, a família preparou uma ceia para comemorar a virada: carne, feijão tropeiro e baião de dois. Todos comeram, se divertiram e, de madrugada, alguns foram dormir e outros voltaram para suas casas.
No dia seguinte, 1º de janeiro, eles retornaram à casa, e havia sobrado parte do baião de dois.
Pela manhã, um casal que realiza um trabalho social de doação de alimentos passou pela casa e doou para a família parte dos peixes que haviam doado também para outras casas da região.
A família então fritou os peixes e serviu no almoço do dia 1º, para acompanhar o baião de dois. Poucos minutos depois, começaram a sentir os efeitos do envenenamento.
Segundo o delegado, o veneno foi colocado no arroz no dia 1° de janeiro, porque a família comeu o mesmo prato, da mesma panela, na noite de Réveillon.
“No dia 31, a família fez o baião de dois e consumiu, mas ninguém passou mal. Só depois do meio dia do dia 1º começaram a sentir os efeitos”, comentou o delegado.
Com a conclusão dos laudos, os investigadores buscam descobrir quem cometeu o crime: se foi alguém da família ou se outra pessoa entrou na casa sem ser percebido e envenenou o baião de dois.
Entenda o caso
Manoel Leandro da Silva, de 18 anos, e Igno Davi da Silva, de 1 ano e 8 meses
Jornal Nacional/Arquivo pessoal
Ao todo, nove pessoas de uma mesma família passaram mal e foram hospitalizadas na última quarta-feira (1º) após comerem o almoço do dia 1º de janeiro. Três morreram: um bebê de um ano e oito meses, uma criança de três anos e um jovem de 18 anos.
As crianças de três e quatro anos foram transferidas na última sexta-feira (3) para o HUT. A mãe delas, Francisca Maria, segue internada no Heda, em Parnaíba.
Outros dois parentes delas, um homem de 53 anos e uma criança de 11, receberam alta na sexta.
As vítimas são:
Manoel Leandro da Silva, de 18 anos (enteado de Francisco de Assis) – morto;
Igno Davi da Silva, de 1 ano e 8 meses (filho de Francisca Maria) – morto;
Lauane da Silva, de 3 anos (filha de Francisca Maria e irmã de Igno Davi) – morta;
Francisca Maria da Silva, de 32 anos (mãe de Lauane e Igno Davi e irmã de Manoel) – internada em Parnaíba;
Uma menina de quatro anos (filha de Francisca Maria e irmã de Lauane e Igno Davi) – internada em Teresina;
Francisco de Assis Pereira da Costa, de 53 anos (padrasto de Manoel e Francisca) – recebeu alta;
Um menino de 11 anos (filho de Francisco de Assis) – recebeu alta;
Uma adolescente de 17 anos (irmã de Manoel) – recebeu alta;
Maria Jocilene da Silva, de 32 anos – recebeu alta.
Lauane da Silva, de 3 anos, terceira vítima de envenenamento no PI
Arquivo pessoal
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