Industrial global encerra 2024 em queda em meio a expectativa sobre políticas do novo governo Trump

O índice de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) global industrial encerrou 2024 com queda e baixas expectativas para este ano diante das políticas econômicas do segundo mandato de Donald Trump. O presidente eleito dos Estados Unidos promete o recrudescimento de uma agenda protecionista, com efeitos sobre a indústria global.

De acordo com levantamento da S&P Global divulgado na última quinta-feira, 2, em parceria com o JPMorgan, a atividade industrial caiu de 50 pontos, em novembro, para 49,6, no mês passado. Esse é o quinto recuo nos últimos seis meses. O resultado indica contração da indústria mundial, operando abaixo da marca de 50 pontos.

Nos Estados Unidos, a atividade industrial se contraiu pelo sexto mês consecutivo, saindo de 49,7 em novembro para 49,4 em dezembro. Embora o resultado tenha sido mais alto do que o previsto, de 48,3, os EUA encerraram mais um ano de produção abaixo da média no setor industrial.

O baixo desempenho acompanha as promessas de Donald Trump de remodelar a maior economia do mundo por meio de políticas protecionistas, que, segundo ele, colocarão a “América em primeiro lugar”.

A agenda de Trump prevê desregulamentar e desburocratizar a atividade econômica, associando isso a cortes de impostos e a tarifas de importação mais altas.

Se funcionar, atividades de nearshoring – parcerias comerciais com países próximos geograficamente – ou friendshoring – com países aliados – que estavam indo para Índia, México e Vietnã, podem voltar para os EUA, avaliou à EXAME o economista Marcos Troyjo, ex-presidente do New Development Bank, o banco de desenvolvimento do Brics.

“Isso vai potencialmente diminuir a atratividade de outros países que também estão buscando sua revitalização industrial, como é o caso do Brasil”, disse Troyjo.

O relatório Panorama Econômico Mundial (WEO, na sigla em inglês) do Fundo Monetário Internacional (FMI), divulgado em outubro, apontou que as perspectivas de guerras comerciais, como as propostas por Trump, representam uma “ameaça significativa” para o comércio e a economia global. Os economistas do fundo afirmam que barreiras comerciais podem impactar o crescimento do PIB mundial.

“Essas medidas [tarifárias] podem ser danosas para a economia global e para os países que implementarem essas políticas”, disse Pierre-Olivier Gourinchas, economista-chefe do FMI.

Indústria brasileira vê enfraquecimento da demanda

O setor industrial brasileiro encerrou 2024 com 50,4 pontos em dezembro. Em novembro, a indústria havia registrado 52,3 pontos. A leitura de dezembro foi igual à de agosto, quando o índice atingiu a menor marca do ano.

Apesar de se manter acima da linha de 50 pontos, que separa a contração da expansão, o resultado reflete um enfraquecimento na demanda, tanto doméstica quanto internacional, e a desvalorização do real.

O relatório da consultoria aponta que o setor industrial brasileiro continuou crescendo porque a resiliência da demanda sustentou novos aumentos no volume de pedidos, na produção e no nível de emprego, mas a taxas mais tímidas.

Isso ocorreu devido à redução do poder de compra das famílias e à queda nos pedidos internacionais, principalmente de clientes na Ásia, no Mercosul e nos Estados Unidos, acrescenta a S&P Global.

Outro indicador de retração foi a redução nas compras de insumos, que caiu pela primeira vez em 12 meses. Estoques de matérias-primas e produtos semiacabados recuaram de forma significativa, enquanto os estoques de bens finais tiveram queda moderada, destaca o documento.

Ainda segundo a consultoria, a desvalorização do real frente ao dólar intensificou a pressão sobre os custos de commodities, alimentos e fretes, levando a uma aceleração da inflação de insumos.

A S&P Global conclui que, apesar do cenário desafiador, 63% dos fabricantes consultados demonstraram otimismo com este ano. A palavra final, contudo, deve ser a de cautela, já que a indústria brasileira, segundo o relatório, inicia 2025 com bases mais frágeis.

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Europa e Ásia

O PMI industrial da zona do euro, por exemplo, recuou de 45,2 em novembro para 45,1 em dezembro, ficando ligeiramente abaixo tanto da prévia quanto da estimativa de 45,3 pontos,

No dia anterior, a S&P Global, em parceria com a Caixin, também havia mostrado resultado semelhante para a China, onde o PMI industrial caiu para 50,5 pontos no mês passado, frente a 51,5 em novembro.

O resultado na China ficou novamente abaixo das expectativas de analistas consultados pela FactSet, que projetavam avanço do indicador para 51,7 no mês passado. Esse desempenho levou ao pior primeiro dia do ano desde 2016 para as ações chinesas, impactando todas as bolsas da Ásia, que fecharam em queda.

Embora tenha havido alguns sinais de recuperação em Taiwan e no Sudeste Asiático, os PMIs do setor industrial para dezembro mostraram uma desaceleração no continente como um todo, incluindo a Coreia do Sul.

O relatório da S&P Global destacou que “quatro dos cinco componentes do PMI estavam em níveis consistentes com uma deterioração nas condições operacionais gerais”, referindo-se às quedas na produção, novos pedidos, emprego e estoques de compras.

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